Casa é onde está seu coração... Não necessariamente onde você dorme.

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Está bem, eu estava protelando. Minhas malas estavam amontoadas no assento traseiro de meu Volvo laranja, mas em lugar de me dirigir direto para a Casa Cadogan, eu passei de longe por minha futura residência no Hyde Park e continuei dirigindo para o sul. Eu não estava pronta para cruzar as portas de Cadogan como
residente oficial. E mais importante, eu não tinha visto meu avô em cerca de uma semana, de maneira que optei por fazer as “coisas de netas” e fazer-lhe uma visita em seu escritório no South Side. Meus avôs tinham tudo, mas me criaram enquanto meus
emergentes pais Joshua e Meredith Merit, cortejavam seu caminho através de Chicago. Por isso, uma visita ao meu avô era o mínimo que eu podia fazer.
O escritório do Defensor Público não era luxuoso, era um precário edifício de tijolos que se encontrava no meio de um bairro de classe operária, de pequenas e quadradas casas, prolixos* quintais e cercas de metal.

(*Enfadonho, fastidioso.)

Estacionei o Volvo na rua em
frente, saí e afivelei minha katana. Duvidava que fosse necessitá-la no escritório de meu avô, mas a palavra de que eu não havia estado diligentemente armada era exatamente o tipo de conversa que Catcher teria com Ethan. Não é que eles fossem exatamente amigos, mas falar sobre mim parecia ser o tipo de coisa que eles fariam.
Era quase onze horas, mas as poucas janelas do escritório estavam cheias de luz. O escritório do Ombudsman*, ou que meu avô acreditava, servia às criaturas da noite.

(*Defensor Público.)

Isso significava um terceiro turno para meu avô, sua secretária Marjorie, Catcher, e Jeff Christopher, o segundo homem de confiança de meu avô, um indeterminado Metamorfo e menino-gênio dos computadores. Que também tinha
uma grande paixão por esta serva que lhes fala.
Bati na porta da frente fechada e esperei que alguém me deixasse entrar. Jeff ldeu a volta no canto e caminhou pelo corredor na minha direção, abrindo um sorriso em seu rosto. Ele era todo de constituição magra e cabelos castanhos bagunçados, e esta noite ele vestia seu usual uniforme, calças cáqui ajustadas e uma camisa de mangas longas, as mangas dobradas na metade do braço.
Quando alcançou a porta, digitou o código do alarme no teclado ao seu lado, depois virou a trava e abriu.
— Não pôde suportar ficar longe de mim?
— Estava um pouco deprimida. — eu disse, depois entrei enquanto ele
mantinha a porta aberta. — Faz quanto tempo, quase uma semana?
— Seis dias, vinte e três horas e cerca de doze minutos. — ele voltou a digitar o código e trancou a porta, depois sorriu para mim. — Não que eu esteja contando.
— Oh, claro que não. — concordei enquanto ele me acompanhava pelo
corredor ao escritório que ele compartilhava com Catcher. — Você é muito "suave" para este tipo de coisa.
— Muito. — ele concordou, depois entrou na sala e se posicionou atrás de uma das quatro mesas de metal da era atômica, que estavam distribuídos em duas fileiras na minúscula sala. A parte superior do escritório de Jess estava repleta por uma coleção “a la Frankstein”, de teclados e monitores, sobre o qual havia um bicho de
pelúcia que descobri ser um modelo do Cthulhu de H. P. Love-craft*.

(*0 H. P. Love-craft: escritor americano do gênero horror, e, Cthulhu é uma poderosa entidade fictícia criada por ele.)

— Como foi sua aula de sapateado. — perguntou uma sarcástica voz do outro lado da sala. Dei uma olhada e achei Catcher sentado na mesa em frente a Jeff, as mãos cruzadas sobre a cabeça raspada, um laptop aberto ligado.
— Hip-hop. — eu corrigi. — Não sapateado. E foi simplesmente bizarro. Sua garota quase deixa a professora inconsciente a golpes, mas foi bastante normal apesar disso. — apoiei meu quadril em uma das mesas de metal vazias. Eu não estava
completamente certa de por que havia quatro mesas no total. Catcher e Jeff eram os dois únicos no escritório; meu avô e Marjorie tinham mesas em outras salas. Meu avô tinha localizado um informante vampiro uma vez, já que Catcher e Jeff representavam
as comunidades de Bruxos e Metamorfos de Chicago, mas o vampiro secreto evitava o escritório a fim de evitar o drama das Casas, de modo que não precisava de nenhum
escritório para ele. Ou ela. Ou isso, eu suponho. Ainda estava me esforçando para decifrar esta parte.
Catcher deu uma olhada em minha direção. — Ela quase deixa a professora inconsciente a golpes?
— Bom, ela queria deixar, não que eu a culpe. A Barbie Aeróbica é difícil de digerir por mais de cinco minutos. Mas graças a minhas excelentes habilidades de meditação e negociação, nenhum golpe de verdade foi dado. — o som de passos ecoou através do corredor, e olhei para a porta para falar com meu avô em sua usual camisa de flanela e calças suaves, seus pés em sapatos de solado grosso.
— E falando de excelentes habilidades para meditação e negociação. — eu
disse, pulando da mesa. Meu avô estendeu seus braços e me acenou para um abraço.
Entrei em seu abraço e apertei, com cuidado de não romper inadvertidamente sua lcoluna com minha amplificada força vampírica. — Oi, avozinho.
— Bebê. — disse ele, em seguida deu um beijo no topo de minha testa. —
Como está passando minha favorita cidadã sobrenatural nesta linda noite de primavera?
— Isso doeu, Chuck. — disse Catcher, cruzando os braços.
— Na verdade. — Jeff disse; seus olhos alternando entre os monitores de
computador. — Aqui nós somos escravos dia e noite...
— Tecnicamente. — Catcher interrompeu. — Só à noite.
— Noite. — Jeff delicadamente corrigiu. — Tratando de manter todos felizes na Cidade do Vento, tentando manter as Ninfas em ordem. — ele balançou sua cabeça para cima na direção dos cartazes de mulheres com pouca roupa que cobria as paredes do escritório.
Elas eram Ninfas dos rios, mulheres com seios pequenos, olhos salientes e cabelos longos, que controlavam as ramificações do Rio Chicago. Elas também eram; como observei na noite de meu vigésimo oitavo aniversário, muito dramáticas. Elas
haviam aparecido em massa na casa de meu avô, todas falando de maneira agitada porque uma das líderes de beleza tinha sido enganada por outra Ninfa. Era uma briga de gatos de proporções monumentais, finalizada com lágrimas, insultos e arranhões. E foram detidas, surpreendentemente, por nosso Jeff (apesar de minha reticência, Jeff tem jeito com as mulheres).
— E todos nós sabemos o quão difícil pode ser isso. — eu disse, dando a Jeff uma piscadela. Ele ruborizou; o carmesim elevando-se em suas bochechas.
— O que te traz por aqui? — meu avô me perguntou.
— Espere, espere que eu tenho isso. — disse Catcher, pegando um envelope de sua mesa e pressionando-o contra a testa, olhos fechados, o perfeito Carnac. — Merit será submetida a uma alteração..., do código postal. — abriu seus olhos e voltou para
cima da mesa. — Se você estava tentando chegar a Hyde Park, você foi um pouco além da conta para o sul.
— Estou enrolando. — admiti. Havia feito a mesma coisa na noite anterior à minha recomendação da Casa, em busca de conforto entre os amigos e a família, exatamente antes de me tornar parte de algo que eu sabia que mudaria para sempre minha vida. Igual a hoje.
A expressão de Catcher se suavizou. — Já empacotou tudo?
Eu assenti. — Está tudo no carro.
— Ela sentirá sua falta, você sabe.
Eu assenti. Não tinha dúvidas sobre isso, mas apreciava que ele tenha dito. Ele não era do tipo emocional, o que fazia o sentimento de algo muito mais significativo.
Meu avô colocou uma mão sobre meu ombro. — Ficará bem, bebê. Eu te
conheço; o quão capaz e obstinada você é, e estas são qualidades que Ethan chegará a apreciar.
— Depois de algum tempo. — murmurou Catcher. — Muito, muito e muitíssimo tempo.
— Eras. — Jeff concordou.
— Imortal. — eu os lembrei, usando um dedo para apontar para mim mesma.
— Nós temos tempo, além disso, não quero me fazer muito fácil.
— Eu não acho que será um problema. — meu avô disse, e depois me piscou um olho. — Você poderia fazer um favor a seu Pop-Pop e dar-lhe algo por nós?
Minhas bochechas enrubesceram ante a recordação do apelido que eu havia
Minhas bochechas enrubesceram ante a recordação do apelido que eu havia dado a meu avô quando pequena. Para mim, "avozinho" era muito difícil de dizer.
— Claro. — eu disse. — Eu ficaria encantada.
Vovô acenou com a cabeça para Catcher. Catcher abriu uma barulhenta gaveta, em seguida puxou um grosso envelope de papel pardo amarrado com um cordão vermelho. Não havia destinatário, mas as palavras, CONFIDENCIAL e NÍVEL UM estavam escritos em letras maiúsculas negras de um dos lados. "Nível Um" é a versão da defensoria para "Ultra-secreta". Era a única categoria de informação que meu avô não estava disposto a me deixar conhecer.
Catcher estendeu o envelope.
— Segure isto com cuidado.
Assenti com a cabeça e peguei de sua mão. Era mais pesado do que eu
imaginava, e tinha uns dois centímetros de espessura em ummaço de papéis.
—Suponho que não há nenhuma espiadela liberada para a menina da entrega?
— Agradeceríamos se não fizer isso. — meu avô disse.
— Desta forma. — Catcher interrompeu. — Não teríamos que recorrer à violência física, o que tornaria as coisas realmente estranhas entre nós, uma vez que
você é a neta do Chuck.
— Acredito que podemos confiar nela. — meu avô disse; seu tom seco. — Mas aprecio sua dedicação.
— Apenas um dia na vida de Chuck. Apenas um dia.
Tarefa na mão; assumi que agora era um bom momento para deixar de adiar e realmente tomar meu caminho para a Casa. Tinha dado um primeiro olhar à minha nova residência à espera.
— Por este comentário. — eu disse. — Deixarei vocês três. — olhei para trás, para meu avô e mantive o envelope no alto. — Farei a entrega, mas provavelmente precisarei de algo para compensar meus esforços.
Ele sorriu indulgentemente. — Pão de carne?
Ele me conhecia tão bem.
Eles o chamavam de "perder o seu nome." Para se tornar um vampiro, para afiliar-se a uma Casa, para se tornar um membro em uma das mais organizadas (e anteriormente secretas) sociedades no mundo, você tem que primeiro renunciar sua
identidade, entregar-se por completo. Renunciar a seu sobrenome para simbolizar o seu compromisso com seus irmãos e irmãs. A afiliação à Casa permanecerá no lugar de seu antigo sobrenome, a marca distinta de sua nova família. Suponho que fui uma rara exceção à regra: Merit era realmente meu sobrenome, mas eu usei Merit durante anos, de forma que eu mantive o nome depois da Recomendação.
De acordo com o Canon (capítulo quatro: "Vampiros – Quem está acima?"), renunciando seu sobrenome, você começa a aprender os valores comunitários da
sociedade vampira. O sacrifício compartilhado. Liderança. Prestação de contas – não a sua família humana anterior, mas sim a sua nova com presas. Os Mestres Vampiros
supostamente têm que tomar seus sobrenomes de volta. É por isso que era Ethan Sullivan – e não simplesmente Ethan – quem estava no controle da Casa Cadogan.
E falando de Sullivan, isso nos leva ao mais importante valor comunitário – ter que beijar os traseiros dos vampiros do alto escalão.
Eu estava na missão de beija- traseiros agora.
Bom, estava em uma missão de entrega. Mas dado o destinatário, beijar-traseiros vinha junto com o pacote.
O escritório de Ethan era no primeiro andar da Casa Cadogan. A porta estava fechada quando eu cheguei pós-adiamento, com as malas na mão. Eu me detive um instante antes de bater, sempre adiando o inevitável. Quando finalmente me engenhei
para bater, um simples "entre" ecoou do escritório. Abri a porta e entrei.
O escritório de Ethan, como o resto da Casa Cadogan, estava elegantemente
decorado, apenas este lado pretensioso, como convém a um endereço de Hyde Park.
Havia uma mesa à direita, uma sala de estar à esquerda, e, no outro extremo, em frente a uma fileira de janelas com cortinas de veludo, uma enorme mesa de reuniões.
As paredes estavam repletas de prateleiras embutidas, as quais estavam providas de antiguidades e recordações de Ethan e de seus trezentos e noventa e quatro anos de
existência.
Ethan Sullivan, líder da Casa Cadogan e o Mestre que me converteu em um
vampiro estava sentado atrás de sua mesa, um pequeno telefone celular em sua orelha, os olhos sobre os papéis espalhados diante dele. Sempre parecia documentos diante dele, ser Mestre era evidentemente pesado na papelada.
Ethan vestia um impecável terno preto sob medida, com uma imaculada camisa branca por baixo, os botões superiores abertos para revelar o medalhão dourado que
os vampiros usavam para indicar a afiliação à sua Casa. Seu cabelo, de um louro dourado e comprido até os ombros, estava controlado hoje, escondido atrás de suas orelhas.
Embora me incomodasse ter que admitir, Ethan era bonito. Um rosto
perfeitamente belo, maçãs do rosto absurdamente perfeitas, queixo talhado, olhos impressionantemente esmeralda. O rosto complementava o corpo, o qual a maior parte eu vi inadvertidamente enquanto Ethan entretinha Amber, a antiga Consorte da Casa Cadogan. Infelizmente descobrimos pouco depois que Amber estava ajudando à Celina em sua tentativa de assumir o controle das Casas de Chicago. Ele olhou para as
malas em minhas mãos.
— Se mudando para cá?
— Sim.
Ethan assentiu.
— Bom, é uma boa jogada. — o tom não era elogioso, mas condescendente, como se estivesse decepcionado de que eu tivesse demorado tanto ltempo com isso, nem sequer dois meses, de fazer da Casa Cadogan meu lar. Não era
uma reação inesperada.
Eu assenti. Mantendo o comentário sagaz à luz de seu mau humor. Eu conhecia os limites para perturbar um Mestre vampiro de quatrocentos anos, mesmo que eu os pressionasse em certas ocasiões.
Deixei cair minhas malas, abri o zíper da bolsa, peguei o envelope confidencial, e o estendi para ele.
— O Ombudsman me pediu para lhe entregar isto.
Ethan arqueou uma sobrancelha, depois pegou o envelope de minhas mãos.
Desenrolou o cordão de seu envoltório plástico, deslizou um dedo sob a aba, e olhou para dentro. Algo em seu rosto relaxou. Eu não estava certa do que eu havia entregado do escritório do Defensor Público, mas Ethan parece ter gostado.
— Se não há algo mais. — eu disse, inclinando a cabeça em direção as malas no chão.
Não mereci nem sequer um olhar.
— Pode se retirar. — ele disse de forma distante, pegando os papéis e folheando-os.
Eu não tinha visto muito Ethan nas primeiras semanas. No que se referia às reuniões, esta foi bastante, “dês dramatizada”. Eu podia lidar com isso.
Tendo cumprido meu dever familiar, me dirigi à suíte dos escritórios do
primeiro piso reservado para o pessoal de Cadogan. Helen estava atrás de sua mesa quando cheguei. Vestia um pequeno terno rosa, ao que parece ela havia concedido para si uma exceção ao código de vestimenta de Cadogan, completamente preto. Seu escritório era simplesmente rosa. Os materiais estavam armazenados em pastas coloridas ao longo de prateleiras de madeira clara, e sua mesa estava cuidadosamente
organizada, e repleta com mata-borrão, caneta, e agenda, eventos e compromissos claramente marcados com tinta colorida.
Ela estava ao telefone, o telefone sem fio estilo princesa colocado
perfeitamente pelos cabelos prateados, os dedos cuidadosamente segurando ao redor do telefone.
— Obrigada Priscilla. Eu te agradeço. Adeus. — colocou de volta no receptor, juntou suas mãos e me sorriu.
— Esta era Priscilla. — ela me explicou. — A Ligação da
Casa Navarre. Estamos planejando um evento de verão entre as Casas. — ela deu um olhar cauteloso para a porta aberta, depois se inclinou para mim. — Francamente. — me confessou, — Esta relação entre você e Morgan está fazendo maravilhas para as relações entre as Casas.
Morgan Greer era meu aspirante a noivo e o novo Mestre Vampiro da Casa Navarre. Ele assumiu a posição quando Celina foi presa, elevando seu status de Segundo no Comando a Mestre. Pelo que eu tinha visto, Segundo era como o vice-presidente vampiro. Um homem chamado Malik era oficialmente o Segundo da Casa
Cadogan. Ele parecia trabalhar principalmente nos bastidores, mas estava claro que Ethan dependia dele, confiava nele.
Pensando que eu devia à Helen ser educada, sorri e não corrigi sua avaliação de nosso "relacionamento".
— Ainda bem que pude ajudar. — eu disse, inclinando minha cabeça para as malas em minhas mãos. — Tenho minhas malas, se pudesse indicar meu quarto?
Ela sorriu com alegria.
— Claro que sim. Seu quarto fica no segundo andar, a ala de trás.
A despeito da bagagem, meus ombros caíram em alívio. O segundo andar da Casa Cadogan continha a biblioteca, a sala de jantar e o salão de baile, entre outros quartos. Aqueles outros quartos “não” incluíam os apartamentos de Ethan, os quais
estavam no terceiro andar. Isso significava que um piso completo, nos separava.
Helen me entregou uma pasta azul-marinho contendo o selo circular de
Cadogan.
— Estas são as regras da residência, mapas, informações sobre estacionamento, o cardápio da cafeteria, etc. A maior parte da informação está online agora, é claro, mas nós gostamos de ter algo que os vampiros novatos possam se fixar
— ela parou e me olhou com expectativa.
— Vamos.
Concordei, recolocando minhas malas e segui-a pelo corredor, em seguida por uma estreita escada. Quando chegamos ao segundo andar, viramos, depois viramos novamente, e de repente fomos confrontados por uma porta de madeira escura, com
um quadro de anúncios de madeira pequeno pendurado nela.
MERIT, SENTINELA, lia-se em uma placa bem acima do quadro. Helen buscou no bolso de seu casaco, pegou uma chave, e a inseriu na fechadura. Virou a maçaneta, abriu a porta e ficou de lado.
― Bem vinda à Casa, Sentinela.

Mordidas de sexta a noite 2Onde histórias criam vida. Descubra agora