See you later

813 92 76
                                    


OI, AMORES


― VOVÓ, A SENHORA ESTÁ ME OUVINDO?

Lauren se inclinou para frente e olhou fundo nos gentis olhos verdes da sua avó. A mulher idosa estava sentada em uma poltrona marrom próxima a uma janela no lar para idosos Lar Devereux.

Lauren havia caminhado até lá desde o cemitério, e sentira imediatamente que o cheiro dos medicamentos e de desinfetante estava mais forte do que nunca no longo corredor verde que levava ao quarto.

— Vovó, sou eu — disse Lauren. — Você não vai acreditar. Eu acho que acabei de conhecer uma mulher fantástica!

Sua avó piscou os olhos e olhou fixamente para a TV. O aparelho mostrava uma reprise de Walker, Texas Ranger, à qual ela tinha o hábito de assistir todos os dias. A sua mão enrugada tateou em busca da caixinha de suco de laranja com um canudo que estava ao lado. Ela tomou um gole do suco, sem dizer uma palavra.

Lauren sempre pôde contar com os cuidados e a sabedoria de sua avó quando trombava com alguma das inescapáveis barreiras da vida. De fato, ela veio se consolar com a sua avó depois que Scotty McLaughlin terminou o namoro na noite de Ano Novo do ano 2000. A vida nunca foi fácil para a avó, uma eterna romântica. Aos 19 anos, ela se casou com um galante pescador de lagostas da cidade rival, e já havia engravidado quando ele desapareceu durante uma tempestade.

"Ninguém se comparava a ele", ela dizia a Lauren, e assim, apesar de uma longa lista de pretendentes, nunca se casou de novo. A sua história de vida, repetida dezenas de vezes, sempre fazia Lauren chorar. "Espere pelo seu verdadeiro amor", aconselhava a avó. "Nunca desista."

Com a avó, Lauren havia aprendido o que significava ser uma sobrevivente.

Para sustentar seu filho pequeno, ela foi trabalhar nas fábricas de sapatos em Lynn. Toda sua vida fora uma eterna luta e, aos 86 anos, depois de 11 anos de batalha contra um câncer de pulmão, ainda existia força dentro dela. Por duas vezes, os médicos tomaram medidas extremas para tirá—la das garras da morte, e a cada vez restava menos dela. Agora, uma pequena placa ao lado da sua cama dizia laconicamente — NR — NÃO RESSUSCITAR. E mesmo assim, na mente de Lauren, a avó ainda era indomável. Ela era uma democrata convicta, que guardava uma página amassada e amarelada do Boston Globe com uma foto dos três irmãos Kennedy sobre a sua estante, ela adorava fofocar sobre os homens da cidade e insistia — escandalosamente — em fumar seus cigarros Marlboro, mesmo depois da sua saúde ter se esvaído.

Haviam dias em que ela reconhecia Lauren. Mas, na maioria das vezes, ela a confundia com sua irmã mais velha, que havia falecido no dia em que George Bush derrotou Michael Dukakis por 325 votos no colégio eleitoral. Às vezes, parecia que ela nem conseguia enxergar Lauren. Ela simplesmente olhava para o nada com aqueles olhos serenos. Seu único apego à dignidade era a sua insistência em usar um chapéu colorido todos os dias e bijuterias coloridas da loja de $1,99. Agora ela se sentava imóvel em sua poltrona, murmurando e olhando pela janela.

— O que você está olhando lá fora? ― perguntou Lauren. Aquela janela no Lar Devereux dava direto para um estacionamento, onde ela avistou algo sobre uma cerca. — Está olhando para aquela libélula? É isso? [n/a até eu senti o impacto] — A avó sorriu, fechou os olhos por um momento, e depois voltou a abri— los. — E então, o que tem feito de bom? — perguntou Lauren. — O Sr. Purdy ainda está lhe perseguindo no salão de recreação? Você me disse que ele é um pervertido de primeira.

Novamente, silêncio. Então era assim que tudo acabava. Uma longa vida, e agora isso? Anos sozinha em uma ilusão. Lauren jurou que ela não deixaria aquilo lhe acontecer. Ela terminaria a vida em triunfo. Ela não iria se deixar enfraquecer lentamente, até o inevitável fim. Era a pior coisa que poderia lhe acontecer.

ButterflyOnde histórias criam vida. Descubra agora