I

16.5K 310 19
                                    

Organizava os CD’s desarrumados pelos clientes quando ouvi a voz do Elliot. O queserá que está ele aqui a fazer? Afinal só cá põem os pés ao fim do mês, para fazer as contas. Que eu saiba ainda estamos a meio.

A voz do Charlie mistura-se com a de Charlie. Espreitei por cima das prateleiras e o olhar de Elliot apanhou-me.

- Harry, chega aqui!

Ele fez-me sinal. Deveria estar preocupado com a sua presença antecipada? Desloquei-me até eles sempre com esta pergunta na cabeça. Juntamo-nos no balcão.

Rapidamente o meu olhar foi atraído para uma rapariga que se reunia com eles. Cabelo loiro, duas madeixas cuidadosamente penteadas para trás, fixas por uma mola de castanheiro, a franja quase tapava os olhos de um cinzento mal misturado com azul-marinho, lábios pintados de um leve vermelho e pele de marfim.

- Esta é a Angie, ela vai-se juntar a vocês aqui na loja.

Suspirei de alívio. Senti-me idiota por ter ficado preocupado pela visita precoce do Elliot. Ele acabou de me apresentar a uma das mulheres mais bonitas que já vira, melhor, disse-me que ia vê-la todos os dias.

- Angie, estes são o Charlie e o Harry.

Ela surrio-nos educadamente e tinha o sorriso mais bonito que alguma vez tinha visto. Charlie com o seu movimento brusco interrompeu o contacto visual que havia entre nós.

- Sê bem-vinda!

Ele gritou em festa e abraçou-a de forma que a bela rapariga ficou pouco à vontade com a proximidade.Definitivamente, não tinha sido o único a reparar na sua beleza fascinante.

- Obrigada.

A sua voz suavemente cantou. Eu mantinha-me atrás de Charlie que tentava meter conversa com ela, mas ela nem o ouvia. Sentia os seus olhos a examinarem-me de cima a baixo, tal como eu fiz quando a vi. Só queria olhar para ela durante mais um minuto.

-

Tinha a sensação de que todos na loja se calava para ouvir a voz de Angie enquanto atendia os clientes. Era visível o elevado número de homens que se concentravam na sua fila, enquanto isso na de Charlie apenas avançavam velhas chatas. Muitas vezes me pergunto o que faz num videoclube, alguém que mal consegue ouvir mesmo com aparelhos aditivos de alta potência e mal consegue ver, mesmo com óculos de lentes da grossura do fundo de uma garrafa.

Vi Charlie aproximar-se de mim, que me mantinha a arrumar os CD’s, enquanto isso a fila de Angie continuava a crescer a olhos vistos. A sua beleza vendia mais que a edição limitada do primeiro CD dos Beatles. Nunca tinha visto a loja tão movimentada como neste últimos dois dias!

- Estás interessado nela, hã?

Charlie surpreende-me dando-me chapadinha nas costas que me quase fez largar os filme para o chão. Estaria assim tão fucado na Angie que nem tivera dado pela proximidade a que Charlie já se encontrara?

- Não precisas de disfarçar, eu conheço-te.

Olhei, novamente, para ela no balcão enquanto fazia os trocos. Sentia-me hipnotizado pela forma atenciosa com que ela tratava os clientes. Todos queriam ser atendidos por ela, eu próprio desejava ser atendido por ela.

-Ela é tão bonita... Eu não tenho coragem para a convidar para sair...

Suspirei, desanimado. Ela era a rapariga mais bela que alguma vez tinha visto. Era tão delicada e frágil que tenho medo de me aproximar e quebrar toda a sua beleza e graça com o meu desleixo, cabelo sem rumo certo e ténis velhos.

- Não precisas, pensei em convidá-la para vir ao meu aniversário, na sexta-feira.

Eu ergui a minha cabeça com as palavras animadoras e vi o sorriso no rosto de Charlie, retribui-lho. A ideia parecia-me brilhante! Provavelmente, ela não conheceria ninguém a não ser eu e o Charlie, como tenho a certeza de que o Charlie se vai embebedar até não, só resto eu como companhia.

assim assim » h.s. au [status]Onde histórias criam vida. Descubra agora