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XII

O sabor tóxico dos seus lábios envolvia-me por completo. Mesmo depois de umas quantas bebidas o sabor doce da boca dela continuava a sobrepor-se ao malicioso álcool. O ambiente do bar parecia agora muito mais pesado e sufocante. Pequenas gotas de suor salgadas percorriam o pescoço de Angie, mas a minha língua apressou-se a recolhê-las. Sentia-me bastante mais solto, bastante mais atrevido e pelo som emitido por ela, apercebi-me de que lhe agradava a minha coragem recém-adquirida.

Senti os dentes dela mordiscarem-me ao de leve a orelha, o que me fez arrepiar. As palavras emitidas pelo seu bafo quente desencadeavam-me um sorriso malicioso no meu rosto.

- Vem comigo, eu acho que tu precisas de mim…

Ela leu os meus pensamentos. Eu precisava cada vez mais dela. Angie nem esperou por uma resposta e apressou-se em sair do espaço frenético, fazendo-me persegui-la, como um leão persegue a sua presa. Os seus olhares provocadores misturados com os seus dedos esguios a passarem nos seus lábios brilhantes, com a minha saliva a perpetuar-se neles, fez com que me sentisse bastante… excitado. Ela, definitivamente, dava comigo em louco, fosse emocionalmente, fosse fisicamente ou sexualmente. Todos os seus movimentos obliteravam as minhas funções cerebrais, tornando-me o seu cativo. Eu era dela.

Ela seguia mais à frente pela rua, virando-se de vez em quando, para verificar se eu ainda a seguia, mas tal era desnecessário, e ela sabia-o. Sempre que eu andava mais depressa, ela parava e voltava-se para mim com um gesto de reprovação, dizendo que era ela quem ditava as regras do jogo e pelo tom da sua voz, percebi que falava a sério, preferindo contentar-me com a distância dolorosa. Nas minhas calças podia-se certamente notar um certo relevo, mas eu não me importava, tudo o que me interessava era tê-la!

Estávamos a chegar ao meu prédio, eu distrai-me por míseros instantes para procurar as chaves do prédio no bolso e assim que me voltei para a encarar, ela desaparecera e um baque no meu coração fez-se sentir. Para onde fora ela? Teria já entrado no prédio sem mim? Era aquilo tudo uma brincadeira? Empurrei a porta rangente do bloco de apartamentos e tentei vislumbrar o que quer que fosse, mas a escuridão era tudo com que me deparava. Ela deixara-me mesmo ali, sozinho? Passei uma mão, frustradamente, pelo meu cabelo desordenado, puxando as pontas dos meus caracóis para trás da minha testa suada.

Continuava a fixar-me na entrada do prédio, mas nada! Preparava-me para desistir e mas eu não o queria, foi então que eu detetei movimentos e olhei na direção que me pareceu a certa.

- Anda daí!

Angie fitava-me já em cima na primeira agrupação de degraus, com um sorriso diferente desenhado no rosto. Parecia desejar-me e recompensar-me. Não pude evitar deixar escapar um suspiro de alívio e adoração. Eu corri até ela, e os seus dedos ancoraram-se nos meus, rebocando-me pelas escadas infindáveis, enquanto passávamos por portas de madeira monótonas. Dei por mim a divagar sobre o que é que os meus vizinhos estariam a fazer. Já era tarde, mas podiam estar a ver um programa de televisão interessante ou algo do género. Bem, isso mas isso não interessa nada!

Finalmente, chegámos à minha porta e depois de as minhas mãos ansiosas, a abrirem, deixei que o meu nariz engolfasse o aroma familiar do apartamento artisticamente desorganizado. Sem me dar tempo para raciocinar, a boca de Angie voltou-se a colar à minha, provocando uma dança sensual entre as nossas línguas, assim que fechou, violentamente, a porta. O meu corpo voltava a aquecer e as minhas mãos, involuntariamente, percorreram as suas costas, agarrando-lhe nas pontas do seu cabelo dourado e puxando-o, levemente, para que assim tivesse melhor acesso ao seu lindo pescoço, que ardia contra a minha boca insaciável. Conseguia sentir a sua pulsação acelerada e tinha quase a certeza de que ela também conseguia sentir a minha.