Between two worlds

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OI GENTE TO VIVA AINDA

Não sei se posso dizer o mesmo da Lauren rs


O oceano nunca pareceu tão imenso.

Jatos de espuma se estendiam até o horizonte, e o pesqueiro de lagostas Down East, de 35 pés de comprimento, navegava sobre as ondas. Com uma mão, Camila se apoiava no painel; com a outra, segurava os binóculos, esquadrinhando o mar revolto.

Ela e Dinah estavam fazendo buscas na área de Jeffreys Ledge, um local não muito longe de onde o pescador havia recolhido fragmentos do Querência. Naquela manhã, no Driftwood, ela se recusou terminantemente a acreditar nas notícias sobre Lauren. No início ela havia gritado: "Não pode ser, é impossível". E todos os olhos do restaurante se voltaram para ela.

— Você sabe de alguma coisa? — Hoddy havia perguntado. Camila queria ter contado a eles sobre a visita de Lauren ao túmulo de seu pai e o jantar a dois. Ela queria ter descrito a caminhada à meia-noite e também o seu primeiro beijo. Mas teve um medo súbito, era um reflexo inconsciente. Talvez algo terrível tivesse acontecido ao Querência na água, e ela tivesse encontrado o espírito de Lauren no cemitério. Não seria impossível e, naquele instante, ela sabia que teria de se proteger.

— Ela tem de estar em algum lugar — ela balbuciou, tentando mascarar sua confusão. — Vocês não acham?

— Do que você está falando? — dissera Dinah, levantando-se. — Eles encontraram o leme e uma boia. Ela não manda notícias há mais de 36 horas. Do que mais você precisa? — Camila sentiu que estava ficando agitada.

— E a casa dela? Alguém olhou lá?

— É claro — disse Hoddy. — Não tivemos sorte. Dubby Bartlett viu o cachorro dela correndo na praia sem a guia esta manhã. A mãe dela já esperava ter recebido um contato, mas não houve nenhuma notícia. Até agora.

E assim saíram aos pares para iniciar a busca. Camila se juntou a Dinah, que pegou emprestado um poderoso navio para a pesca de lagostas. As duas se conheciam do circuito local de ostras e cerveja, mas ambas estavam determinadas a encontrar Lauren. Nas primeiras horas, a busca resultou em todo o tipo de lixo, incluindo uma caixa térmica Coleman com algumas cervejas Budweiser dentro e uma bolsa da Nike para tacos de golfe, sem os tacos. Porém, na metade do dia, elas encontraram um bote salva-vidas parcialmente inflado e enegrecido por fumaça. Trazendo-o a bordo, Dinah se desesperou quando percebeu que era um dos botes do Querência. A princípio, ela soltou um grito de raiva, e depois gritou.

— Não!

Aquele simples monossílabo se estendeu em um gemido, até que ela ficou sem fôlego, e grandes borbotões de lágrimas escorreram pelo seu rosto. O veleiro havia desaparecido. Lauren não estava em lugar algum. A única vida que elas haviam encontrado durante o dia todo naquele oceano foi um cardume de baleias jubarte, 200 metros a estibordo, borrifando água pelas narinas no próprio dorso antes de retornarem às profundezas.

Em algum canto escondido de sua mente, Camila começou a imaginar o que realmente teria acontecido. Era Lauren que estava no cemitério ou o seu espírito? Ela havia visto milhares de almas irem e virem, e conhecia todos os indícios. Nunca havia sido enganada antes. Todas brilhavam com uma aura luminosa. Os velhos andavam com passos firmes. Os doentes ficavam revigorados. No começo, os seus contornos eram suaves e transparentes como gaze. Depois, a aparência mudava de forma sutil, e começavam a tomar a forma na qual sempre se imaginaram. Em pouco tempo, quando estavam prontos para passar para o próximo estágio, eles se esvaneciam, desaparecendo como a névoa ao sol. Mas Lauren era diferente. Ela olhou bem dentro de seus olhos cor de esmeralda. Ela ficou bem ao seu lado. Ela escutou o seu riso inconfundível. Ela até sentiu que estava começando a se apaixonar. Não havia nada diáfano nela, ela era muito real, muito substancial, muito viva. Tinha de haver algum engano.

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⏰ Última atualização: Jan 25, 2017 ⏰

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