Por alguns minutos, tudo que eu sentia era o vento batendo em meu rosto. As gotas de suor que emolduravam meus olhos secaram, junto com as lágrimas de um momento que eu queria deixar para trás. A música da festa foi dando lugar ao barulho de nossos pés no asfalto, correndo por ruas, virando esquinas, fugindo. O pesadelo que eu quase tinha vivido minutos atrás foi desaparecendo como se fosse feito de fumaça, e eu me deixei aproveitar a sensação de liberdade que correr me proporcionava. Cada pequeno centímetro quente de meu corpo foi se refrescando pelo vento, o contraste entre eles era delicioso, me fazendo querer correr mais rápido, ir mais longe, tudo para tentar chegar o mais perto possível de sentir como se eu pudesse voar.
Foi só quando Marc começou a diminuir seu passo, várias ruas depois, que eu o imitei. E então, depois de parar e me virar para ele, que apoiava as duas mãos em seus joelhos, uma onda de cansaço me bateu.
Eu estava exausta! Parar de correr fez minhas pernas fraquejarem, a adrenalina que me vinha mantendo ativa já se dispersando e deixando espaço para eu perceber todos os lugares que estavam doloridos. Como a minha coxa, que Rafael tinha apertado, ou minhas costas, que bateram contra a parede. Até meus pulsos, minhas mãos, a pele do meu rosto.
Assim que meus joelhos dobraram involuntariamente, me esforcei para chegar até a calçada para não ter que me sentar no meio da rua. Nem sabia em qual direção tínhamos corrido - meu objetivo naquela hora era ser para longe da festa, - mas Marc não parecia preocupado.
Não. Ele estava ocupado percebendo seu próprio cansaço, ainda apoiado sobre os joelhos, sua respiração ofegante. Depois de alguns segundos, durante os quais aproveitei para olhar para as casas à nossa volta e constatar que eram minúsculas e malcuidadas, ele se deu por vencido e sentou onde estava. No asfalto.
Eu ri, percebendo pela minha garganta como estava com sede. "Você sabe que está no meio da rua, né?" Perguntei retoricamente.
Mas ele fingiu olhar para os dois lados, como se fosse a primeira vez que considerava aquela possibilidade. "Ah, é?" Falou, aproveitando para deitar. "Quem diria," completou, perdendo um pouco de sua entonação falsa de surpresa.
Balancei a cabeça para mim mesma, enquanto tentava fingir que não pensava em lhe acompanhar. Não me importava se o asfalto era duro e sujo. Eu estava suja. Minha roupa estava imunda e meu cabelo - o falso e o de verdade - grudava em meu rosto pelo suor. Mas, por mais que minhas pernas não estivessem se contentando em ficarem esticadas como eu estava, ainda estávamos em uma rua.
"Você é louco," falei, ainda que tivesse um pouco de inveja dele por nem se importar o suficiente para pensar naquilo.
Marc se apoiou nos cotovelos para me olhar. "E você é medrosa," rebateu. Apertei meus olhos para ele, indignada. Mas ele só riu. "Não tem perigo, ninguém que mora por aqui tem carro."
Olhei para os dois lados da rua, começando a acreditar nele. Não havia um único carro em uma garagem ou parado no meio fio.
Me levantei, começando a ir até onde estava deitado. "Mas e quem quiser passar por aqui para ir a outro lugar?" Perguntei, me colocando logo ao lado de Marc.
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A Herdeira do Trono
RomanceE se você tivesse que cruzar seu país para uma última chance de se tornar quem sempre foi? Depois de uma vida inteira se preparando para seguir os passos de sua mãe e ser a melhor rainha que Ashland já teve, o futuro da Princesa Lola...