Depois que fizemos os pedidos, escolhemos uma mesa para sentar.
-Eu adoro esse lugar. -Ela diz. -É bem informal para se ter uma conversa séria.
Engulo o seco.
-Claro. -Sorrio.
Cristina ergue uma sobrancelha e começo a suar frio. Não gostei. Não gostei nada disso!
-Doutora, a senhora acha que poderia ser honesta comigo?
-Pensei que tivéssemos pulado as formalidades, Cristina. -Digo sorrindo. -É claro que serei honesta.
-Claro. Você... Pode me dizer o que está acontecendo entre você e o meu irmão? Por que realmente não consigo entender. Ou talvez não esteja querendo entender. -Cristina diz séria.
-Não está acontecendo nada. -Digo da maneira mais calma que consigo.
-Eu pedi honestidade. -Ela me encara. -Helena, sei que você sente algo por ele. Ele sente algo por você...
-Sente?
Ela balança a cabeça afirmativamente.
-Eu percebi que algo nele mudou logo depois que você chegou. Achei que não seria nada para me preocupar, mas ele anda diferente. Você mesma pode notar isso...
Sorrio amarelo.
-Não sei do que está falando. Vocês são meus patrões e eu tenho respeito, mas não passa disso.
-Ele beijou você! -Ela toca minha mão. -Não foi?
Balanço a cabeça vagarosamente.
-Vocês dormiram juntos?
Nego com a cabeça.
-Ainda há salvação então... -Ela murmura.
-Não. -Recolho minha mão. -Não sei do que está falando mas foi só um beijo. Talvez mais de um. Mas não passou disso. Espero voltar em duas semanas pra minha casa. Eu lamento se causei problemas essa não foi minha intenção, mas eu tenho compromissos e Henrique é problemático demais para mim. -Digo.
-Ele está mudando. Talvez gostando de você... Meu irmão não teve uma vida fácil.
-Muitas pessoas não tem vida fácil e nem por isso são assim... -Digo.
-Talvez ele tenha traumas do passado que são difíceis de superar. -Ela ergue uma sobrancelha.
Franzo o cenho, confusa.
-Está pedindo para eu ter algo com seu irmão? -Pergunto confusa.
-Peço para que não desista dele. Talvez você seja a esperança que ele precise. E eu o amo muito para pedir isso para você. -Ela me encara.
Admiro sua honestidade e sua coragem. É apenas isso que me faz cogitar.
-Mesmo que isso possa... Me destruir? -Pergunto gravemente.
Ainda tinha essa. Eu não sabia do passado dele. Literalmente ele ainda era um estranho. Ninguém falava no assunto. Ninguém me contou o que aconteceu com ele para ele ser desse jeito. Ninguém contou sobre seu passado.
-Sei que soa egoísta. Eu sei os riscos que você corre...
-Sabe? -Pergunto um tanto debochada. -Então me conte, porque eu não sei.
-Isso... -Ela parece incomodada e se ajeita na cadeira. -É mais particular do que você pode imaginar.
-Duvido. -Me inclino. -Se você quer minha ajuda, precisa me ajudar também. É uma via de mão dupla.
-Não é tão simples. Eu mesma não entendo.
-Então me conte o que entende. Talvez pouca coisa seja melhor que nada.
Ela me lança um olhar questionativo, mas começa a falar. Fala sobre a época mais caótica da vida dele: a tal da puberdade, também conhecida como fase rebelde.
-... e ele brigou com Marcos e Pedro porque, pelo que sabemos, os dois haviam pegado uma menina que Henrique estava ficando na época. Não acreditei, mas é o que nos contaram. -Cristina finaliza.
-Eles? Henrique também?
-Henrique não toca no assunto. Ele detesta lembrar ou falar disso. Evita a qualquer custo, mas eu até entendo.
-Eu também. -Murmuro.
Fico sem chão ao ouvir tudo. Henrique havia passado dois anos em um reformatório que ele disse ser horrível, mas seu pai o trouxe de volta. Ele já estava bem rancoroso nessa época.Com quase quinze anos ele começou a sair para "farrear". Havia feito algumas amizades nada boas e começou a trazer mulheres e a chegar bêbado. Hector brigava constantemente com eles, até que, a pedido da avó, ele parou mais com isso. Ele ainda era muito amigo dos primos e então, em uma das vezes que vieram até aqui para o festival, Henrique apresentou a menina que ele gostava. Os primos demonstraram interesse e aí Henrique havia encontrado eles em um quarto...
-Ele, realmente, não teve uma vida colorida como eu pensava... –Digo me sentindo bem idiota.
-Não. Não teve mesmo. Ele se fechou mais depois disso. Todo ano eles brigam, depois disso. É um pesadelo. -Ela revira os olhos. -Todos os anos eles arrumam um jeito de brigar. foram até para o braço. Nossos pais ficam horrorizados, mas o que é uma visita sem brigas de família?!
Analiso a situação e balanço a cabeça.
-Mas onde eu me encaixo? O que quer que eu faça exatamente? Você já me contou a história dele, e, se ele já está marcado como estou imaginando, é quase algo sem salvação. Não é como se eu fosse ser o "Amor da vida" do seu irmão, não é? Então, o que eu vou fazer?
Cristina se inclina sobre a mesa.
-Vai ajuda-lo. Quero que ajude meu irmão. –Ela sorri. –Ele precisa de ajuda, e, aparentemente, apenas você pode ajuda-lo.
Coro.
-Nos odiamos. E estamos brigados no momento. –Revelo.
-Então façam as pazes. –Ela começa a garfar a comida. –Já sei! Essa noite! Na festa! Ah, claro! Vai ser a glória!
-Como assim?
-Depois do que vou fazer em você, se algum homem não ficar caído aos seus pés hoje a noite eu mudo meu nome!
Sorrio e ela sorri. Ok. Meu plano de evitar ele foi pra cucuia! Eu vou ter que me aproximar agora. Ah, que inversão de papéis maravilhosa.
Parece que o jogo virou, não é mesmo?
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Indomavelmente
RomanceHelena é uma fisioterapeuta de sucesso no Brasil; (in)felizmente ela nunca se amarrou a ninguém. Se apaixonar? Fora de questão! A prioridade é a profissão! Eis que seu amigo lhe traz a proposta de emprego mais fantástica de mundo: cuidar de um casal...