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Aquele mar de fúria, que vislumbro ao olha-lo nos olhos me faz com que me afogue em minha raiva também. Henrique não tem o menor direito de querer satisfação. O menor!

-Poderia nos dar licença, Henrique. Está atrapalhando. -Digo indiferente.

-Está brincando comigo? -Ele pergunta incrédulo.

Dou de ombros. A nova música começa e decido começar a dançar também, embora Marcos esteja surpreso e demore.

-Ei. -Henrique retruca e me puxa. -Estou falando com você!

-O que é? -Pergunto irritada. Estou gritando?

-Será que podemos conversar?

-Não. Acho que não podemos!

-Não acredito que vai ser infantil a esse ponto. -Ele ergue uma sobrancelha.

-Ah, pode apostar: eu vou! -Cruzo os braços na frente do peito e o encaro.

-Vem, Helena. -Marcos fala e segura meu braço. -Nós podemos ir se você preferir.

-O que é isso? De novo? -Henrique parece com mais raiva que antes.

-Se abrir sua boca para insulta-la, primo, não serei tão paciente. -Marcos diz, sem perder sua razão. -Vamos, Helena.

-Você não manda nela! -Henrique segura meu braço.

-Nem você. -Desvencilho-me.

-Helena, precisamos conversar. -Henrique pede, como súplica.

-Eu não quero conversar com você! -Grito e Henrique parece surpreso com minha fúria. -Não quero falar com você! Porque não volta para aquela garota? O que está fazendo aqui? Atrapalhando minha noite? Não fui clara o suficiente?

Não notei, nem ele, mas já estávamos chamando muito a atenção. Cristina e Pedro se mantinham um pouco afastados, como todos os outros que olhavam a cena escandalosa.

Henrique parece perdido e desnorteado. Penso que o amedontrei, mas ele apenas me olha com um olhar felino que, há algum tempo, eu não via. Ele caminha mais para perto; Marcos fica tenso e se prepara, mas seguro seu braço para que ele não faça nada. Henrique está a um palmo de distância de mim, agora. Me encara por alguns instantes.

-Uma dança. -Ele murmura. -Te deixo em paz depois disso.

Fico surpresa e nem percebo que estava prendendo o ar, quando o solto, agora, tão pesadamente.

Fico sem reação. Olho todos ao redor, alguns já voltaram a dançar, mas ainda há olhares encarando.

-Então? -Henrique pergunta novamente.

-Nem pensar! -Marcos fala por mim.

Olho para ele, com o cenho franzido. Marcos parece desconcertado.

-Quer dizer, você não pode dançar com ele. Ele foi...

-Você não vai dizer com quem danço ou não. -O corto. -Sei que está tentando me ajudar, mas, muito obrigada, eu posso assumir daqui. -Me volto para Henrique, ele esboça um sorriso vitorioso. Ergo uma sobrancelha. -Uma dança. Sem mão boba!

Algumas pessoas riem, outras dão de ombros e outras murmuram algo do tipo "poxa! Nem um tapa?".

Henrique pega minha mão, me guiando até um espaço, enquanto vejo Marcos com os ombros caídos, voltando para a mesa junto com Cristina e Pedro. Henrique me gira, então cola seu corpo ao  meu rapidamente. Me assusto.

-Não fique com medo, doutora. -Henrique diz, apenas um dedo de distância do meu rosto.

-Não estou com medo, cowboy. -Digo.

IndomavelmenteOnde histórias criam vida. Descubra agora