O Retorno do Príncipe.

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Acordei cedo e brilhante - ou talvez mais precisamente, tarde e escuro - na noite seguinte. Era meu turno em um trabalho de guarda, patrulhando os amplos terrenos ao redor da Casa Cadogan, vigiando por transferências do alambrado de ferro forjado de três metros de altura que mantinha fora os intrusos e dentro os vampiros.
Em uma cidade de malucos sobrenaturais, tinha que estar alerta.
Levantei-me e me enfiei no diminuto banheiro, completei as poucas tarefas femininas do meu repertório, logo me enfiei no meu traje Cadogan, o completei embainhando com a katana e meu próprio medalhão de Cadogan, entregue a mim por Ethan durante meu juramento a Casa. Escovei meu comprido cabelo escuro até que
brilhou, fiz um rabo-de-cavalo alto e penteei minha franja, o vampirismo agregou um novo brilho a minha pele, de modo que só adicionei um pouquinho de blush e brilho labial.
Uma vez que estava embelezada e bem arrumada, caminhei até a porta, então olhei para baixo enquanto as cores captaram minha vista. O correio jazia em uma pilha em frente a porta. Presumindo que havia sido entregue enquanto estava na ducha, me
inclinei para recolher um catálogo de J. Crew, enviado por Mallory e um envelope grosso de papel de linho. Era pesado e nebuloso, sem dúvida caro. Abri o envelope e olhei dentro. Era o convite prometido dos Breck, provavelmente enviado pela minha
mãe, enquanto o sol estava brilhando acima no horizonte.
Achei que o show de gala dos Breckenridge era um fato, infelizmente. Deixei cair o catálogo de Mallory sobre a cama. Enfiei o convite no bolso e estava a ponto de me dirigir escadas abaixo quando meu celular tocou. O deslizei do meu bolso, olhei o identificador. Morgan.
— Boa noite — disse, quando atendi o celular.
Com o celular em meu ouvido, caminhei pelo corredor, logo fechei a porta atrás de mim.
— Boa noite para você também — respondi. — Quais são as novidades na Casa Navarre?
— Em Navarre, não muitas em todo caso. Ainda é cedo. Nós tentamos não começar os dramas até meia-noite.
— Entendo — disse com uma risada, enquanto tomava o corredor em direção às escadas principais.
— A coisa é, não estou realmente na Casa Navarre. Eu fiz uma viagem ao sul.
Na verdade estou um pouco mais nas proximidades da Casa Cadogan.
Parei na escada, uma mão no corrimão.
— Quanto nas proximidades da Casa
Cadogan?
— Vem para fora — disse com uma voz alegre. Convidativo. Picada pela
curiosidade, eu fechei o telefone e deslizei-o dentro do meu bolso, então desci as escadas aos pulos. O primeiro andar ainda estava em silêncio, os vampiros não deviam ter se levantado de seu sono no meio do dia. Fui para a porta da frente, então a abri e dei um passo para fora na pequena varanda de pedra.
Ele estava parado na calçada, a meio caminho da porta da frente e do portão.
Estava vestido com seu típico estilo rebelde de passarela. Jeans desbotados, sapatos fora de moda, uma camiseta de manga curta que abraçava sua figura delgada e um
amplo relógio de couro sobre o pulso esquerdo.
Parecia sempre esquecer aquele sorriso de roubar seu fôlego e aqueles olhos sinistros quando estava longe de Morgan, minha mente no geral estava preocupada por outros vampiros antigos. Meu coração tropeçou com a lembrança do belo que era.
E em sua mão, um vaso de flores. O vaso era fino, de um vidro de cor leitosa. As flores eram uma lufada de cores, peônias ou botões de ouro ou alguma outra explosão de pétalas sobre finos talos verdes. Eram belas. E um pouco inesperadas.
— Olá — disse ele, sorrindo furtivamente, quando me aproximei. — Não estou certo que tenha te visto em sua veste negra. Cadogan. — Puxou a lapela do meu
casaco, e molhou os lábios em evidente apreciação.
— Você parece muito... oficial.
Revirei os olhos em um movimento coquete, mas podia sentir o calor subir em
minhas bochechas.
— Obrigada — disse, inclinei minha cabeça para as flores.
— Presumo que essas não são para o Ethan?
— Você está certa. Sei que não liguei e tenho que me por a caminho, tenho
uma reunião, mas queria te trazer algo. Olhou abaixo para elas, seu sorriso um pouco envergonhado. Um pouco tonto. Um pouquinho comovente.
— Decidi que necessitava um agrado inaugural.
Sorri em resposta.
— Se refere a outro presente, a parte do teu pôster em tamanho real que havia me dado?
— Bom, não que esse não foi um fantástico presente, mas tinha algo um pouco mais... feminino em mente — com isso, me entregou o vaso, logo se inclinou e pressionou seus lábios em minha bochecha.
— Bem vinda a vida dos vampiros Merit —quando se reclinou novamente, o sorriso em seu rosto deixava claro que a boa vinda era sincera. Morgan era um vampiro, um crente. Ao me mudar para a Casa Cadogan, havia feito um novo compromisso com a ordem fraternal dos vampiros e isso evidentemente significava algo para ele.
— Obrigada — disse; o vaso quente entre meus dedos, o calor de seu toque e o mais ligeiro arrepio de magia, persistindo ali.
Seu olhar sobre mim por um momento, sentindo a emoção em seus olhos, então se dissipou quando seu celular tocou. Pegou do bolso de seus jeans, olhou para a tela.
— Tenho que atender — disse.
— E tenho que ir — inclinou para frente, muito lentamente, pressionou seus lábios nos meus.
— Adeus, Merit — disse; depois se virou e caminhou pela calçada, desaparecendo pela porta.
Fiquei parada ali por um instante, tentando apanhar as emoções. Ele conduziu desde a Casa Navarre somente para surpreender-me com flores. Flores. E não flores de é-o-dia-dos-namorados-me-sinto-obrigado. Estas eram “flores somente porque sim”.
Tinha que lhe dar pontos extras, o garoto era bom.
Interessantemente, enquanto Morgan saía, Kelley entrava completamente
vestida de Cadogan, com a katana em sua mão, e um delicado casaco na outra mão.
Era interessante porque Kelley, como o resto dos guardas, vivia na Casa Cadogan. Uma vez que o sol havia se posto no horizonte fazia somente uma hora, tinha que lhe perguntar aonde, ou com quem, ela havia passado as horas do dia.
— Lindas flores — disse ela ao tempo que me alcançava na calçada.
— Um presente do novo Mestre da Casa Navarre?
— Sim, aparentemente — disse, virando-me para segui-la dentro da Casa.
— Um bom dia?— perguntei enquanto subíamos a escada até o sótão.
Parou brevemente quando alcançamos o vão entre os pisos e ela inclinou sua cabeça pensativamente, seus cabelos escuros caindo sobre os ombros enquanto se movia.
— Se surpreenderia — disse de forma gutural, então continuou seus passos até o sótão.
Fiquei em pé sobre as escadas por um momento, observando-a continuar, a curiosidade matou ao gato, então me obriguei a me por no trabalho. Inclusive embora apenas começasse o dia, o Quarto de Operações estava já revoando de atividade.
Lindsey e Juliet estavam já em suas respectivas estações de trabalho. Juliet navegando na Web, provavelmente fazendo pesquisa. Lindsey estava de serviço pelas imediações, olhando fixamente os monitores de circuito fechado enquanto falava em voz baixa, mas constante pelo auricular e microfone enroscado ao redor de sua orelha.
Coloquei as flores sobre a mesa de conferência, depois fui para a parede de cortiça que continha as instruções, avisos, expedientes, e qualquer outra coisa que Luc estimava que necessitássemos saber. Dentro havia uma única folha de papel cor
narciso. Tinha simplesmente duas frases ameaçadoras: “Celina Desaulniers liberada.
Espera-se infiltração em Chicago.”
Olhei as outras folhas, cada uma continha a mesma folha amarela. Ethan deve ter espalhado a notícia. A voz havia corrido, e assim também a advertência. Celina estava provavelmente a caminho... se não é que já estava aqui.
Com essa motivação em mente, decidi que já era tempo de fazer meu dever
como Sentinela. Comecei com minha tarefa, entregando o convite dos Breck a Luc.
—Para Ethan. — disse. — Sexta à noite com os Breckenridges.
Ele espiou o interior do envelope, em seguida assentiu com a cabeça.
— Trabalho rápido, Sentinela.
— Sou uma deusa entre os vampiros, chefe — com esse ponto feito, peguei o fino fone com microfone localizado na prateleira, o deslizei pelo meu rabo de cavalo, e caminhei para o monitor de Lindsey.
— A fofura ardendo no trabalho — disse Lindsey, e meu fone cobrou vida.
— Sentinela — saudou uma voz grave no fone. Essa voz grave pertencia a uma fada RDI nos portões de Cadogan. Elas mantinham a vigilância enquanto dormíamos (ou no, caso de Kelley) e ficavam grudados nos portões 24/7. Os fones nos mantinham a todos em contato no caso de uma catástrofe sobrenatural.
Como uma vez disse a Mallory, nunca se sabe quando os desagradáveis
gigantes alados iam descer mergulhando desde o céu e arrebatar um vampiro.
Acaso eu não tinha um grande trabalho, ou o que?
Segurando a respiração, arrumei meu fone, puxei o rabo loiro de Lindsey, e me dirigi para a porta.
— Estou à caminho — disse ao pequeno microfone de queixo.
— Estarei lá em dois.
— Empacote seu batom — Luc jogou.
Assim como Lindsey, Juliet e Kelley, eu olhei para trás. — Batom?
— Paparazzi — disse. — RDI os juntou, mas permanecem na esquina. — Ele
meio que sorriu.
— E eles têm câmeras.
Kelley olhou para trás do monitor do seu computador.
— Eu os vi no caminho de entrada. Talvez uma dúzia — girou de volta ao monitor.
— Todos ávidos por
imagens dos novos favoritos de Chicago — se queixou.
Fiquei parada no marco da porta por um minuto, esperando por algo mais que as diretrizes de Luc.
— Que diabos se supõem que deveria fazer com os paparazzi? —Mas não obtive nada até que me expulsou da porta.
— Tem lido seus pontos de conversação, espero — disse. — Vá, vá em frente...e Sentinela — não foi até que estivesse fora no caminho para as escadas, quando escutei as palavras gritadas em minhas costas. — E sem fotos do traseiro, Sentinela!
Isso eu podia fazer.
Apesar de a Casa ter estado quase vazia uns minutos atrás, o primeiro piso estava agora salpicado de vampiros na veste negra de Cadogan, alguns com ferramentas em suas mãos. Todos ocupados e sobrenaturalmente atrativos, preparando-se para as noites entre os humanos ou, como eu, noites em serviço na Casa e seu Mestre.
Alguns olhavam enquanto eu passava com suas expressões indo desde a
curiosidade ao absoluto desprezo. Não havia deixado as melhores impressões em meus companheiros novatos, havendo desafiado Ethan somente poucos dias logo depois de minha transformação. O quase colapso que ocasionou na cerimônia de Juramento, na qual eu acidentalmente ignorei as ordens de Ethan, não ajudava. Ethan me havia feito Sentinela no Juramento, me dando o dever histórico de defender a Casa Cadogan. Mas Lindsey tinha razão, a posição me separava dos outros vampiros. Meus companheiros guardas haviam sido um apoio, mas sabia que o resto da Casa sempre
se perguntava. “Ela é leal? Ela é forte? Ela está dormindo com Ethan?”
(Eu sei. Esse último é perturbador para mim também. Realmente)
Saí da gigantesca Casa revestida em pedra para a porta da frente, logo tomei a calçada até o portão principal, assentindo com cabeça para duas fadas vestidas de preto que permaneciam em guarda. Eram altos e finos, com um comprido cabelo liso puxado para trás de seu belo, embora angular, rosto. Seus uniformes eram camisas negras, calças cargo metidas perfeitamente dentro de suas botas negras, e negras bainhas de espadas. Eles tinham caras fraternalmente parecidas, a tal ponto que não
poderia diferenciá-los. Não saberia se eram irmãos, gêmeos, ou inclusive parentes.
Nem sequer conhecia seus nomes, e minha pesquisa com os outros guardas para cavar informações não havia sido bem sucedida. Parecia que a equipe RDI preferia, em todo caso, interagir com os vampiros puramente sobre a base profissional.
Lindsey havia adotado chamar aos guardas de "Gêmeos". Eu me conformava com Rob e Steve. Não estava segura de qual era Rob ou Steve. Estiveram vigiando a Casa esta noite, mas eles me assentiram com a cabeça em resposta, e aquele ato,
embora frio, era confortavelmente familiar. O pouco que havia aprendido acerca do sobrenatural nos últimos dois meses me fez alegrar que estes dois guerreiros com espadas, estivessem do nosso lado... ao menos tanto como os pagamos para que
estejam.
— A imprensa? — lhes perguntei. Um deles olhou abaixo para mim, uma
sobrancelha angulosa levantada dos seus quase 1,90. Mesmo dos meus 1,79, repentinamente me senti muito, muito pequena.
— Na esquina — disse ele, logo voltou seu olhar para rua a frente dele.
Havendo aparentemente perdido sua atenção, dei uma olhada na rua.
Efetivamente, ali estavam. Dado ao tamanho de amontoados deles, eu supus uma dúzia.
Uma vez que os rumores dos paparazzi serem mais maleáveis que os críticos, os guardas haviam feito um impressionante trabalho de distanciamento. Por outra parte,
quem não obedeceria ao mais doce par de pés com espadas?
Andei em direção a rua, planejando fazer um estudo do perímetro antes de retornar para a varredura dentro do terreno. Não estava segura que teria a habilidade inata de olhar um grupo de repórteres, mas supus que este era tão bom momento como qualquer outro para por a prova a confiança que Ethan esperava que mostrasse na noite de sexta-feira. Mantive meu sorriso vagamente satisfeito ao tempo que andava na direção deles, observando-os através da minha franja.
Quando me aproximei, a confiança era um pouco mais fácil de fingir. Apesar de que levassem as expressões de homens empenhados em conseguir a "Próxima Grande Foto", o odor do medo flutuava no ar. Talvez a proximidade com os guardas RDI, talvez a proximidade com os vampiros. Irônico, não é? Que eles tenham medo das pessoas (além) que estavam obsessivamente tentando capturar em filmes?
Quando era mais jovem, e ainda bem integrada no clã dos Merit, havia sido fotografada com minha família em eventos de caridade, eventos esportivos, a construção ou destruição de importantes edifícios de Chicago. Mas os repórteres eram
diferentes nesta ocasião, como assim também era meu papel. Era o prato principal, não simplesmente uma linda garotinha sendo arrastada ao redor de Chicago por pais em ascensão social. À medida que me aproximava, começaram a gritar meu nome, clamando por minha atenção, pela perfeita foto do título.
Os flashes estalaram e fiquei cega por um instante. Trazendo a superfície um pouco da minha nova atitude de fingir até conseguir golpear os dedos de minha mão esquerda contra o punho da espada, e me deleitei na forma como que seus olhos se
pressionaram contra as esquinas.
Como uma presa.
Mordi a borda do lábio de forma provocante.
— Boa noite, cavalheiros.
As perguntas vieram tão rápido que eu apenas podia diferenciá-las.
— Merit, mostre-nos a espada!
— Merit, como estão as coisas na Casa Cadogan esta noite?
— É uma bela noite de primavera em Chicago — disse, sorrindo sagazmente, —E estamos orgulhosos de estar na Cidade dos Ventos.
Eles fizeram pergunta. Mantive-me nos pontos de conversação que Luc nos havia previsto a noite passada, graças aos céus havia tido tempo de olhá-las. Não que houvesse muito neles, na sua maioria bobagens acerca do nosso amor a Chicago e nosso desejo de assimilar, de ser parte dos bairros ao nosso redor. Afortunadamente esses eram os temas em suas perguntas. Ao menos no princípio.
— Ficou surpresa em saber que o autor dos assassinatos do parque era um vampiro? — uma voz atirou de repente.
— Estiveram satisfeitos com a extradição de Celina Desaulniers?
Meu sorriso vacilou, e meu coração ficou parado em meu peito. Isso era
exatamente o tipo de pergunta que Ethan e Luc temiam. O tipo que se supunha que Jamie deveria perguntar.
— Nenhuma resposta? — o repórter perguntou, dando um passo a frente da multidão.
Desta vez meu coração quase parou por completo. Era um Breckenridge, mas não o que eu esperava ver. Suponho que todos, vampiros e humanos por igual voltam
a Chicago eventualmente.
— Nicholas?
Ele estava igual, mas mais alto. Mais sério, de alguma forma. Cabelo castanho, corte César, olhos azuis. O menino era magnífico de uma maneira estóica. Era fino, estava agora em jeans Dr. Martens, e uma camiseta apertada de cor cinza. Também tinha uma expressão indecifrável, nenhum sinal em seus olhos de que me conhecia ou que ele estivesse disposto a reconhecer nossa história compartilhada.
Com frequência me perguntei como seria ver Nick novamente, se haveria camaradagem ou algo mais distante. Esse último, aparentemente, dava sua postura ao negócio.
Aqui estamos com uma cálida reunião.
Ao parecer sem sequer pestanejar, Nick continuou.
— Foi o castigo de Celina Desaulniers suficiente, tendo em conta os atrozes crimes que ela ajudou a cometer em
Chicago? Pela morte de Jennifer Porter e Patricia Long?
Como estavam jogando fazer-se de mudo a respeito de nossa relação, retornei o mesmo olhar "estritamente negócios", vagamente condescendente.
— Celina Desaulniers cometeu um terrível crime contra as Srta. Long e a Srta Porter — disse.
Foi-me concedido agradecidamente manter meu próprio ataque em segredo. O fato de um Merit ter se tornado vampiro era de conhecimento público, a forma da minha conversão não, ao menos entre os humanos.
— Como resultado de sua participação nos assassinatos, ela foi castigada. Ela renunciou sua vida nos Estados Unidos e a sua liberdade por ter tomado parte naqueles crimes.
Meu estômago se torceu ante a omissão, ante o feito de que não havia mencionado que Celina havia sido liberada e já não estava, de fato, cumprindo sua condenação no cárcere. Mas essa pequena admissão haveria causado uma asquerosa
tormenta de pânico que preferia deixar a cargo de Ethan e os outros Mestres.
Coloquei minha melhor cara profissional.
— Se tem mais perguntas sobre as
reações das Casas a esse castigo — adicionei. — Pode conduzi-las a nosso pessoal de relações publicas.
Toma essa, Breckenridge.
Ele tomou, arqueando uma sobrancelha arrogante em resposta.
— É isto o que os cidadãos de Chicago devem esperar dos vampiros vivendo entre nós? Assassinatos? Caos total e mutilações?
— Os vampiros têm estado em Chicago por muitos anos, Nick — chamá-lo por seu nome foi suficiente para enviar olhadas curiosas entre os outros fotógrafos. Alguns baixaram suas câmeras, olhavam uns aos outros, provavelmente perguntando-se sobre
o diálogo.
— E temos convivido pacificamente juntos por um bom tempo.
— Segundo você — disse Nick. — Mas como sabemos que todos esses crimes não foram cometidos por vampiros?
— Julgando a todos os vampiros pela simples ação de uma maça podre? Isso é clássico, Nick.
— Vocês todos tem presas.
— De modo que isso justifica o preconceito?
Encolheu os ombros novamente.
— Se o sapato se encaixa...
Não havia nenhum erro de aversão em sua voz. Mas o que me confundiu foi sua fonte. Nick e eu havíamos terminado nossa relação na escola quando fomos para nossas respectivas universidades, o programa de Jornalismo de Yale para Nick, e o
programa de Inglês da Universidade de NY para mim. Nosso rompimento havia sido bastante dramático, ambos havíamos chegado a conclusão que éramos melhores como amigos do que como casal. Chamadas telefônicas ocasionais e e-mails nos mantiveram em contato, e nós havíamos ido para direções opostas sem mal entendidos entre nós. Ou isso eu acreditava.
Essa não era a única coisa estranha. Sim, os vampiros estavam recebendo golpes da parte dos Breckenridge, porque era Nick e não Jamie, que dava os golpes?
Algo muito estranho estava acontecendo.
— Merit! Merit!
Afastei meu olhar, longe da amargura dos olhos de Nicholas.
— Merit, tem algo de verdade no rumor de que esta vendo Morgan Greer?
Bem, agora estamos de volta ao caminho. Que a justiça seria amaldiçoada se íamos discutir sexo.
— Como Sentinela da Casa Cadogan, eu vejo o Sr. Greer várias vezes. Ele é um dos Mestres de Chicago, como todos vocês sabem.
Sorriram ante a diversão, mas seguiram pressionando.
— Mas há um pouquinho de romance, Merit? Vocês formam um casal quente? Isso é o que nossas fontes disseram.
Sorri alegremente ao repórter, um homem magro, com espesso cabelo loiro e barba de uma semana.
— Você me diz quem são suas fontes — disse. — E eu responderei essa pergunta.
— Sinto muito, Merit. Não posso revelar uma fonte. Mas são confiáveis. Dou minha palavra.
O grupo de jornalistas riu pelo intercâmbio.
Devolvi o sorriso.
— Odeio ter que estourar sua bolha, mas não me pagam para tomar sua palavra nas coisas.
O bolso da jaqueta vibrou, era meu celular. Não estava emocionada de deixar a um misteriosamente enojado Breckenridge em meu canto, especialmente entre curiosos humanos com canetas, gravadores e câmeras, mas tampouco queria falar
com quem seja que esteja chamando, em frente a esses curiosos humanos. Além do que, necessitava seguir em frente, havia outras partes do terreno. Havia todo o quarteirão da grande Casa Cadogan para percorrer. O telefone tocando me ofereceu
uma desculpa útil para me afastar.
— Boa noite, cavalheiros — ofereci e os deixei para trás, ainda gritando meu nome.
Deslizando o celular vibrando em meu bolso, fiz uma nota mental para atualizar Ethan e Luc sobre esse último desenvolvimento com Breckenridge. Justo depois que
descobrisse o que demônios estava acontecendo. Ou teríamos uma fonte de ignorantes que não sabia diferenciar entre os Brecks, ou tínhamos uma má fonte a quem não interessava muito, e estava tratando de nos levar pelo caminho errado. Não estava segura qual possibilidade era pior.
Enquanto me movia pelo quarteirão, os flashes das câmeras continuavam
explodindo atrás de mim, elevei o telefone ao meu ouvido. A gritaria começou quase imediatamente.
Pressionei uma mão contra meu outro ouvido.
— Mallory? O que aconteceu?
Mas consegui captar somente poucas palavras de sua primeira descarga –
“Ordem”, “Catcher”, “Magia”, “Detroit”, e o que supus no ímpeto da chamada, a frase
“três meses”.
— Querida, preciso que se acalme. Não posso entender o que está dizendo.
A bruxinha desacelerou, mas ela mudou para um bando de palavras de quatro letras que empolaram inclusive meus cansados ouvidos vampiros.
—...e se esse imbecil acredita que vou passar três meses em Detroit em algum tipo de estágio, ele está seriamente equivocado. De verdade! Ou juro por Deus, Merit, vou mandar longe a próxima pessoa que chegar a sussurrar a palavra “magia”.
Que Catcher era um imbecil era fácil de adivinhar, mas o resto era um pântano.
— Estou brincando de caça palavras por aqui, Mal, Catcher quer enviar você a Michigan por três meses?
Escutei a respiração ritmada, como se ela estivesse praticando no labirinto
durante uma longa contração.
— Ele falou com alguém da Ordem. Aparentemente, a Ordem não tem um local em Chicago, apesar do fato de que somos a terceira maldita
maior cidade do país. De todo jeito, este não é o problema. Isso é algum tipo de lixo histórico, e é parte da razão pelo qual ele foi chutado para fora, de modo que eles querem me enviar a Detroit para que assim possa treinar com alguma classe de
feiticeiro oficial para evitar a tentação de usar magia publicamente, que em primeiro lugar não sei como usar. É ridículo Merit! Ridículo!
Continuei caminhando, prestando atenção ao redor enquanto ela continuava com o discurso. Seria fácil lidar com estas coisas sem ter que me preocupar com Trolls e Orcs saltando atrás de cada poste de luz. Oh, isso me fez parar. Havia Orcs em Chicago?
— Tenho que partir em dois dias! — disse. — E este é o verdadeiro golpe no saco, sem viagens de volta a Chicago, sem viagens fora de Detroit completamente, até que o estágio acabe.
— Estou certa que meninas não tem saco — fiz essa observação. — Mas
compreendo seu ponto. Catcher tem uma história com a Ordem. Não podem chegar a um acordo?
Mallory bufou.
— Isso é o que eu queria. Encurtando a história, Catcher perdeu sua antiguidade e todos os demais, quando elegeu ficar em Chicago. Essa é a razão aparentemente pela qual o expulsaram, porque ele optou em ficar aqui, e eles não acreditam que a Ordem necessitava de um feiticeiro em Chicago. Está um pouco baixa
a demanda no momento. Você sabe, é uma merda que não tenha uma escola de feiticeiros de meio período. — Mallory disse.
— Magia vo-tech ou algo parecido...
querida?
Sorri para a pausa na conversa, o sopro intermitente que indicava que tinha sido ali que ela se referia a ele como um imbecil. Tendo em conta os treinamentos que havia me feito passar ultimamente, estava feliz que ele estava tomando alguns golpes
do seu lado. Quero dizer, entendia que precisava me preparar para o pior, especialmente desde que Celina havia sido liberada, mas é somente que havia tantas vezes em que uma menina precisava passar raspando pelo assovio da lâmina de uma
antiga espada samurai.
— Não — ela disse finalmente.
— Huh — disse, parte de meu cérebro perguntando por aqueles detalhes, o
homem era intratável e evasivo quando o assunto era a Ordem, enquanto a outra metade analisava o que parecia como uma brecha na cerca que cobria o portão de
ferro forjado. Caminhei mais pela cerca e peguei um par de folhas que eram apenas visíveis em um feixe de luz do poste. Afortunadamente, por cima da minha esperta inspeção, parecia como um ponto marrom sobre o verde, não a obra de um sabotador ou um aspirante a ladrão. Fiz nota mental de avisar a... bom, não tinha ideia de quem avisar, mas aposto que tínhamos algum tipo de jardineiro.
— Está prestando atenção? Quase estou tendo uma enorme crise nervosa aqui, Mer.
— Sinto muito, Mal. Estou de guarda e fazendo minhas rondas do lado de fora — continuei caminhando, inspecionando a escura e deserta rua. Sem muitas coisas acontecendo uma vez que se passa por uma dúzia de paparazzi.
— A Ordem é como um sindicato, certo? Portanto não pode apresentar uma queixa sobre esta viagem a
Detroit?
— Hummm. Boa pergunta. Catch, nós podemos nos queixar sobre isso?
Escutei uma conversa em murmúrios.
— Não podemos apresentar queixa disso — Mallory finalmente me informou.
— Mas se supõe que devo ir em dois dias! Precisa trazer este lindo traseiro para cá e me consolar. Estou falando, de Detroit, Merit. Quem passa três meses em Detroit?
— Os cidadãos e alguns milhões de Detroit seria uma estimação preliminar. E não posso ir neste instante. Estou trabalhando. Posso re-agendar quando terminar meu turno?
— Acho que sim E para sua informação, Darth Sullivan está pondo um abismo em nossa amizade. Sei que está vivendo aí agora, mas ainda deve estar disponível quando eu chamar.
Respondi.
— Darth Sullivan estaria em desacordo, mas farei o que puder.
— Estou indo ao Chunky Monkey — Mal disse. — Ben e Jerry me consolam até você chegar aqui. — Desligou antes que eu pudesse dizer adeus, provavelmente já com duas bolas de sorvete. Decidi que ela estaria bem. Ao menos até que pudesse chegar ali.
O resto do meu turno passou, por sorte, sem nenhum drama. Enquanto estava aprendendo o que podia, quando meu treinamento estava programado, e realizando o
que sentia como guarda descuidada, não tinha nenhuma ilusão sobre minhas habilidades de tratar com o desconforto que possa vir rastejando pela escuridão.
Certo, eu tinha conseguido estacar Celina no ombro quando esta lançou sua tacada final contra Ethan, mas tinha apontado seu coração. Sim, se algo ou alguma coisa reunissem a força e valor para atacar a Casa Cadogan, minha espada e eu íamos
dificilmente espantá-los. Eu me considerava mais como um primeiro aviso. Talvez não seja capaz de aleijar a qualquer dos meninos maus, mas podia ao menos alertar o resto da tropa, a muito mais experiente tropa, do problema.
E falando em problemas, embora eu soubesse que precisava reportar os
últimos acontecimentos com os Breckenridge, o fato de que Nick estava de volta a Chicago e de que ele havia acampado do lado de fora com os repórteres, havia passado tempo suficiente com Ethan e Luc discutindo sobre o drama sobrenatural durante os últimos dias. Além do mais, tinha algumas perguntas para Nick, perguntas que não podia fazer frente a uma manada de repórteres. Perguntas sobre a nova descoberta hostilidade de Nick. Ethan e eu estaríamos na Quinta Breckenridge amanhã a noite. Sim, Nick estava ali, teria tempo para fazer um pouco de investigação por conta própria.
Soava como um bom plano, um sólido curso de ação para uma Sentinela
novata. Ou isso, ou uma maneira muito detalhada de continuar evitando Ethan.
— Ganhar, ganhar — murmurei com um sorriso.
Para adicionar um pouquinho mais de espaço entre Darth Sullivan e eu, e para compensar Mallory por cuidar de mim durante minha própria estranha transição sobrenatural, me coloquei em meu Volvo e conduzi de volta até Wicker Park para prover um pouco de consolo para a minha melhor amiga, pós-trabalho.
A casa de pedra calcária estava bem iluminada, enquanto estacionava o carro, mesmo nas primeiras horas da manhã. Não me incomodei em tocar a campainha, só caminhei direto para a cozinha. Que cheiro delicioso.
— Frango e arroz — Mallory anunciou de seu lugar em frente ao fogão, onde estava colocando colheradas de arroz e molho em um prato. Colocou um pedaço de frango grelhado em cima do lombo, logo sorriu.
— Sabia que queria comida.
— Você é uma deusa entre as mulheres, Mallory Carmichael. Peguei o prato e sentei em um banquinho na cozinha. O maliciosamente super metabolismo vampiro era genial para manter a linha, mas terrível para o apetite. Era raro quando não me
perdia sonhando com um animal grelhado, assado ou frito. Certo, precisava de sangue para sobreviver, depois de tudo, era um vampiro, mas como Mal uma vez disse; o sangue era como qualquer outra vitamina. Ele apenas preenchia de uma forma muito importante. Reconfortante, como sopa de galinha para vampiros. Que vinha em bolsas plásticas e era entregue em sua porta por uma companhia pouco criativa chamada
Blood4you, não diminui o conforto, mas deixaram muito a desejar no que se refere a elegância.
O frango e arroz, no entanto, foi um duro golpe para o apetite. Era uma receita deliciosa, e uma das primeiras comidas que Mallory havia cozinhado para nós quando nos convertemos em companheiras de quarto três anos atrás. Era bom demais, ou seja, melhor que qualquer coisa que pudesse obter na cafeteria da Casa Cadogan.
Catcher entrou suavemente na cozinha, descalço, em jeans e colocando uma camiseta. Ele baixou a tempo de ocultar a tatuagem em círculo que marcava seu abdômen. Era um circulo dividido em quadrantes, uma representação gráfica da organização da magia em quatro chaves.
— Merit — disse ele, dirigindo-se a geladeira. — Vejo que conseguiu estar fora, quanto, umas completas vinte e quatro horas?
Mastiguei um grande bocado de arroz e frango, engoli.
— Estou investigando feiticeiros desobedientes.
Ele grunhiu e pegou a caixa de leite, tomou diretamente da caixa. Mallory e eu o observamos, a mesma careta em ambas as caras. Claro, fiz o mesmo com o sangue, mas ele era um menino, e era leite. Isso era simplesmente nojento.
Lancei um olhar para ela, quem encontrou meu olhar e revirou os olhos.
— Ao menos está colocando o papel higiênico no rolo agora. Esse é um grande avanço. Eu te amo, Catch.
Catcher resmungou, mas estava sorrindo enquanto resmungava. Logo após fechar a porta da geladeira, se juntou a nós ficando em pé próximo a Mallory em seu lado da cozinha.
— Assumo que Sullivan te colocou a par do assunto Celina?
— De que provavelmente ela está a caminho de Chicago para cuidar de mim?
Yeah, ele mencionou isso.
— Celina foi solta? — Mallory perguntou, lançando um olhar preocupado em direção a Catcher.
— É verdade?
Ele assentiu com a cabeça.
— Não vamos emitir um comunicado para a imprensa e nem nada, mas sim — depois olhou para cima e para mim.
— Eu me pergunto se os vampiros desfrutam de um drama, porque continuam provocando um
monte deles.
— Celina continua fazendo mais do mesmo — expliquei, apontando para ele com meu garfo.
— Estava mais do que feliz de mantê-la trancafiada em um úmido calabouço Britânico. — Engoli outro bocado de frango, meu apetite aparentemente inalterado pela possibilidade de que uma vampira narcisista estivesse atravessando o
Atlântico para chegar a mim. Por outro lado, pode ser que me convinha desfrutar da comida enquanto pudesse.
— Agora que discutimos isso — disse mudando de tema. — Alguém vai me
colocar em dia sobre o drama de feiticeiros.
— Eu passo — Mallory disse.
— Schaumburg — Catcher disse secamente. — Vou levá-la a Schaumburg.
— De modo que, nada de Detroit? — perguntei, olhando de um para o outro.
Era uma diferença bem grande, sendo Schaumburg um subúrbio ao noroeste da cidade. Estava a 30 milhas de um Grande Lago mais próximo de Chicago, e de mim, que Detroit.
Mallory apontou o polegar para Catcher.
— Esse aí fez uma chamada telefônica. Aparentemente, não havia perdido todas as influências com a Ordem.
Como se fosse uma pista, a expressão de Catcher se nublou.
— Tendo em conta que foram chamadas, no plural, antes que eles deixassem sequer que Baumgartner se aproximasse do telefone, dizendo que havia tirado exageradamente as minhas influências. Simplesmente digamos que eles cederam um pouco sua posição em relação a manter uma feiticeira na área metropolitana de Chicago.
— Quem é Baumgartner? perguntei.
— O presidente da LA 155 — diante do meu olhar em branco, Catcher
esclareceu.
— Meu antigo sindicato, Local 155, o Sindicato Confederado dos Feiticeiros e lançadores de encantamentos.
Quase me engasgo com o frango, e quando terminei com o ataque de tosse, perguntei.
— É a sigla para “U-ASS*”?

Mordidas de sexta a noite 2Onde histórias criam vida. Descubra agora