A tampa do lixo.

118 16 0
                                    

Mesmo com o resto dos vampiros ainda estando sentados a mesa de
conferência, Luc havia se movido para mais perto da porta e estava se encostando em uma cadeira de couro quando nós entramos. Eu gostei da movimentação. Dessa forma, nós dois poderíamos acompanhar o Jeff para a mesa, dar proteção dos dois lados. Ainda que o Catcher houvesse me garantido uma vez que o Jeff podia cuidar de si mesmo, e vendo a fúria no olhar do Nick, eu não achava que o metamorfo conseguiria. Mas com vinte e um anos, ele era mais jovem, de longe, do que qualquer pessoa na sala e era um membro do grupo que não estava nos seus melhores dias com os vampiros. Mesmo o risco de termos que usar as armas ser baixo, isto asseguraria que os Mestres se comportassem.
— Obrigado por concordar em falar conosco — Ethan disse, levantando-se e estendendo uma mão enquanto caminhávamos para a mesa.
— Especialmente tão em cima da hora.
— Sem problemas — Jeff levemente disse, apertando sua mão.
— Estou feliz em poder ajudar, eu acho.
Ele sentou-se em uma cadeira vazia, eu peguei o lugar ao lado dele. Ethan
sorriu e se virou para o resto da mesa.
— Apresentações feitas — Jeff olhou para o Ethan e então para mim.
— Então, o que vocês querem saber?
— Como você sabe — eu comecei. — Nós estamos investigando uma ameaça feita contra o Jamie Breckenridge que supostamente foi feita por um dos vampiros Cadogan. Mas nós não encontramos ninguém – nenhum vampiro – com algo contra o Jamie. — Eu pausei.
— Nós acreditamos que os Breckenridges são metamorfos.
— Ah — Jeff disse, surpresa em sua expressão. — Tudo bem.
— O que nós estamos tentando descobrir — eu continuei. — É se algum outro metamorfo possa ter algo contra a família. — Jeff franziu as sobrancelhas.
— Eu não estou entendendo.
— O Jamie sempre foi meio sem rumo, não é, Merit? — Ethan perguntou.
Eu concordei. — Eu acho que está certo.
— Entretanto, parece que a família Breckenridge está protegendo ele. Ninguém mais, que eu saiba, sabe que os Breckenridges são originariamente metamorfos. A teoria que nós estamos trabalhando é que eles o estão protegendo por uma razão.
Talvez porque o Jamie é fraco, e tem algum tipo de problema mágico. E talvez os membros do Bando queiram fazer algo a respeito disso.
Jeff balançou a cabeça.
— Eu ainda não... — então ele parou, a boca se abrindo, choque e consternação, e pior de tudo, dor, na sua expressão. Ele sentou na cadeira, como se tivesse murchado com a pergunta. — Uau.
A sala ficou em silêncio, olhares caindo culpadamente para a mesa, os vampiros sem conseguir realizar contato olho a olho. Um minuto se passou em silêncio. Eu queria alcançar minha mão até ele, tocá-lo, ambos para confortá-lo e me reassegurar.
— Sem ofensa, mas é por isso que os metamorfos não gostam de vampiros.
Jeff disse em voz baixa, trazendo nossos olhos para ele.
— O rumor, a especulação. Que você realmente teria coragem de perguntar isso na minha cara: você mata membros do seu Bando? Isso é insultante. — Ele olhou para mim. — Eu sei que você é nova e talvez não tenha aprendido — ele disse, e então olhou para o Ethan e o resto dos vampiros. — Mas o resto de vocês está vagando por aí faz um tempo. Certamente vocês já aprenderam. — Nenhum deles, para se redimir, ofereceu desculpas pela ignorância. — Agora — Jeff continuou, sentando mais a frente na cadeira e colocando
os cotovelos na mesa. — O fato que nós não exterminamos membros... — ele nos deu um olhar afiado, sugerindo que ele sabia exatamente que espécie sobrenatural fazia
isso, e dada a espada presa do meu lado, eu pensei que ele tinha razão. — Não quer dizer que nós não temos brigas dentro do Bando. Só porque o Jamie não seria morto, isso não quer dizer que algum dos membros mais fortes não o maltratariam, aqueles caras usariam as fraquezas dele contra ele ou sua família.
— Chantagem? — eu perguntei.
— Ou extorsão. Já aconteceu antes. “Dê-me o que eu quero, e eu me assegurarei que seu filho ficará protegido,” esse tipo de coisa. Os membros do bando que estão bem lá embaixo na hierarquia fazem isso para se sentir melhor. Parte de onde você, bem, você sabe, é imutável. Todo o morfo tem uma forma primária. O animal que eles se transformam. Os metamorfos são nascidos dessa forma. A forma que um morfo toma nunca mudará. Você nasce com isso, e isso afeta o seu nível no bando. Parte disso é músculo, força. E essa força determina o que você faz com o seu nível – você senta e deixa o bando tomar as decisões? Ou você tenta conseguir um cargo, tenta influenciar o Gabriel? O negócio sobre a chantagem, porque isso é o tipo de ação que faz você parecer muito mais fraco – não ser capaz de lidar com seus próprios problemas?—disse Scott.
Jeff concordou com Scott.
— Exatamente. Gabriel é o soberano da Central Norte Americana, o Bando como um todo, uma unidade. Ele não está aqui para julgar disputas familiares ou qualquer coisa assim. Este não é o papel dele.
Ethan ergueu um dedo.
— A menos que eles se tornem disputas do Bando.
Jeff acenou.
— Claro. Se tornarem-se disputas do Bando. Mas acontece raramente. Essa é a natureza do Bando. Nós cuidamos uns dos outros. Se você irritar bastante os membros do Bando, nós cuidamos uns dos outros.
Estas palavras, ditas por um programador de computador magricelo de vinte e um anos pairou desconfortavelmente no ar.
— Jeff — eu perguntei. — Você sabe de algum plano específico para machucar o Jamie, ou alguma animosidade contra os Brecks?
— Eu nem sabia que eles eram morfos até você me contar. Não é como se
tivéssemos uma lista ou radar ou algo assim. Lembre-se que nós ainda estamos no armário, eu suponho. E mesmo que estejamos amontoados em bandos, há somente quatro bandos nos EUA, e isto é somente geografia. Nós somos nascidos, e não feitos como vocês, então nós funcionamos de uma maneira, vamos dizer, mais familiar.
— Como a Máfia — Scott sugeriu.
— Nós não somos tão ruins — Jeff disse. Ethan olhou em volta.
— Se o Jamie, de fato, tiver algum tipo de machucado mágico, a informação
poderia ser usada em detrimento dele por outros indivíduos do bando. O que nós podemos extrapolar disso?
— Se isso for verdade — Jeff adicionou. — Ainda que a questão tenha sido com o pensamento nos vampiros, e alguém descobriu, eles acharam um gatilho para os
Breckenridges. Algo que pode deixá-los completamente fora de si.
— Algo que já os deixou fora de si — Ethan sombriamente corrigiu.
— E se o dono dessa informação for um vampiro — Luc disse, medo em sua expressão. — Este gatilho poderia provocar uma guerra entre nós.
A sala ficou em silêncio. Ethan suspirou pesadamente, e então olhou ao redor para os senhores da mesa.
— Como nós temos pouco mais de meia hora até o nascer do sol, se nós não temos nada mais produtivo para contribuir hoje, eu contatarei o RDI e pedirei que eles complementem a nossa investigação durante o dia. Enquanto isso, por favor, examine o melhor que vocês possam para determinar se alguém tem alguma informação adicional pertinente. Eu sugiro que nós nos encontremos aqui, uma hora depois do pôr do sol, para nos reagruparmos e dividir o que nós descobrirmos. Alguma objeção?
— É o melhor que podemos fazer em tão pouco tempo — Scott disse,
levantando da cadeira. Noah fez o mesmo. Scott e Noah acenaram para o Ethan, e então foram para a porta. A saída do Morgan foi mais devagar. Ele se levantou da cadeira, e esperou até que o Noah e o Scott tivessem saído pela porta, provavelmente a caminho de cobertura já que o sol ameaçava sair acima do horizonte.
Morgan olhou para mim, fúria nos olhos e então o olhar mudou para o Ethan.
Morgan andou na direção dele, parou a centímetros do seu corpo e sussurrou algo que achatou a expressou do Ethan. Sem olhar de volta para mim, Morgan saiu do
escritório, batendo a porta atrás dele. Ethan, ainda sentado na ponta da mesa, fechou os olhos.
— Algum dia, se ele se preparar para isso, ele poderia ser um líder para os
vampiros. Deus nos livre se esse dia chegar antes dele estar preparado.
— Eu acho que esse dia está aqui — Malik balbuciou para mim. Eu acenei em concordância, mas lamentei o meu impacto nas interações do Morgan com o resto dos Mestres. Eu havia desorientado ele, e ainda tentou ser protetor quando eu trouxe a tona o tópico sobre a Rave. Eu realmente não sabia o que pensar sobre isso.
— Jeff — Ethan disse. — Obrigado novamente por ter se aventurado para dentro da Casa Cadogan. Nós apreciamos a informação mais do que podemos dizer.
Jeff deu de ombros.
— Sem problemas. Eu estou feliz que ajudei a corrigir os fatos — mas então ele abaixou sua cabeça, em minha direção, e sussurrou. — Sobre aquela outra coisa.
Eu olhei de volta para ele.
— Não aqui? — ele balançou a cabeça e eu concordei. — Eu o levo para fora— eu disse alto, e então levantei da cadeira. Jeff fez o mesmo.
— Você está dispensada — Ethan disse, voltando para sua mesa e pegando os fones do telefone. — Eu vejo vocês dois amanhã.
Não foi até que estivéssemos fora da Casa, a meio caminho entre a porta da frente e a cerca de ferro fundido, que o Jeff me parou com uma mão no meu braço. Ele olhou em volta, olhou de lá para cá.
Parecia que ele estava examinando a Casa.
— Evitando os paparazzi — ele
explicou. — E sem ofensas, mas os guardas... não sou muito fã.
Nós dois olhamos para onde eles estavam severos e obscuros, no portão de Cadogan. Como se tivesse sido combinado, eles na mesma hora olharam sobre os ombros para nós.
— Eles são um pouco esquisitos — eu concordei, e então olhei para Jeff. — O que você descobriu?
— Certo — ele disse as duas mãos se mexendo enquanto ele começava a
explicar. — Demorou algumas tentativas, mas eu consegui rastrear o endereço do e-mail. O endereço do IP era falso, infelizmente. Muitos desvios, e mesmo se eu achasse o e-mail de origem, isto apenas me dará uma localização, certo? Não me vai dizer que enviou o e-mail!
Eu pisquei para ele por um segundo. — Eu realmente não faço ideia do que
você acabou de falar.
Ele parou de falar e olhou para mim, e então acenou com as mãos antes de
começar novamente.
— Não importa. O e-mail é a chave. O e-mail para o Nick foi mandado de um endereço genérico. O tipo que você pode fazer de graça na internet. Eu consegui fuçar, e consegui os dados para fazer o e-mail, mas a informação era falsa. O nome da conta era Vlad.
Eu revirei os olhos.
— Nos apontamos na direção certa, eu acho, mas não é muito criativo.
— Exatamente o que eu pensei, então eu tentei outra coisa. Cada vez que você se cadastra nessas contas genéricas, você tem que digitar outro endereço de e-mail. Um lugar onde a empresa possa mandar sua senha se você esquecê-la ou algo assim.
— Eu presumo que o outro e-mail era falso também? — Jeff sorriu.
— Agora você está entendendo. Eu afunilei para seis contas...
Eu o interrompi com uma mão.
— Espera. Quando você disse “afunilou” você quer dizer “hackeou”, certo?
Jeff teve a graça de ficar vermelho. Era charmoso, de um jeito altamente ilegal.
— Eu sou totalmente White Hat* — ele disse. — Não que você saiba o que isso significa, mas eu sou. É tudo serviço público, se você for pensar. E eu sou um servidor público de qualquer forma. — Eu olhei para cima enquanto ele racionalizava, percebendo de repente que o céu estava começando a ficar rosado nas beiradas.

Mordidas de sexta a noite 2Onde histórias criam vida. Descubra agora