A mesa de jantar é um gigantesco mar de conversas. Falatório e discussões. O festival aconteceu pela tarde, mas, obviamente, apenas sr. Hector e seu irmão foram, estavam fazendo negociações do café, e exposição dos animais. Mas não ocorreria essa noite...
Como Pedro havia dito, guardou um lugar para mim ao seu lado, e Cristina estava à direita.
-Ahn, Helena. -Ele me chama, baixinho. -Será que seria incômodo eu pedir para que tocasse comigo depois?
-Nenhum. -Digo sorrindo. -Vamos tocar, sem problemas. Mas vou avisando: estou enferrujada.
-Ah, eu duvido. -Ele pisca.
Coro e volto para meu prato.
-Henrique tá olhando. -Cristina diz entre uma tosse.
-O quê?
Quando entendo o que ela disse, ergo o olhar e o vejo. Me fitando, com o canto dos olhos errugados. Querendo desviar o olhar para Sabrina, que tenta ter sua atenção a todo momento. Ela fala algo e ele nem ao menos está ouvindo, apenas assentindo sem entender.
"Quero conversar com você mais tarde", ele movimenta a boca.
Assinto e continuo o meu jantar.
-E a senhorita? -O irmão de Hector chama. -Assim que cheguei fui ver meus pais e eles disseram que estavam bastante felizes com os avanços. Basicamente "deram seus primeiros passos", hoje. Parabéns, doutora. -Ele ergue uma taça e sorri.
Ruborizo com o elogio. Não sou do tipo que fica exposta desse jeito, mas confesso ter ficado bastante satisfeita com o elogio...
-Isso é sério? -Hector pergunta. Seus olhos se arregalam felizes. -Ah, que notícia maravilhosa. Meus parabéns, doutora.
-Não precisa. Eu só dei um empurrãozinho. Eles fizeram todo o resto. -Digo, se forma singela.
-Não seja modesta. -Marcos diz para mim, então se vira para o tio é o pai: -Ela é realmente incrível. Trabalhando, então... -Ele sorri, quase que imperceptível. -Ela é fantástica. -Marcos pisca para mim.
Sorrio, vermelha. O que eles estão tentando fazer? Querem me deixar vermelha feito um tomate?
-Não foi nada. Sério. -Murmuro.
-Ah, se diz que não foi nada... -Sabrina murmura por cima.
Olho pra ela. Qual o problema dessa garota? Alfinetar é divertido pra ela? Ou está se sentindo ameaçada? Que se dane.
Coloco mais uma colherada na boca e olho para Henrique. Tenho dificuldades de engolir quando o vejo olhando tão seriamente para mim. Poderia ele estar com raiva? Ah, mas é o cúmulo! Eu deveria estar com raiva!
Desvio o olhar e continuamos o jantar em silêncio.
Assim que terminamos, eu e Pedro nos retiramos juntos e seguimos para a sala com o piano de cauda. Os que ficaram não fizeram muitos comentários, mas o olhar de Henrique foi suficiente! Marcos parecia curioso, assim como Sabrina, e Cristina apenas deu de ombros como o restante -embora ela sorrisse ao notar o semblante do irmão.
Subimos as escadas e seguimos para sala.
-Eu, particularmente, preferi ouvir Beethoven; é clássica e influenciadora. Marcos preferia Bahr, era dramática e culta. Henrique gostava muito de Tchaikovsky, mas ele, simplesmente, dizia que gostava por gostar. -Pedro falava. -Na minha opinião acho que ele gastava porque era desafiadora. Meu primo sempre foi assim...
-Hum. -É tudo o que consigo dizer.
Mais uma coisa para acrescentar à lista de personalidade de Henrique. Hum... Mais uma coisa que alguém bem próximo dele me disse dele!
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Indomavelmente
RomansaHelena é uma fisioterapeuta de sucesso no Brasil; (in)felizmente ela nunca se amarrou a ninguém. Se apaixonar? Fora de questão! A prioridade é a profissão! Eis que seu amigo lhe traz a proposta de emprego mais fantástica de mundo: cuidar de um casal...