Vincent e sua visita inesperada

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Sorri ao vê-lo e me levantei e fui ao seu encontro, era o único homem que eu deixava entrar sem bater, afinal de contas ele era especial para mim, mesmo de idade ele conservava sua jovialidade com seus cabelos grisalhos e volumosos, tinha o rosto quadrado e exalava simpatia por onde passava. O abracei e beijei seu rosto e nos sentamos no sofá de couro em minha sala, eu na poltrona e na beirada para poder pegar em sua mão e olhar em seus olhos azuis cansados.

"Que bom ver você!", disse sorrindo e cruzando as pernas.

"Estava com saudades!... Um velho só serve para atrapalhar!", ele arregalou as sobrancelhas, "Se estiver atrapalhando é só me dizer que vou embora!".

Chacoalhei a cabeça, "Você nunca atrapalha!".

Ele olhou em volta, percebi que estava preocupado com alguma coisa, apenas apertei sua mão, ele me deu um sorriso triste, mas gentil.

"O que foi Vincent?", tombei a cabeça meu sorriso se suavizou, queria que se sentisse bem para se abrir.

"Ahhhhh!", soltou ele, "Estou velho e cansado... Meus parentes agora brigam e contam os dias para minha morte!".

"Você é jovem e pare de falar bobagens... Vai viver e muito ainda!", apertei sua mão.

"Não Victória!", disse ele me olhando sério, "Acabo de vir do médico", ele fez uma pausa, "O Câncer não regrediu... E agora se espalhou!".

Levei um choque com aquela informação, eu estava perdendo mais uma pessoa que eu amava, meus olhos se umedeceram, eu não podia chorar e fazer com que se sentisse mal, mas ele percebeu, desviei o olhar.

"Tem alguma outra coisa que se pode fazer?", perguntei, mas eu era profissional da saúde e mesmo afastada, eu ainda lia artigos e me interessava pela medicina.

Ele chacoalhou a cabeça, "O médico disse que não adianta mais fazer radioterapia e outros tratamentos... Está tudo tomado Victória... Tenho de seis a um ano de vida!".

Comecei a chorar, "Vincent?... por favor, não morra?... Eu não tenho mais ninguém alem de você e Priscila!".

Ele sorriu terno, "Eu sou um velho, eu estou cansado!".

Me ajoelhei ao seus pés e beijei sua mão e deitei a cabeça em seu colo e chorei, eu o amava como um pai, um amigo, ele acariciou meus cabelos e ficamos ali em silencio até eu me acalmar, ele ergueu meu rosto banhado em lágrimas, a maquiagem borrada por esfregar os olhos.

"Victória!", ele engoliu, "Precisamos conversar!", ele passou o polegar no canto do meu olho e sorriu, "Lave o rosto e volte a se sentar aqui comigo!".

Fiz o que pediu, me olhei no espelho, minha fragilidade ainda estava abalada e estava perdendo tão rápido as pessoas que eu amava, "por que?" Me perguntava se era castigo? Se era, eu não sei, mas eu era nova demais para aquilo, tinha peso demais para aguentar tudo aquilo, lavei o rosto e tirei a maquiagem, nem a refiz, eu sabia que iria chorar mais vezes, voltei e me sentei bem perto da beirada, chegando a tocar meus joelhos nos de Vincent, ele relaxou no sofá, soltando o ar pela boca, e sorriu.

"Victória!", disse ele baixinho e apontou para mim, "Você carrega um nome lindo... Um nome que faz jus a sua pessoa... É esforçada, trabalhadora, amiga, companheira!", ele riu, "Você é a Vitoria em pessoa!", chacoalhei a cabeça descordando, eu me julgava fraca por não conseguir esconder meus sentimentos e meu choro, "É sim!... Você é a pessoa mais intrigante e generosa que já conheci e que veio lá de baixo, se casou com um empreiteiro, depois passou por agressão e perdoou e se casou", ele chacoalhou a cabeça ainda se sentindo revoltado, "Eu não teria aceitado isso, nunca!", torcendo a boca em reprimenda, "Mas você passou por cima, perdoou e amou incondicionalmente esse homem, o Renzo Gray!", ele sorriu, "Eu não sei se você ama mais as pessoas que estão a sua volta do que a você mesmo, mas um dia você vai entender tudo isso!".

"Aonde quer chegar com isso Vincent?".

"Quero que se case comigo e seja a herdeira de tudo que tenho!".

Eu fiquei olhando para ele de boca aberta, perdi o ar, acho que cheguei a ficar branca, ele deu tapinhas na minha mão e riu gostosamente da minha cara e me fitou novamente, "Quero que seja a minha esposa!... Não precisa fazer sexo comigo...Por que nem consigo mais, mas quero que minha fortuna tenha um destino certo e você é a pessoa certa para dirigir os negócios e dar continuidade aos projetos sociais e sei que vai ajudar muita gente que precisa!", ele se endireitou no sofá e soltou o ar com calma, eu não sabia o que falar.

"Vincent?... Sua família vai querer me matar!?".

Ele riu novamente, "Não vai!... Ninguém vai sair perdendo, fique tranquila!".

Engoli em seco, não sabia o que responder.

"Victória"!... "Se eu deixar a minha fortuna nas mãos daqueles abutres e das minhas ex-esposas... Tudo vai se acabar em um instante e eu levei anos para construir o império que é minhas industrias D'villa e as ONGs e tudo mais que tenho espalhado por esse mundo... Você vai ter gente competente para te ajudar a administrar, vai ter sua equipe de segurança e enquanto eu estiver vivo e bem... Você terá minha ajuda para aprender a lidar com tudo e com todos.

"Eu não quero me casar com você por dinheiro Vincent, mas faria isso por que eu amo você e gostaria de estar ao seu lado, até os últimos minutos... E juro que farei sua vida se prolongar e ficará um bom tempo ao meu lado!".

Vincent piscou várias vezes para mim e sorriu, sua boca tremeu e vi a emoção em seus olhos, ele apertou minha mão com força, "Eu sei que vai estar ao meu lado!", ele tirou uma pequena caixinha aveludada azul marinho e a abriu com as mãos tremulas, uma solitário com um diamante enorme surgiu na minha frente, levei as mãos a boca e sorri.

"Ah Vincent!... Podia ser mais simples!".

Ele tirou o anel e colocou no meu dedo e beijou minha mão, respirei fundo, o olhei e nós dois choramos em silencio com as mãos entrelaçadas.


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Amor de Primo - Pt.2 (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora