Upside down

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Oi amores <3

Vocês estão gostando? Tá meio confuso, eu sei, mas com o tempo vocês vão entender

Amo vocês.

(favescabello)





                  

Uma parede de dez metros de água se chocou contra o cockpit, derrubando Lauren e empurrando-a contra os cabos laterais do veleiro. Ela respirou fundo, tentando tomar fôlego, enquanto o oceano gelado se abria ao seu redor, puxando-a para a morte.

Então, graças a Deus, o cabo de segurança que prendia o seu colete salva-vidas funcionou. Momentos antes, ela havia vestido o traje de sobrevivência laranja — que era, essencialmente, um bote salva-vidas para uma pessoa, projetado para navegar em águas perigosas, capacitando-a a sobreviver por até uma semana sem hipotermia.

Lauren tossiu a água salgada que havia engolido, e se arrastou de volta para o timão. O Querencia  estava cortando a escuridão com os mastros vazios. A vela principal estava enrolada no mastro de verga, e o convés estava encharcado.

Ondas gigantes quebravam a cada 20 segundos, açoitando o casco, mandando imensas nuvens de chapiscos pelo ar. Manchas dos sinalizadores de fósforo riscavam o céu em um espetáculo de fogos de artifício. O oceano à frente parecia um infinito de colinas e penhascos, correndo em sua direção a quarenta milhas por hora, e picos monstruosos desmoronavam com grande impacto.

Lauren não se importava com o vento cortante, o mar revolto, ou o sal que fazia seus olhos arderem. Ela não se importava com o formigamento nas mãos ou a dor no seu quadril por causa da última queda. Ela não estava alarmada pelo radar, que mostrava outra depressão profunda armando—se por trás da área de baixa pressão. Toda a sua atenção — e a sua repulsa — estava focada em um único problema que a aborrecia: a água do mar que havia entrado nas suas botas antiderrapantes.

— Deuses! — ela gritou com o oceano. — Quinhentos dólares por estas botas, e essa porcaria deixa a água entrar!

Ela verificou os instrumentos que piscavam no painel de controle. O anemômetro mostrava que o vento estava a 40 nós, e depois a 45. À medida que o Querência escorregava pelo declive acentuado de uma onda, o  velocímetro mostrava o aumento de velocidade; depois, ao subir por outra onda, o veleiro parecia que iria parar, ameaçando cair para trás na tormenta.

Lauren segurou-se para receber o impacto da próxima onda. Mesmo quando o vagalhão atingiu o navio, fazendo com que escorregasse de lado, ela se segurou com força ao timão.

Sim, ela tinha esperança; isso era definitivamente um bom treino para as águas do sul próximas do Oceano Antártico, onde ela enfrentaria tempestades de neve e icebergs.

Isto é, se ela conseguisse chegar até lá.

Outra torre de água a atingiu; outro golpe em seu corpo, mas ela manteve o barco alinhado com as ondas. Era uma das regras mais antigas da arte de velejar — aponte o lado mais estreito do navio para as ondas. Lauren sabia que havia duas boas maneiras de medir a fúria da natureza. A primeira delas era uma fórmula baseada na Escala Beaufort, que recebeu o nome em homenagem a um almirante britânico do século XIX: velocidade do vento mais cinco, dividido por cinco. Ela fez as contas, e o resultado deu dez. Assim, esse era um vendaval de Força 10 em uma escala que ia até 12.

A noite toda, as cristas das ondas haviam criado espuma, mas agora elas estavam subindo, descendo e quebrando por toda parte. E isso significava apenas uma coisa: a tempestade estava ganhando força.

Uma vez, Lauren havia navegado através de um vendaval de Força 10 durante uma ocasião com a família no golfo do Maine, e naquela noite ela inventou seu outro teste para a força de uma tempestade menos científica que a escala de Beaufort, mas tão eficiente quanto. Ela usou de Escala Jauregui, em homenagem ao seu pai. Consistia contar o número de vezes em que o velejador engole água a cada. Qualquer quantidade acima de três significava que, se você mexesse qualquer coisa que não fosse buscar abrigo, você estaria louco. Muito próximo de ficar de cabeça para baixo, o Querência acelerava para baixo, deslizando por uma das faces de uma onda gigante, quase num ângulo reto.

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