43 - Um Casamento Corpal Mais Atribulado Que Festa De Enterro

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A doutora, Gilda Moliarte, pediu que a aparição fantasmagórica da irmã, Miarina, se posicionasse sobre a poça liquida do androide modelo TX-5000. Disse então a Magatec:

— Iniciaremos agora o Casamento Corpal. Peço que todos permaneçam calados, menos a Miarina que, a partir desse momento, deverá repetir tudo aquilo que eu disser.

— E o que minha irmã mais velha ira dizer? — Quis saber a bruxa fantasmagórica.

— Irei declamar a conjuração que irá fazer com que, teu espirito, se funda ao androide modelo TX-5000.

— Ou seja, você pronuncia a conjuração e, eu, devo repeti-la? É isso?

— Sim querida. Simples assim.

— Então que comece logo essa cerimonia pois, estou morrendo de saudades do meu lar castelinho.

— Que se inicie então o Casamento Corpal. Repita: Eu!

— Eu!

— Miarina coice pum bum treco ruim!

Os olhos da aparição fantasmagórica quase saltaram das orbitas.

— Mas que merda é essa, Gilda Moliarte? Vou ter de repetir essa conjuração tranqueira?

— Sim, meu amor. Se desejar ter um novo corpo cibernético, essa é uma condição "sine qua non".

— O que significa o termo "sine qua nos", irmãzinha de aculturamento esnobe?

— É um termo que vem do latim, possuindo o seguinte significado: "sem o qual não pode ser".

— E porque, raios, não disse logo: "sem o qual não pode ser" ao invés de: "sine qua non"? Porquê de tanta fresculhada? Não vê que estou nervosa, criatura?

— Pois tenha calma e repita tudo o que disser, por mais esdruxulo possa parecer a conjuração do feitiço, entendeu? Não percamos tempo, para que possa voltar logo para teu lar castelinho, ok?

— Vou tentar, mas não prometo.

— Comecemos de novo então. Repita: Eu!

— Eu!

— Miarina coice pum bum treco ruim!

Com esforço sobre humano...

— Miarina coice pum bum treco ruim!

— Que muge coça bagulho emperra breque!

Miarina emudeceu... ficou corada antes de pronunciar tremula...

— Que muge coça bagulho emperra breque!

— Rebordosa dos mamilos muxibentos que arrasta os bicos pela relva!

Podia se ver, pela expressão facial do fantasma, estar ela furiosíssima, soltando fogo pelas ventas.

— Re-rebor-bordosa dos ma-mami...

A explosão demente foi inevitável!

— MAS QUE MERDA DE PORRA MAIS MALDITA É ESSA CONJURAÇÃO DOS INFERNOS?

— Não tenho nada a ver com isso! Sou estou seguindo o script, da conjuração do feitiço.

Possessa, Miarina encarou a irmã emputecida.

— Quem raios criou esse feitiço?

— Foi o Stanislav Dal Grou!

— Stanislav Dal Grou? Está explicado!

— O que tem de tão sinistro nesse Stanislav Dal Grou? — Indagou o gnomo gigante Grilogum, abandonando a mudez.

— CALE ESSA BOCA, CRIATURA! NÃO SE META NA CONVERSA DAS PAVOROSAS IRMÃS BRUXAS! — Vociferou, Miarina.

Atenciosa, a Magatec Gilda Moliarte não deixo o gnomão sem resposta.

— Stanislav Dal Grou foi um grande mago, já falecido. Um gênio na criação de feitiços. Foi considerado o Leonardo Da Vince da feitiçaria. Grande inventor de encantamentos mágicos.

— Por outro lado — interveio Miarina, — era um tremendo de um gozador!

— Porque Stanislav Dal Grou era considerado tremendo um gozador?

A doutora Gilda Moliarte assim respondeu:

— Muito bem-humorado e vivaz, Stanislav Dal Grou tornou-se muito conhecido pela criação de texto de conjurações, cheia de piadas e troças. Sua conjuração mais famosa é a de um feitiço onde, se pode transformar uma mosca num boi zebu, devendo ser assim proferida: Rola pica dá um nó, na cava do cocoricó!

— Realmente, não deixa de ser tragicamente hilário.

— Pois é meu querido...

— Eu não vou dizer essas merdas! — Afirmou a aparição fantasmagórica, teimosa.

— Xi! Fodeu! — Balbuciou a Magademon, Moarina Moliarte.

— Vejo que não tenho outra alternativa... — disse a doutra Gilda apontando o dedo que ostentava o Anel de Condão, proferindo: Burra birra concubina, fantasminha assanhadinha, deixe de ser teimosinha, de sua língua faça a minha!

Um raio amarelado foi expelido do Anel de Condão, atingindo em cheio a cabeça da aparição fantasmagórica que, impactada, silenciou, prostrando-se.

— Você teve a ousadia de enfeitiçar nossa irmã? — Inquiriu Moarina.

— E você via outra solução para a pobre concluir o Casamento Corpal?

— Sob esse aspecto... — teve de admitir...

— Então vamos dar prosseguimento a essa cerimonia ou, ficaremos aqui, até sabe-se lá quanto tempo.

— Verdade, pois também estou eu com saudades do meu lar infernal.

A Magatec Gilda Moliarte chamou a irmã assombração:

— Miarina, vem cá! Agora!

A aparição fantasmagórica obedeceu a ordem sem pestanejar.

— Só enfeitiçada Miarina atenderia um chamado mandão como esse, sem dizer um palavrão — concluiu Moarina, dando um sorrisinho cínico.

Assim que o fantasma da bruxa se posicionou sobre a poça metálica do androide TX-5000, se pôs ela a repetir tudo aquilo que a irmã doutora lhe dizia, zumbidamente obediente. Ao fim da cantilênica conjuração, a poça metálica ganhou vida, erguendo-se do chão, envolvendo o espectro fantasmagórico, a ele se moldando e, findo a cerimonia encantatória, o espirito da Miarina encontrava-se devidamente de posse do seu novo corpo e, ao acordar...

— Pensa que não sei que você jogou um feitiço em mim? Como teve a ousadia de ter perpetrado tal infâmia? — Vociferou, irritadiça.

Inabalável, limitou-se a dizer a Magatec:

— Veja-se no espelho e diga o que achou do seu novo corpo?

A bruxa Miarina olhou-se no espelho para, pôr fim bradar:

— Que raios de nariz pontudo é esse com uma verruga na ponta? E esses pares de olhos esbugalhados parecendo que, ao piscar, iram escapulir da face? E esses peitões do tamanho de duas melancias? E essa barriga escorrendo sobre a vagina... BUAAAAA! Tornei-me um monstro!

— Grilogum, me dê o controle remoto do androide modelo TX-5000 — ordenou a doutora Gilda Moliarte.

O gnomão acatou a ordem prontamente. A Magatec de posse do aparelho, após apertar alguns botões... PLIM! O corpo da bruxa ficou igualzinho ao que sempre fora, outrora.

— Agora sim, me reconheçolindinha como sempre fui — balbuciou satisfeita. 

Cindy Shell - Uma Jed-Princess Apaixonada #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora