-... Não, ela está dormindo. -Ouço a voz de Henrique, um pouco longe. O cômodo está bem escuro e a chuva ainda cai forte lá fora. -Eu sei que precisamos leva-la ao médico, foi a primeira coisa que pensei quando ela apareceu na porta, mas, pai, a ponte foi destruída, a água do rio está subindo e a chuva não para! O que eu faço? (...) Eu já cuidei dos machucados dela. Esterelizei e coloquei curativos. (...) Ja. Já encontrei remédios aqui. Só estou esperando ela acordar. (...) Ela está melhor do que quando chegou... Assim que passar a chuva vamos dar um jeito de voltar. (...) Quando e se passar.
Como assim se passar? Há quanto tempo está chovendo?
-Tá, pai. Pode tranquilizar todo mundo. Abraços. -E Henrique desliga o telefone.
Fecho os olhos, na esperança que ele não me note acordada e perceba que eu estava ouvindo sua conversa.
Henrique se vira na minha direção e começa a caminhar. Prendo a respiração. Ele senta na borda da cama e, com cautela, toca meu braço.
-Linda. -Ele me chama entre um ronronado. -Acorda. Precisa comer.
Abro os olhos devagar, fingindo estar despertando agora. O encaro e percebo que o vinco na testa dele está mais suave. Espero que eu já esteja com um aparência melhor.
-Oi. -Respondo rouca. -Ai! -Me mexo é minha costela dói.
-Calma. -Ele pede. -Não faça muita força. Eu fiz uma sopa pra você. Fique aqui, eu vou trazer pra você comer.
Sorrio e assinto. Não me mexo mais. Ele é rápido e trás o prato, com a sopa, e o suco, em uma bandeja. Coloca sobre o meu colo e senta ao meu lado.
-Não está ruim, acredite, eu sei cozinhar. -Ele diz.
Sorrio. E assinto. Pego a colher e começo a mexer a sopa. Assopro antes da colher entrar na minha boca e engulo a sopa de uma só vez. Ah, que delícia!
-Bom? Muito bom?
-Excelente. -Digo.
Ele parece satisfeito com a resposta, então não digo mais nada, apenas como tudo até raspar o prato. Bebo o suco e ele limpa a minha boca e some na mini cozinha.
Me aconchego nos lençóis que parecem ter o cheiro dele. Mais dores me fazem lembrar que estou completamente quebrada. Será que há algo fraturado? Uma costela, talvez?
Tento afastar qualquer pensando desses da mente, mas a dor não me permite esquecê-la. Tento me manter em uma única posição, mas respirar também parece uma tarefa árdua.
-Shi... -Henrique se aproxima, traz uma bandeja, com um copo d'água e comprimidos. -Tenta não se mexer. -Ele deposita a bandeja no criado mudo e senta na cama, me fazendo ficar parada. -Eu trouxe remédios. Para dor e para febre, mas eu não sei se é alérgica a alguma coisa. Trouxe dos mais variados. Você tem alergia?
-A dipirona. -Murmuro, com a voz rouca.
-Complicado. -Ele torce a boca e começa a procurar um remédio que não contenha dipirona. -Aqui. É ótimo. Beba.
Henrique me dá o comprimido na boca e me faz beber água. Em seguida me dá mais dois, e se vai novamente, para arrumar sua mini cozinha.
Fico olhando o pequeno quarto. A cama nem ocupava tanto espaço, e era linda, de madeira. A estante, cheia de livros, dava outra cara ao ambiente, também continuava lá. Uma mesa perto da cozinha, com duas cadeiras. O sofá, não tão grande, em cima do tapete branco felpudo. Aconchegante. Eu poderia morrer ali, que não me preocuparia.
Henrique termina de arrumar as coisas e mantenho meus olhos fechados, apenas aproveitando a sensação anestesiantes dos remédios,
-Você já vai dormir? -Ele pergunta, sereno.
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Indomavelmente
RomanceHelena é uma fisioterapeuta de sucesso no Brasil; (in)felizmente ela nunca se amarrou a ninguém. Se apaixonar? Fora de questão! A prioridade é a profissão! Eis que seu amigo lhe traz a proposta de emprego mais fantástica de mundo: cuidar de um casal...