Aquela declaração foi tão bem recebida quanto você pode ter imaginado.
Ethan virou-se e imediatamente abriu seu celular, não querendo entrar em uma discussão sobre a possibilidade de a nossa atual situação estar sendo causada por um de seus guarda-costas. Um dos meus colegas. Ethan ligou para a Casa, informando a
Malik e Luc sobre a ameaça, mas não oferecendo nenhuma informação sobre meu grupo de suspeitos.
Como se nada estivesse errado, os guardas foram postos em modo de
investigação, sua missão era identificar toda e qualquer informação a respeito da suposta ameaça contra Jamie. Eu também estava em modo de investigação, e eu admito que minha lista de suspeitos era curta. Uma mulher havia feito a ligação para a Casa Cadogan... e eu vi Kelley chegando à Cadogan depois de ter passado o dia inteiro em outro lugar. Será que ela era o vampiro Cadogan com um chip em seu ombro? A ligação até Celina? Ávida para resolver o mistério, peguei emprestado um telefone da e liguei para o escritório de Ombud, informando meu avô sobre as últimas.
— Jeff, eu tenho um problema.
— Que bom que você finalmente se deu conta de que eu sou a sua solução.
Está bem, então o clima não estava exatamente leve, mas eu não pude evitar o riso pela sua resposta.
— Alguém está usando mensagens de e-mail para fazer ameaças em nome da Casa Cadogan — eu disse a ele, abrindo meu celular e vendo minha assinatura de e-mail. Sempre eficiente Nick já havia encaminhado a mensagem de e-mail.
Se fosse com a gente, teríamos pego uma boa e sólida estaca de madeira. Mas isso é muito bom para ele. Talvez esquartejamento. Ter os membros e entranhas retirados ainda estando consciente para que possa sentir toda a dor. Entende como é, afogar? Pendurar? Uma lenta morte pela lâmina de uma espada, um corte de ponta a ponta, para que o sangue e a carne sejam tudo o que restou de você?
Por falar nisso, o mais novo leva primeiro.
Eu me arrepiei enquanto lia isso, mas eu apreciei o fato do autor desta ameaça não ter tentado rimar. Eu também me perguntei se Kelley seria capaz desse tipo de violência, desse tipo de raiva. Essas questões não tinham resposta. Eu pedi a Jeff seu e-
mail e mandei a mensagem para ele.
— Eita — ele disse depois de um momento, aparentemente tendo lido. — isso é bizarro.
Isso era bizarro. Porem, isto é notavelmente sem detalhes sobre o motivo de Jamie ter sido escolhido. Que ele era um Breckenridge parecia o único fato contra ele.
— Isso é bizarro — eu disse. — E nós precisamos descobrir de quem isso veio. Será que você pode dar o seu jeitinho especial nisso?
— Tá na mão — Jeff disse automaticamente, o som constante de teclas ao fundo. — Ele encobriu o endereço de IP dele, coisa rudimentar, mas eu tenho que acompanhar. O e-mail é bastante genérico, mas como um representante da nossa bela
cidade, pode ser capaz de fazer uma chamada.
— Fique a vontade — eu disse a ele. — Mas tem uma pegadinha, eu preciso
dos detalhes assim que você os obtiver. — Eu chequei a hora no meu celular, era quase meia noite. — Como está seu horário para as próximas horas?
— Flexível — ele disse. — Assumindo o pagamento certo.
Eu rolei meus olhos.
— Diga seu preço — silêncio. — Jeff?
— Eu poderia... posso te responder isso depois? Eu estou meio indeciso e eu quero ter certeza de que eu tirei o melhor proveito possível da situação. Quer dizer, a não ser que você esteja disposta a me dar dois ou três...
— Jeff — eu disse, interrompendo o que estava destinado a ser uma longa e lasciva lista. — Por que você não me liga quando tiver algo?
— Eu sou seu homem, quer dizer, não literalmente ou algo do gênero, eu sei que você e Morgan têm algo rolando, apesar de não estarem oficialmente juntos, não é?
— Jeff.
— Oi.
— Ao trabalho.
Com nossos contatos na trilha da informação que possa apaziguar os Beckers, Ethan e eu saímos da sala do meu pai e fomos em direção a porta da frente através da multidão de pessoas. A casa estava lotada, e levou alguns minutos em que nos esprememos entre as pessoas e aperto de mãos até chegarmos ao outro lado. Eu acho que consegui sorrir educadamente para as pessoas enquanto eu passava, mas minha
mente estava totalmente focada em um Breckenridge particular. Eu não entendia como ele poderia pensar que eu era capaz de fazer todas as coisas que ele nos acusou.
Eu mordi a ponta de meus lábios enquanto atravessávamos a multidão, lembrando-me das cenas da minha infância. Nick tinha sido meu primeiro beijo. Nós estávamos na biblioteca do seu pai, eu tinha 8, 9 anos, usando um vestido de festa
sem mangas que me incomodava. Nick havia me chamado de “garota burra” e me beijado porque eu o havia desafiado, um rápido selinho que parecia tê-lo enojado tanto quanto tinha me encantado, mesmo que eu sempre o tenha vencido em
qualquer jogo que brincávamos. Logo que ele me beijou, ele saiu correndo do escritório de seu pai em direção do corredor.
— Garotos têm piolho! — eu gritei, meus sapatos batendo no chão enquanto eu corria atrás dele.
— Você está bem?
Eu pisquei e olhei para cima. Nós havíamos chegado até o outro lado da sala.
Ethan havia parado e estava me olhando curiosamente.
— Apenas pensando — eu disse. — Eu ainda estou em choque em relação a
Nick, ao seu pai. Sobre a atitude deles. Nós éramos amigos, bons amigos. Bons amigos por muito tempo, Ethan. Eu não entendo como chegou a isso. Houve uma época em que Nick teria me perguntado, não me acusado.
— O presente da imortalidade — Ethan disse secamente, então olhou para os ricos e famosos de Chicago, saboreando seus champagne enquanto a cidade vibrava ao redor deles.
— Infinitas oportunidades para traição.
Havia uma parte de sua própria vida por detrás de sua afirmação, eu acho, mas eu não conseguia ver além da minha. Ethan sacudiu sua cabeça como para clareá-la, e pôs uma mão nas minhas costas.
— Vamos para casa — ele disse.
Eu concordei, sem vontade de argumentar que Cadogan não era um lar na verdade. Nós havíamos apenas entrado na ante-sala quando Ethan parou, tirando sua mão de minhas costas. Eu olhei para cima. Morgan estava parado perto da porta, braços cruzados, usando jeans surrados e camisa branca de manga comprida, uma única mecha castanha. Eu exalei uma praga, percebendo o que Morgan havia visto. Eu em um vestido de festa, Ethan com seu terno, sua mão nas minhas costas. Nós dois juntos na casa dos meus pais, depois de eu não ter me importado de retornar as
ligações de Morgan. Isto é definitivamente nada bom.
— Acredito que alguém invadiu a sua festa, Sentinela — Ethan suspirou.
Eu o ignorei, e eu só tinha dado um passo para frente quando me senti caindo em um túnel. Eu tive que segurar o braço de Ethan só para permanecer ereta. Era aconexão telepática que Morgan e eu havíamos formado quando ele desafiou Ethan na Casa Cadogan. A ligação só deveria acontecer entre um vampiro e seu Mestre, o que poderia explicar o motivo de a ligação com Morgan ter esse grande efeito e parecer tão forte.
— Eu tenho certeza que você tem uma explicação — ele disse silenciosamente.
Eu molhei meus lábios, tirei meus dedos do Ethan e forcei minha coluna a ficar reta.
— Eu te encontro lá fora — eu disse a Ethan. Sem esperar por uma resposta, eu andei em direção a Morgan, forçando-me a manter meus olhos nos dele.
— Nós precisamos conversar — Morgan disse alto quando eu cheguei a ele, os olhos dele levantando para o homem ao meu lado, pelo menos até que ele saiu silenciosamente pela porta.
— Venha comigo — eu disse, minha voz firme.
Nós seguimos por um corredor de concreto para a parte de trás da casa, as paredes ainda com o aspecto de madeira. Eu escolhi uma porta qualquer, uma brecha no concreto, e a abri. A luz da lua entrava por uma pequena janela na parede oposta.
Eu permaneci quieta por um segundo, então dois, e deixei meus olhos predatórios se acostumarem à escuridão. Morgan entrou no aposento logo atrás de mim.
— Por que esta aqui? — eu perguntei a ele. Houve um momento de silêncio antes de ele encontrar o meu olhar, uma sobrancelha elevada em acusação.
— Alguém sugeriu que eu veria algo interessante em Oak Park hoje à noite, então aqui estou eu. Eu assumo que você esteja ocupada trabalhando.
— Eu estou trabalhando — eu respondi, em tom de negócios.
— Quem te disse que estaríamos aqui?
Morgan ignorou a pergunta. Em vez disso ele arqueou suas sobrancelhas e com um olhar que teria derretido uma mulher mais fraca, percorreu seu olhar pelo meu corpo. Teve ondas de raiva radiando dele enquanto ele fazia isso, eu teria chamado o
movimento como um convite. Mas isso era diferente, um veredicto, eu acho, da minha culpa. Ele cruzou seus braços sobre o peito.
— É nisso que ele está te vestindo nesses dias enquanto você... trabalha? — ele soou como se eu fosse menos uma Sentinela e mais uma garota de programa. Minha voz estava tensa, palavras perfurando, quando eu finalmente falei.
— Eu pensei que você me conhecia bem o suficiente para saber que eu não estaria aqui, na casa do meu pai, se não houvesse um motivo fenomenalmente bom para isso.
Morgan deu um meio riso estrangulado e sem humor.
— Eu imagino que consigo adivinhar qual é o motivo fenomenalmente bom. Ou melhor, quem é o motivo.
— A Casa Cadogan é o motivo. Eu estou aqui, pois estou trabalhando. Eu não posso explicar o porquê, mas nem preciso dizer que se você soubesse, estaria suficientemente preocupado e mais apoiador do que você está sendo.
— Certo, Merit. Você me deixou, me ignorou e então dá a volta, me acusando de suspeitar de tudo, por querer algumas resposta. Você não retornou nenhuma das minhas ligações, e mesmo assim... — ele cruzou suas mãos atrás da cabeça.
— Você é a vitima aqui. Você deveria pegar o lugar da Mallory no McGettrick, essa troca seria ótima. — Ele concordou com a cabeça, então olhou para mim. — É, eu acho que isso seria realmente bom para você.
— Me desculpe por não ter ligado para você. As coisas têm sido um pouco loucas.
— Ah, têm sido? — ele soltou suas mãos e andou até mim. Ele levantou um dedo e traçou a ponta pelo meu corpete. — Eu notei que você está sem sua espada, Sentinela. — Sua voz era suave, luxuriante. Eu não estava acreditando.
— Eu estou armada, Morgan.
— Uhum — ele levantou seus olhos de meu busto e encontrou com os meus.
Eu consegui ver a dor em seu rosto, mas esta dor estava temperada com raiva. Raiva predatória. Eu o havia visto com essa mesma dor antes, quando ele havia desafiado Ethan no Casa Cadogan, acreditando erradamente que Ethan havia ameaçado Celina.
Que Ethan havia feito algo contra seu próprio Mestre. Aparentemente este era um tema recorrente a Morgan, a raiva de um homem que acreditava que outro vampiro estava atrás de sua garota.
— Se você tem algo para falar — eu disse a ele. — Fale de uma vez.
Ele me encarou por um longo tempo, nenhum de nós se moveu, mas quando ele falou, as palavras eram mais suaves e mais tristes do que eu esperava.
— Você está transando com ele?
Um beijo no corredor da Mallory ou não, nós dificilmente estávamos
namorando, Morgan e eu. Ele não tinha o direito a esse ciúme, e certamente nenhuma base para isso. Eu estava chegando ao meu limite de tolerância em relação a homens
ignorantes hoje. Minha raiva aumentou, fazendo com que meus braços tivessem calafrios. Eu deixei isso fluir ao meu redor, trabalhando para tirar as emoções do meu rosto, não deixar meus olhos prata, o vampiro adormecido.
— Você — eu comecei, minha voz baixa e no limite da fúria. — Está sendo incrivelmente presunçoso. Ethan e eu não estamos juntos, e você e eu não temos um compromisso. Você não tem o direito de me acusar de ser desleal, muito menos alguma base para isso.
— Ah — ele disse. — Eu entendo. — Ele olhou para mim, sem expressão. — Então vocês dois não estão juntos. Foi por isso que você dançou com ele?
Eu poderia ter confessado que isso fazia parte de um plano para criar
relacionamentos. Mas Morgan tinha razão. Eu tinha uma escolha, eu podia ter negado, eu podia ter delimitado limites com Ethan, podia ter lembrado a Ethan que estávamos na festa para informações e não por entretenimento. Eu podia ter lembrado que eu abri mão de tempo com meus amigos, para fazer meu trabalho e pedido para pular a dança. Eu não fiz nenhuma dessas coisas. Talvez pelo fato de ele ser meu Mestre, pois eu tinha uma ligação de dever a acatar suas ordens. Ou talvez, em segredo, eu queria dizer sim, tanto quanto eu queria dizer não, pelo desconforto que sinto perto dele.
Apesar do fato de ele não confiar em mim tanto quanto eu mereço. Mas como eu poderia admitir tudo isso para Morgan, que havia invadido a festa de meus pais para me pegar no ato de infidelidade? Eu não podia, tanto para mim ou para ele. Então eu fiz a única coisa que eu podia pensar, eu procurei minha saída.
— Eu não preciso disso — eu disse a Morgan, levantando minha saia, eu girei em meu salto e fui à direção da porta.
— Ótimo — ele disse atrás de mim. — Fuja. Isso é muito maduro, Merit. Eu
aprecio isso.
— Tenho certeza que você achará a saída.
— É, desculpa por ter interrompido sua festa. Tenha uma ótima noite, você e seu chefe, Sentinela — ele disso isso como uma maldição. Talvez tenha sido, mas que direito eu tinha de criticar? Ethan era minha obrigação. Meu dever, meu fardo. Meu “Liege”. Eu sabia que isso era imaturo, eu sabia que isso era infantil e errado. Eu olhei de volta para ele, seda girando ao redor de minhas pernas e, uma sobrancelha erguida, e dei a ele o olhar mais arrogante que eu conseguia.
— Me morda — eu disse e saí de lá.
Ethan estava do lado de fora, esperando ao lado do carro. Seu rosto inclinado para cima, olhos na lua cheia que deixava sombras contra a casa. Ele abaixou seus olhos quando eu andei pelo cascalho.
— Pronto? — ele perguntou.
Eu acenei e o segui até o carro. O humor da viagem de volta a Hyde Park estava mais sombrio do que foi a ida até a casa de meus pais. Eu silenciosamente olhei para fora da janela do carro, relembrando os eventos. Foram três vezes hoje a noite que eu consegui alienar as pessoas. Mallory, Catcher, Morgan. E para que? Ou melhor, para quem? Será que eu estava afastando todos para me aproximar do Ethan? Eu olhei para
ele, seu olhar na estrada, mãos no volante. Seu cabelo estava atrás de suas orelhas, seu olhar concentrado enquanto dirigia. Eu havia desistido da minha vida humana por este homem, não dispostamente, claro, mas mesmo assim. Será que eu estava desistindo de todo o resto? As coisas que eu trouxe comigo durante a transição, minha casa em Wicker Park? Minha melhor amiga?
Eu suspirei e voltei-me para a janela. Essas perguntas, eu acho, não serão
respondidas hoje à noite. Eu dificilmente estava com dois meses em minha vida vampiresca, e eu ainda tinha uma eternidade do Ethan pela frente.
Quando chegamos a Casa, Ethan estacionou o carro, e subimos do porão juntos.
— O que eu posso fazer? — eu perguntei quando nós chegamos ao primeiro andar, não que eu não tenha feito o suficiente em nome de Cadogan e de seu Mestre.
Ele enrugou o rosto e balançou a cabeça.
— Me deixe informado sobre o progresso de Jeff com o e-mail. Os Mestres estão investigando com seus recursos. Eu vou fazer algumas ligações até que eles cheguem. Enquanto isso — ele pausou, como se ele estivesse debatendo minhas
habilidades, então disse. — Tente a biblioteca. Veja o que você pode achar.
— A biblioteca? Pelo que irei procurar?
— Você é a pesquisadora, Sentinela. Desvende por si mesma.
Experiente o bastante para saber que um vestido de festa não é a vestimenta apropriada para uma pesquisadora, eu voltei ao meu quarto para me trocar, trocando a seda por jeans e um top preto com mangas pequenas (um terno antiquado, a meu ver, também não é considerado vestimenta de pesquisador). Eu estava aliviada, psicologicamente aliviada, por pendurar meu vestido no closet, vestir meus jeans e pegar minha katana. Ela parecia certa em minha mão, confortável, como se eu tirasse uma fantasia e voltasse à minha própria pele. Eu estava parada no meu quarto, mão esquerda na bainha da espada e a direita na empunhadura, apenas respirando.
Quando eu estava mais calma e pronta para enfrentar o mundo de novo, eu peguei uma caneta e alguns cadernos, pronta para começar minha própria linha de investigação. Quanto mais eu pensava, mais eu concordava com o Ethan de que a Celina tinha um papel nisso. Nós não tínhamos provas, mas isso era totalmente o seu estilo, promover a discórdia, colocar os jogadores em movimento e deixar a batalha prosseguir por si própria. Eu não tinha certeza de onde a Kelley se encaixava nisso, ou se ela realmente se encaixava, e eu não tinha exatamente as habilidades de um
investigador particular. Mas eu podia pesquisar, estudar, percorrer a biblioteca por informações. E mais importante, era algo em que eu poderia me afogar, algo que deixaria minha mente longe de outros assuntos. Longe de Morgan, e o que parecia o inevitável fim do relacionamento. Longe de Ethan, e a atração que, por mais que tenha
sido avisada, pairava entre nós. Longe de Mallory.
Eu encontrei a biblioteca quieta e vazia, e desta vez eu chequei duas vezes, deixei minhas canetas e cadernos na mesa e fui em direção às prateleiras.
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Mordidas de sexta a noite 2
VampirSinopse: Dez meses após vampiros revelarem sua existência aos mortais de Chicago, estão desfrutando de um status de celebridade normalmente reservados para a elite de Hollywood. Mas se as pessoas aprendem sobre as festas Raves, alimentação em massa...