Capítulo 18 - Você Nem Imagina

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AVISO: Esse capítulo contém uma cena de abuso, ainda que não seja pesada. Se você se incomoda com cenas assim ou elas têm algum efeito de gatilho para você, pule a seção em que ela ocorre (está avisado durante o capítulo!).


	Qualquer pessoa em Ashland saberia listar as vantagens de ser da realeza

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Qualquer pessoa em Ashland saberia listar as vantagens de ser da realeza. Talvez, qualquer pessoa do mundo. As mais óbvias seriam as primeiras a serem ditas: poder e dinheiro. Um castelo onde morar, vestidos para usar e o privilégio de ter um título sagrado capaz de abrir muitas portas. Uma vida feita de caprichos, influências e responsabilidades. Ser parte da família real poderia ser considerado um sonho comum entre todos os habitantes de qualquer monarquia, nem que fosse somente pela fama que vinha com essa posição.

E eu não os julgava. Eu entendia. Nunca tive que sonhar em ser princesa, quando tinha nascido nesta posição. Mas isso tampouco me fez cega para meus privilégios. Eu os apreciava todos. Menos um. O favorito de meu pai.

Ele nunca usou as palavras exatas, - eu nem acreditava que conseguiria se tentasse, - mas sabia que era por causa de minha mãe. Para ele, a melhor parte de ser rei era que quase nunca precisava ficar sozinho. Quase nunca podia ficar sozinho. Sempre tinha outra coisa para resolver, outra pessoa para conhecer, outro assunto para discutir. Eu mesma, quando não precisava focar todas minhas energias em encontrar um marido, vivia tão ocupada que às vezes sentia que precisava me vestir pelos corredores, entre reuniões ou visitas. E isso, apesar de ter servido de consolo e distração para meu pai depois de ele ter perdido sua maior companheira, me incomodava muito. Ficar sozinha, para mim, era um luxo que eu cobiçava mais do que ouro.

Era parte de minha personalidade, minha essência. Passar muitas horas com outras pessoas sem tirar alguns minutos sozinha fazia meu humor oscilar, contribuindo para momentos de explosão de vez em quando que pesavam bastante para minha reputação. Minhas férias, que costumavam ser de algumas semanas por ano, eram feitas de nada além de silêncio e alguns livros. Esse era, afinal, meu jeito de pensar, racionar e respirar. E eu costumava buscar pequenos intervalos sozinha no meu dia a dia, como ar depois de muito tempo embaixo d'água.

Mas, ao assistir Marc se distanciar de mim, senti como se estivesse me afundando. Ali, em um lugar que eu não conseguiria ao menos apontar no mapa, a última coisa que eu queria era ficar sozinha. A cada passo que ele dava despreocupadamente para longe de mim, maior era minha vontade de correr até ele. Ainda que não quisesse admitir que as tinha criado, senti minhas expectativas se despedaçarem dentro de mim como vidro. Eu esperava tolamente que ele fosse ficar do meu lado, que fosse me tratar como uma amiga, me apresentar a pessoas, se preocupar pelo menos um pouco comigo.

Assim que ouvi os carros acelerando para exibir seus motores, percebi que só tinha esperado isso por causa de uma desvantagem de ser da realeza e de ter tanto privilégio. Eu tinha me acostumado a ter todos se preocupando comigo, se interessando pela minha opinião e querendo se aproximar de mim. Marc era a primeira pessoa que eu conhecia que não fazia a menor questão de me conhecer. E isso era doloroso, ainda que embaraçoso de admitir.

A Herdeira do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora