Os segredos do jardim secreto.

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Eu estava imaginando quanto tempo demoraria para você chegar aqui — Nicholas disse, braços cruzados no peito enquanto ele olhava para mim. Dois lampiões
lançavam um brilho dourado ao longo de seu torso, que no momento estava coberto com uma camiseta da Maratona de Chicago. Ele deixou o terno de lado por uma camiseta, e ele também deixou a calça social pelos jeans. Eu caminhei para o centro do
círculo e olhei para ele, meu sorriso tênue.
— Eu quase me esqueci do caminho para cá — Nicholas fez um som sarcástico que sacudia seus ombros.
— Eu duvido muito, Merit, que você esqueceu-se do castelo — embora um canto de sua boca tenha levantado enquanto ele falava, sua expressão ficou sóbria de novo rapidamente. Ele examinou o meu vestido, e então levantou seu olhar para mim.
— Os vampiros parecem ter conseguido o que seu pai foi incapaz de fazer.
Eu o encarei por um segundo, sem saber se ele tinha a intenção de me insultar, insultar meu pai ou Ethan, embora parecesse um tiro em nós três. Eu optei por ignorar o comentário e andei ao redor dele para traçar o perímetro do círculo que marcava o núcleo do labirinto. Tinha provavelmente cinco metros de diâmetro, marcada por entradas ao redor.
— Eu não esperava te encontrar do lado de fora da Casa Cadogan — eu admiti.
— Os tempos mudam.
— As pessoas mudam? — eu perguntei, olhando por sobre os meus ombros.
Sua expressão continuou a mesma. Em branco, em guarda. Eu resolvi começar com as gentilezas.
— Como você está?
— Eu estou mais interessado em saber como você está. Naquilo... que você se tornou.
Eu levantei minhas sobrancelhas
— Naquilo?
— Num vampiro.
Ele honestamente cuspiu a palavra, como se o som saído de seus lábios o
enojassem.
Ele desviou o olhar para a floresta.
— As pessoas mudam mesmo, aparentemente.
— Sim, elas mudam — eu concordei, mas consegui manter minhas opiniões sob sua atitude para mim mesma.
— Eu não sabia que você estava de volta a Chicago.
— Eu tinha negócios.
— Você está de volta para ficar?
— Veremos.
A pergunta mais importante:
— Então você está trabalhando? Em Chicago, quero dizer.
Seu olhar voltou para mim, uma sobrancelha levantada.
— Eu não sei se estou confortável em discutir os meus planos com você.
Era minha vez de levantar uma sobrancelha.
— Você pediu para eu te encontrar aqui fora, Nick, não o contrário. Se você não está confortável discutindo isto comigo, você provavelmente deveria ter me deixado ficar na casa.
Ele me olhou por um longo período. Um período intenso, aqueles olhos
cinzentos fixos nos meus, como se ele pudesse ver através de mim e descobrir quais eram minhas intenções. Eu tive que me esforçar para não trocar de pé no silêncio.
— Eu quero saber por que você está aqui — ele finalmente disse. — Na casa dos meus pais. Na casa da minha família.
Dada a desconfiança em sua voz, eu imaginei que não era coincidência Julia ser a única Breckenridge na festa. Eu cruzei meus braços atrás das costas e olhei para ele.
— É hora de relembrar minhas obrigações familiares.
Ele respondeu com um olhar seco.
— Eu te conheço há vinte anos Merit. Obrigações familiares não estão no topo da sua lista de prioridades, especialmente se essas obrigações envolvem eventos black-tie. Tente de novo.
Eu não sabia o que ele estava pretendendo, mas eu não iria revelar todos os meus segredos.
— Me diga por que você estava do lado de fora da Casa Cadogan.
Ele olhou para mim, em sua expressão um desafio:
— Por que eu deveria responder às suas perguntas?
— Toma-lá-dá-cá — eu respondi.
— Você responde a minha pergunta e eu respondo a sua. — Ele molhou seu lábio inferior enquanto considerava
silenciosamente a oferta, e então ele olhou para mim.
— Eu estou investigando — ele disse.
— Você está escrevendo uma história?
— Eu não disse que estava escrevendo uma história. Eu disse que estava
investigando.
Tudo bem, então ele estava investigando, mas não para escrever uma história – sobre vampiros ou qualquer outra coisa. Então o que ele estava investigando? E se ele tinha perguntas, por que ele estava procurando as respostas em um nó de paparazzis do lado de fora da Casa, ao invés de usar suas próprias conexões? E mais importante, por que o Nick, e não Jamie?
Nick colocou suas mãos no bolso e acenou com a cabeça para mim.
— Toma-lá-da-cá. Por que você está aqui?
Um segundo de consideração antes de contar para ele.
— Nós estamos fazendo nossa própria investigação.
— Sobre quem?
— Não alguém exatamente, mas o quê. Nós estamos tentando manter nosso povo a salvo — não toda a verdade, mas verdade o bastante.
— Do quê?
Eu sacudi minha cabeça. Era hora de cavar um pouco mais fundo.
— Toma-lá-da-cá. Já que estamos falando dos Brecks, o que a família tem feito ultimamente? Como está o Jamie nesses dias?
A expressão do Nick mudou tão rapidamente que eu quase dei um passo para trás. Seu queixo endureceu, as narinas abertas, e suas mãos fecharam em punho. Por um segundo, eu podia jurar que eu senti um breve pulso de energia – mas daí sumiu.
— Fique. Longe. Do. Jamie — ele cuspiu. Eu franzi as sobrancelhas, tentando entender de onde aquela raiva tinha vindo.
— Eu só perguntei como ele estava Nick — principalmente para saber se ele estava tentando nos sacrificar para ganhar pontos com o Papai Breck, mas o Nick não precisava saber disso.
— Por que eu tenho que ficar longe dele? O que você acha que eu vou fazer?
— Ele é meu irmão, Merit. História familiar ou não, história pessoal ou não, eu vou proteger ele.
Eu franzi as sobrancelhas para ele e coloquei as mãos na cintura.
— Você está com a impressão que eu irei ferir teu irmão? Porque eu posso te falar... te prometer, na verdade, que esse não é o caso.
— E os vampiros são conhecidos por serem confiáveis, não são, Merit?
Aquilo machucou e eu abri bem os meus olhos. Não somente animosidade, não somente o senso fraterno de proteger, mas aquele grosso e irritante preconceito. Eu
somente o encarei.
— Eu não sei o que deveria dizer pra isto, Nick.
Minha voz estava quieta. Em parte pelo choque, em parte pelo desânimo de uma amizade que acabou tão erradamente. Nick não tinha nenhuma simpatia por essa perda, ele me apunhalou com uma encarada que ergueu os cabelos do meu pescoço.
— Se algo acontecer ao Jamie, eu vou atrás de você.
Mais um olhar ameaçador e então ele se virou e desapareceu através da
abertura oposta da cerca viva. Eu olhei para ele, e bati meus dedos no meu quadril, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Eu soltei um suspiro lento e olhei ao redor do labirinto. O brilho dos lampiões tremulou conforme o óleo começou
a terminar. Com a luz sumindo e com mais perguntas do que quando eu cheguei, eu comecei meu caminho de volta pelo labirinto.
A raiva do Nick, sua descrença, fez o caminho de volta na mata um pouco
menos sentimental – e um pouco mais amedrontador. Noturna ou não, eu não estava contente de estar andando no meio do mato no meio da noite. Com cuidado eu escolhi meu caminho de volta pelas árvores, olhos e ouvidos abertos para a presença de coisas assustadoras ou rastejantes que viviam e cresciam no escuro.
De repente, sem aviso, houve um movimento nas árvores. Eu congelei, minha cabeça virando para o lado para pegar o som, coração pulsando nos meus ouvidos... e um pico de interesse do vampiro em mim. Mas a floresta estava em silêncio novamente. Tão quieta quanto eu pude, pus minha mão na barra do meu vestido e alcancei o coldre da minha espada. Ainda lentamente, quietamente, eu desembainhei
a espada.
Eu não tinha certeza do que eu faria com ela, mas estar com ela em mãos
acalmou o batuque do meu coração. Eu me espremi na escuridão, tentando perfurar o matagal de árvores. Algo passou pela mata. Um animal, de quatro patas pelo som.
Estava provavelmente há metros de distância, mas perto o bastante que eu pude ouvir os passos de seus pés na vegetação rasteira. Eu apertei meus dedos suados na espada.
Mas então, de pé no escuro, com a espada em mãos, meu coração batendo com a dose de medo e adrenalina, eu lembrei de algo que Ethan me disse sobre a nossa natureza predatória: para melhor ou pior, nós estamos no topo da cadeia alimentar. Nem humanos. Nem animais. Nem a coisa que andava pelo mato atrás de mim. Vampiros. Eu era o predador, não a presa.
Então, com uma voz muito fraca para ser minha, meus olhos no ponto entre as árvores onde eu pensei que aquilo estava, eu aconselhei o animal no escuro:
— Corra.
— Um segundo de silêncio antes do movimento repentino, o som de terra mexida e galhos quebrando, pés se movendo enquanto o animal seguia para se salvar.
Segundos depois, a floresta estava quieta novamente, aquilo que estava ali procurou salvação em outra direção, longe da ameaça. Longe de mim. Isto era uma habilidade útil, se não, uma bem perturbadora.
— Topo da cadeia alimentar. — eu sussurrei, e então terminei minha viagem de volta para a casa, a espada agora solta na minha mão. Eu a segurei até ter deixado o punhado de árvores, até eu poder ver as luzes de boas vindas da casa. Quando eu pisei na grama, eu embainhei a espada e então corri os últimos metros. Mas como a esposa do Lot, eu não resisti uma última olhada por cima do meu ombro.
Quando eu olhei de volta, a mata estava densa, vazia e nada acolhedora, mandando um arrepio pela minha espinha.
— Merit?
Eu alcancei o pátio, e olhei para cima. Ethan estava parado no topo das escadas de tijolos, mãos no bolso, cabeça pendendo para o lado com curiosidade. Eu acenei, e passei por ele, e me movi para os meus acessórios escondidos no balaustre. A caminhada pela grama úmida havia limpado a floresta dos meus pés, e eu coloquei meus saltos de volta.
Sem palavras, ele andou para mim, parou e me assistiu enquanto eu colocava os sapatos e pegava minha bolsa.
— Seu encontro? - ele perguntou. Eu mexi a cabeça.
— Eu te conto depois — eu olhei mais uma vez a expansão das árvores. Algo brilhou na floresta – olhos ou luz eu não consegui saber – mas eu estremeci de qualquer jeito.
— Vamos para dentro. — Ele olhou para mim e soltou um olhar de
volta para as árvores, mas acenou e me seguiu para dentro da casa.
A Sra. Breckenridge falou, agradeceu aos convidados por terem ido. Voluntários foram apresentados, fizeram discursos polidos sobre a importância da Coalizão da Colheita para a cidade de Chicago, e nós aplaudimos. Dinheiro foi arrecadado, números trocados, e Ethan e eu percorremos a área entre os cidadãos mais ricos da região metropolitana de Chicago. Só mais uma sexta-feira à noite nos altos escalões.
Quando nós fizemos a nossa parte e fizemos nossa contribuição para a causa em nome da Casa Cadogan com Ethan assinando um cheque lustroso, nós agradecemos à Sra. Breckenridge pelo convite e escapamos para a quietude da Mercedes.
O interior do carro cheirava a colônia dele, limpa e com cheiro de sabonete. Eu não havia notado aquilo antes.
— E seu encontro? — ele perguntou quando estávamos novamente na estrada.
Eu franzi as sobrancelhas e cruzei meus braços no peito.
— Você quer as boas ou as más notícias?
— Eu preciso das duas, infelizmente.
— Tem um labirinto atrás da casa. Ele estava esperando por mim. Fez alguns comentários infelizes sobre eu ser vampira, e então disse que estava na frente da Casa Cadogan investigando. Não trabalhando em uma história — eu esclareci antes do Ethan perguntar.
— Mas investigando.
Ethan franziu as sobrancelhas.
— Indica o que exatamente na suposta história sobre o Jamie?
— Nem ideia — eu disse. — E agora as más notícias: eu perguntei sobre o
Jamie, uma pergunta bem inócua, e ele perdeu totalmente a estribeira. Falou-me para ficar longe do Jamie. Ele parece pensar que nós temos algo contra ele.
— Nós? — Ethan perguntou.
— Vampiros. Ele comentou algo sobre nós não sermos conhecidos por sermos confiáveis.
— Hum — ele disse.
— E como você se saiu?
— Antes dele sair de supetão, prometeu que se algo acontecesse com o Jamie, ele viria atrás de mim.
— Estas pessoas que você se associa são encantadoras, Sentinela.
O seu tom voltou a ser gelado. Eu odiava aquele tom.
— Eles são as pessoas que você pediu para me socializar, Sullivan. Não se
esqueça disso. E falando nisso, por que as mudanças de planos? Desde quando meu pai tem acesso total aos segredos dos vampiros?
— Eu optei por uma mudança de estratégia de última hora.
— Para falar o mínimo — eu murmurei. — O que supostamente essa estratégia poderia conseguir?
— Eu tive um palpite. Seu pai é incrivelmente bem conectado, mas faltam relações no meio sobrenatural. Não há dúvida que ele estava ansioso para trabalhar contigo, e ansioso para me conhecer. Entretanto, sua falta de conexões não quer dizer que ele não tenha feito sua tarefa de casa. Houve algo sobre a reação dele que te surpreendeu?
— A total falta de surpresa dele me surpreendeu — eu olhei de soslaio para ele, um sorriso apreciativo pulando de um canto da minha boca.
— Muito esperto Sullivan. Sem pedir, você conseguiu que ele desse indícios de estar prestando muita atenção na situação de Celina.
— Eu consigo ter uma ideia que dá para salvar de vez em quando — eu soltei um som sarcástico. — Mas você está certa, é improvável que algo que nós tenhamos discutido tenha sido surpresa.
— Diga para ele aquilo o que você achar que deve — eu disse. — Contanto que você saiba que se ele pensar que pode conseguir alguma coisa para si próprio, ele usará essa informação contra nós.
— Eu sei Merit. Eu sou sagaz o suficiente para saber dos esquemas dele já.
Meu estômago roncou horrivelmente, e eu apertei minha mão nele. Eu podia sentir a pungente dor da fome, e eu não estava disposta a arriscar um surto de luxúria de sangue enquanto estava presa na estrada com um homem que eu já tinha assuntos mal resolvidos.
Eu podia admitir que o Ethan fosse um pouquinho delicioso, mas eu não estava ansiosa para que o vampiro dentro de mim quisesse uma provada.
— Eu preciso de um tempo — eu o avisei. Eu olhei para fora do carro e notei uma saída para a rodovia expressa à nossa frente, e então bati os dedos no vidro.
— Lá.
Se apoiando para o lado para checar a saída, ele levantou uma sobrancelha. — Um tempo. Um tempo pra quê?
— Eu preciso de comida.
— Você sempre precisa de comida.
— Ou é comida ou sangue, Ethan. E dado ao fato que somos só eu e você nesse carro agora, comida seria consideravelmente menos complicado, não acha?
Ethan resmungou, mas ele pareceu ter percebido o objetivo maior e direcionou a Mercedes para a saída, e então encostou em um estacionamento de uma lanchonete
de beira de estrada. Pela hora, quase três da manhã, nós éramos uns dos poucos, notívagos famintos por hambúrguer no lugar.
Ele estacionou ao lado do prédio e olhou pela janela do lado do motorista para o balcão de atendimento brega em alumínio, a paisagem pobrezinha, e o toldo do antes Dairy Blitz (o toldo agora lia-se somente DA RY LITZ), o qual obviamente tinha visto dias melhores. Eu abaixei o vidro, e o cheiro de carne, batatas e gordura quente encheu o carro. Oh, isso ia ser bom. Eu sabia. Ele virou para me olhar, uma sobrancelha levantada.
— O Dary Litz, Sentinela?
— Você vai amar Sullivan. Sinta o cheiro dessas fritas! Aquele punhado é só para você.
— Nós acabamos de ter uma refeição de ceviche e camarão perfeito ― havia um sorriso em sua voz que eu gostei.
― Sério, nós comemos mariscos batidos, você acredita nisso? E você acabou de atestar meu ponto. Contorne.
Ele fez um vago som de desacordo, mas um não muito sério, antes de dar ré no carro e manobrar pela pista do drive-through. Eu olhei o menu iluminado, indecisa entre um cheeseburger de bacon simples ou duplo antes de decidir pelo triplo.
E era a luz do sol ou uma estaca que acabariam comigo um dia, não o
colesterol.
Ethan encarou o cardápio.
— Eu não tenho ideia do que fazer aqui.
— Aí está a maior prova positiva que você fez certo ao me trazer para a equipe — eu ofereci algumas sugestões e quando ele discordou, eu pedi o bastante para nós dois: hambúrgueres, fritas, shakes de chocolate, um pedido extra de rodelas de cebola.
Ele pagou com o dinheiro que ele tirou de uma longa e fina pasta de couro que estava no interior do bolso do seu terno.
Quando a Mercedes estava cheio de vampiros e comida frita, ele dirigiu para a saída, e então parou na curva enquanto eu fazia uma manga do papel que cobria seu hambúrguer. Quando eu entreguei para ele, ele o encarou por um momento, sobrancelhas arqueadas, antes de dar uma mordida. Ele fez um vago som de aprovação enquanto mastigava.
— Sabe — eu disse, mordendo uma rodela de cebola. — Eu acho que as coisas iriam ser bem mais fáceis para você se você apenas admitisse que eu estou sempre certa.
— Eu estou disposto a concordar que você está certa sobre a comida, mas isto é o mais longe que eu posso ir.
— Eu posso aceitar isso — eu disse, sorrindo para ele, meu humor elevado após a nossa fuga do Nick e do meu pai e provavelmente do impacto do fast food gorduroso nos meus níveis de serotonina. Sentindo nenhuma necessidade de me comportar delicadamente, eu dei uma mordida gigante no meu hambúrguer de bacon, fechando meus olhos enquanto eu mastigava. Se havia algo em que eu deveria minha gratidão ao Ethan Sullivan, era o fato de eu poder comer qualquer coisa sem ganhar peso.
Claro, eu estava com fome o tempo todo, e uma vez eu quase fechei os dentes na sua carótida, mas dada as circunstâncias era um preço pequeno a se pagar.
A vida era uma maravilha! Toda aquela serotonina, aquele alívio,
provavelmente motivou o meu próximo comentário.
— Obrigada — eu disse a ele. Hambúrguer em mãos, ele voltou para a estrada, e nós terminamos nossa viagem de volta do Hyde Park.
— Pelo quê?
— Por ter me transformado.
Ele pausou.
— Por transformar você?
— Sim. Quero dizer, eu não estou dizendo que não tem sido um período de ajustes...
Ethan bufou enquanto ele alcançava a caixa de rodelas de cebola entre nós. — Isso é um pouco subestimado não acha?
— Me dê um tempo, eu estou tentando ser gratamente condescendente.
Ethan sorriu à referência do anacronismo à tradição Canon – a Grata Condescendência sendo a atitude que eu deveria adotar com o Ethan, meu Liege. E não o tipo de condescendência que eu normalmente tenho dele – essa era a atitude da velha guarda, versão da Jane Austen. Da qual você deferia aos seus superiores e empregados toda a sutileza social. Definitivamente não era minha praia.
— Obrigada — eu disse. — Porque se eu não tivesse mudado, eu não poderia comer essa incrível comida insalubre. Eu não seria imortal. Eu seria totalmente inútil com uma katana... e essa é uma habilidade que toda pessoa de Chicago de vinte e oito anos precisa ter. — Tendo como resposta um sorriso reto, eu o cutuquei gentilmente, provocativamente, com o cotovelo.
— Certo?
Ele riu suavemente.
— E você não me teria para te incomodar. Você não teria minhas conexões ou meu fabuloso senso fashion. Eu escolhi esse vestido.
Eu pisquei surpresa. A admissão me surpreendeu e me deixou um pouco
animada, apesar de eu não ter admitido. Eu comentei que o vestido não ficaria tão bem nele, e consegui um ‘hmpf’ de resposta.
— De qualquer forma, obrigada.
— De nada, Sentinela.
— Você vai comer o resto dessas fritas?
Nós comemos até chegarmos na Casa novamente. Nós pegamos o caminho
mais longo que dava a volta no prédio para evitar o embolado de paparazzis do lado de fora do portão.
Ethan balançou seu cartão de acesso no portão do estacionamento, uma seção deslizando para o lado para permitir o acesso dele para a rampa do subsolo. Depois de ter estacionado a Mercedes na vaga de estacionamento dele, nós saímos do carro, fechamos as portas atrás de nós e o Ethan – apesar do fato do carro estar estacionado atrás de um portão de ferro de 15 metros embaixo da Casa dos vampiros numa garagem acessível apenas por um código secreto – ativou o sistema de segurança da Mercedes. A meio caminho da porta, ele parou.
— Obrigado.
— Por?
— Por sua boa vontade de voltar para casa, e apesar de termos conseguido
obter algumas informações adicionais sobre o envolvimento de Nicholas, nós abrimos alguns caminhos, e sabemos mais agora do que antes. —Ele limpou a garganta.
— Você fez bem hoje.
Eu sorri para ele. — Você gosta de mim. Você gosta mesmo, mesmo de mim!
— Não abuse da vantagem Sentinela.
Eu abri a porta do porão e acenei com a mão para ele me seguir. — Idade antes da beleza.
Ethan suspirou, mas eu vislumbrei um sorriso.
— Engraçado.
Me virei para ir para a Sala de Operações, imaginando que eu deveria ir para lá.
— Onde você está indo?
Eu levantei uma sobrancelha para ele. — Eu não estou no clima para uma pós-festa se é isso que você está oferecendo.
Com o seu olhar insípido me encarando, eu expliquei.
— Eu preciso checar minha pasta na Sala de Operações.
Ele largou meu braço, e deslizou suas mãos para os bolsos.
— Você não está liberada ainda — ele disse.
— Eu espero — franzindo as sobrancelhas, eu virei e caminhei para as portas fechadas da Sala de Operações. Eu não fazia ideia do que ele estava pretendendo, e esse não era o tipo de mistério que eu gostava. Quando eu abri a porta e entrei, fui
recebida com assobios que fariam um pedreiro orgulhoso.
Juliet rodou na sua cadeira para olhar e então piscou para mim.
— Tá bonitona Sentinela.
— Ela está certa — Lindsey disse de sua mesa. — Você se arruma
surpreendentemente muito bem.
Eu virei meus olhos, mas apertei a borda do meu vestido e fiz uma pequena reverência, e então peguei minha pasta do cabide na parede. Havia apenas um papel dentro, um impressão de um memorando que o Peter havia enviado para o Luc. O
memorando continha os nomes dos paparazzis que haviam sido contratados para cobrir a Casa Cadogan, e os jornais, websites, e revistas para qual eles vendiam.
Eu levantei meu olhar e encontrei o Peter olhando para mim curiosamente.
— Isso foi um trabalho rápido — eu disse, balançando o papel para ele.
— Você ficaria surpresa com o que as presas conseguem para você — ele disse.
Ele me deu um olhar vazio e então voltou para seu computador, dedos voando pelo teclado. Ele era estranho.
— Eu presumo que o seu e o meu Liege conseguiram sobreviver a essa noite?
— Luc perguntou.
— São e salvo — disse uma voz atrás de mim. Eu olhei para trás. Ethan estava na porta, braços cruzados no peito.
— Podemos? — ele perguntou. Eu silenciosamente xinguei, sabendo
exatamente o que os outros guardiões iriam pensar sobre isso.
A saber, eles iriam imaginar algo muito mais lascivo em sua agenda. Embora eu soubesse a verdade de sua atração por mim. Eu era a ferramenta na caixa de ferramentas vampirescas do Ethan, um cartão de passagem livre para ser usado quando ele precisasse de acesso.
— Claro — eu disse, depois de dar um olhar de advertência para a Lindsey. Seus lábios estavam fechados apertados como se ela estivesse tentando se controlar para não rir. Eu coloquei minha pasta de volta no lugar e com o memorando em mãos, segui Ethan para o corredor, e então para o primeiro andar.
Ele pegou o corredor para a escadaria principal, e então virou e pegou as
escadas para o segundo andar. Ele parou em frente às portas que eu sabia que levavam para a biblioteca, mas que ainda não tinha tido tempo para explorar.
Eu parei ao lado dele. Ele me retornou um olhar.
— Você ainda não esteve lá dentro? — eu neguei com a cabeça. Ele pareceu
estar gratificado com a minha resposta, um estranho sorriso em seu rosto, eu girei as maçanetas com as duas mãos. Ele torceu, e empurrou as portas.
— Sentinela, sua biblioteca.

Mordidas de sexta a noite 2Onde histórias criam vida. Descubra agora