Missing

943 81 61
                                    


QUEM É VIVO SEMPRE APARECE NÃO É MESMO

mas pera, quem é morto aparece aqui também.....

ENFIM



Camila sentou-se na doca da enseada do Waterside, recostada contra um dos velhos mourões de madeira, e tomou uns goles do café que havia preparado.

Ela ainda se sentia sonolenta por ter passado a noite em claro, relembrando cada detalhe da noite e esperando que Lauren estivesse fazendo o mesmo. Bem depois da meia-noite, ela a acompanhou até os grandes portões de ferro e deixou que ela partisse, ainda que um pouco relutante.

― Tem certeza de que não quer que eu a acompanhe até em casa? — ela disse, esperando que houvesse mais um beijo ou dois.

― Está tudo bem — ela disse.

― Mas e todos aqueles fantasmas e aparições nas ruas?

― Eu sou uma garota crescida, e ninguém é imbecil o bastante para se meter comigo.

E, com isso, ela saiu noite afora. Quando ela voltou para casa, a sua cabeça ainda rodopiava, e seus lábios ainda tinham uma doce sensação de formigamento. Assim, em vez de limpar a cozinha e lavar os pratos, ela se jogou no sofá com outra cerveja e ao som triste de Dusty Springfield, rendendo-se à inacreditável sensação que sentia por dentro, como o solo congelado do inverno quando o gelo começa a derreter. A superfície parece igual, mas, por baixo, tudo estava mudando.

Agora, conforme uma leve nuvem de vapor saía da sua xícara para se desfazer no cinza-azulado da manhã, ela ouvia o estrondo dos canhões nos clubes de vela ao redor da orla, sinalizando a chegada oficial do sol. Assim era o início da maioria dos dias em Marblehead. Café na doca. Alguns capitães monitoravam os lugares onde a água estava infestada de tubarões e onde as percas mordiam as iscas. Um bate—papo com um veterano da Segunda Guerra Mundial sobre o vento nordeste que piorava a sua artrite. Depois, havia o trabalho. Mas os domingos eram diferentes. Oficialmente, não havia assuntos a tratar no cemitério, então Camila podia relaxar. Os portões se abriam para a comunidade às 8 h, mas não havia enterros. Shawn logo chegaria no Horny Toad, e eles atravessariam o ancoradouro até o Driftwood para tomar o café da manhã. Depois, eles iriam se juntar aos ratos de atracadouro, e ficar de papo até a hora do início do jogo da NFL.

― Olhe a bola! — gritou uma voz. Camila se virou bem a tempo de ver uma bola de tênis voar perto da sua cabeça, e Oscar a perseguia a toda velocidade. ― Bom—dia, irmãzona — disse Sofia, saindo da neblina e caminhando pela doca. Ela vestia um blusão cinza, com o capuz por cima da cabeça. Mechas rebeldes lhe caíam por cima aos olhos. Mesmo que o jogo de beisebol ao anoitecer fosse a chave para manter a sua promessa, às vezes Sofia aparecia ao raiar do dia, antes de partir para as suas aventuras.

― Bom dia — disse Camila.

― E entãããaãao? — disse Sofi, sentando—se ao lado da sua irmã.

― Então o quê?

― Não se faça de besta! Como foi a noite? — Oscar capturou a bola e estava de volta, abanando o rabo e pronto para outra.

― Não é da sua conta — disse, lançando a bola em direção à orla pedregosa. — Se você não estivesse morta, eu lhe daria uma surra por ficar xeretando.

― Eu segui as regras. Eu fiquei longe.

― Você estava no limite. Você estava em cima da linha, e você sabe do acordo. — Quando as pessoas começaram a comentar que Camila estava ficando louca e falando com o fantasma da sua irmã, Sofi concordara que ela não iria interferir enquanto os outros estivessem por perto. Mesmo assim, havia ocasiões em que ela não conseguia resistir à tentação de se meter em encrencas.

ButterflyOnde histórias criam vida. Descubra agora