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Ao término da sessão, Marcos parecia ter uma agenda cheia de anotações. Tudo o que eu fazia ou que eu sabia, ele perguntava. Desligamento dos tendões, havia solução? Qual? Havia uma mais fácil? E se não desse certo? Qual a probabilidade de dar certo?

-Estou tão feliz! -Ele comenta. -Nunca pensei que seria tão divertido.

-Tirando a parte que o seu Eliseu briga comigo, eu também me diverti um bocado. É bom ter outro profissional da área me auxiliando. Nem vi o tempo passar.

-Mas eu vi! -Ele se vira para mim. -E se não me engano, uma certa doutora me deve um passeio á cavalo.

Sorrio. Não é possível. Todos os homens dessa família conseguem ter um sorriso hipnótico e seduzente!

-Certo. Vou trocar de roupa, rapidinho. Pode ir vendo os cavalos. -Digo.

Ele assente e sai caminhando em direção as escadas.

Sorrio e me dirijo ao meu quarto. Me dispo e visto uma roupa mais confortável e as botas, óbvio.

Desço atrás dele e ele me espera com um sorriso estampado.

-Que linda. -Comenta.

Coro, mas dou de ombros.

-Este é o meu? -Pergunto apontando para a Krista, a égua que me acompanha em minhas cavalgadas.

-Sim. O cuidador ali -Ele aponta para um dos empregados responsável pelo estábulo. -Disse que você ama ela.

Sorrio.

-Ela é uma ótima companheira.

Me preparo para subir e pego a rédea.

-Vamos? -Eu o chamo, já montada. Toco a costela de Krista e ela entende o sinal para sairmos.

-Espera! -Marcos pede.

Sorrio e desato a correr. Sim, era uma corrida. Ele avança até estarmos no mesmo ritmo. E vagarosamente desaceleramos.

-Gosta de cavalgar? -Ele pergunta.

Dou de ombros.

-Acho que sim. -Olho pra ele e franzo o nariz. -Voltei a praticar desde que voltei.

Ele assente.

-Está indo bem. -Ele concorda. -Meu primo ajudou, de alguma forma?

-Hum... -Busco uma maneira de falar, mas nada me vem à mente. -Qual é o problema entre vocês? De onde veio a briga?

-Ele não falou? -Nego com a cabeça. -Então, creio que ele prefere poupa-la.

-O estranho é que todos sabem, mas ninguém quer me falar.

-Não está perdendo muita coisa. -Ele diz com a voz embargada e olha para a frente, enquanto continuo encarando prestando atenção em cada sílaba. -Nós até nos dávamos bem, antes da adolescência, claro. Éramos unidos e tudo mais. Apesar de ter uma infância um pouco ruim, ele era ótimo. Um bom primo, mesmo. Mas aí começamos a amadurecer. Nós nos víamos anualmente, como agora, e saíamos para beber e... Bom, teve uma vez que não foi tão legal, nossa confraternização, e... Eu acho que ele ainda guarda recentimentos.

-Ele parece ser tão sozinho. -Murmuro.

-Não me diga que além de fisioterapeuta também é psicóloga?

Sorrio achando graça.

-Vamos logo! -Incentivo. -Uma corrida até a casa?

-Apostado, doutora. Mas o que ganho?

Avalio a pergunta.

-Ainda há algo que você queira? -Pergunto.

-Hum... Que tal um jantar? Não sei se teve a oportunidade de ir a cidade, mas conheço um restaurante ótimo. Comida de qualidade e bem mineira.

-Hum... Comida? Pegou no meu calcanhar de Aquiles. -Digo.

-Agora! -Ele diz, saindo quase que voando pelas plantações.

Tento atiçar Krista a correr, mas ela parece querer que ele ganhe. Ele de fato ganha. Chega na minha frente, por poucos segundos. Eu nem havia percebido, mas alguém já nos esperava.

Henrique olhava quase que fuzilando o primo. E seu olhar raivoso logo voltou-se para mim.

-O que estavam fazendo por aí? -Ele pergunta com ar autoritário.

-Saímos para cavalgar. -Respondo, mas me arrependo em seguida.

-Qual o problema? -Marcos pergunta, desmontando do cavalo.

-O problema, é que esse é meu cavalo. Essa é minha hóspede. E você sabe que eu não te suporto.

Desmonto de Krista e intercedo aquele princípio de briga.

-Tudo bem. Já chega. Já estamos aqui. -Falo.

Ambos se encaram de sobrancelhas unidas. Fico tensa.

-Melhor eu ir lá pra dentro. -Marcos cede, ao ver meu semblante de aflição.

Sorrio, grata pelo seu gesto. Sei que isso exige de um homem. Muito!

-Vou com você. -Falo.

-Não. -Henrique segura meu braço.

-Não toca nela assim! -Marcos adverte, perdendo a paciência que lhe sobrara.

Henrique, um tanto presunçoso, olha para ele, em seguida para mim com o olhar surpreso.

-Ah. Já está armando pra ela!? -Henrique supõe. -Rápido dessa vez.

-Para com isso, Henrique. -Marcos pede.

-É sempre assim. Vocês não podem ver a porra de um rabo de saia que saem atrás. Para apenas usa-las... -Henrique fala. Fico evidentemente, ofendida.

-Você que as usa! -Marcos rebate.

-Vocês também, seus cretinos! -Henrique ruge.

-Cale a boca, seu idiota! -Marcos fala.

-Que autoridade tem para falar comigo? Invade minha casa, vem do inferno atrapalhar minha vida, e ainda quer comer minha hóspede?

Instintivamente minha mão voa até o rosto de Henrique, que o inclina. Logo percebo o que fiz, mas não sinto culpa. Olho para Marcos, que me encara atônito, e decido ignora-lo. Olho para Henrique, que mantém a mão no rosto.

-Você me bateu. -Ele diz surpreso. -De novo.

A boca de Marcos se abre em um o.

-Vou bater mais se falar de mim desse jeito novamente. -Digo rangendo os dentes. -Não ouse, nem você,  -Aponto para Marcos, -falar de mim desse jeito. Não me envolvam da porra dessa discussão, seus babacas infantis! 

Me viro e saio andando. 

-Você não pode sair desse jeito! -Henrique segura meu braço.

-Mas que merda! -Falo irritada. -Me solta!

-Helena, não. -Ele tenta ser persuasivo. Não parece irritado, apenas preocupado.

-Largue ela. -Marcos pede, atrás.

-Cale a boa. Dê o fora daqui, antes que eu pense em te encher de porrada agora.

-Me LARGA! -Volto a falar.

-Por favor. -Henrique pede mais perto. -Vamos conversar agora!

-Não quero! -Solto meu braço. -Você não é o único que pode ser infantil aqui!

-Helena, estou falando sério!

Lhe dou as costas.

-Helena!

Ignoro e entro na casa. Sigo até meu quarto e me deito. Mas que droga, por quê tem que ser sempre assim? Brigas e mais brigas? Porque não pode ser normal?

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Olho o celular.

Gustavo! Como pude esquecer?

IndomavelmenteOnde histórias criam vida. Descubra agora