VII

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POV Angie

A voz grosa do meu pai fazia-se ouvir do lado de fora da casa. Percebi que estava irritado pela forma rude com que falava ao telefone. Por momentos tive pena da pessoa que estava do outro lado da linha, o pior é que tinha a certeza de que a culpada pela sua cólera era eu. Hesitei um pouco antes de rodar a chave, mas lá inspirei fundo, ajeitei a alça da mala e conclui a volta da chave.

Assim que a porta foi fechada, o telefone foi atirado contra o seu suporte violentamente. Eu caminhei cautelosamente na sua direção, sabia que não valia a pena correr pelas escadas a cima ignorando-o.

- Desculpe, eu perdi a noção do tempo.

Disse baixinho. O tempo no estúdio tinha-me absorvido do mundo por completo. É sempre assim… Mesmo sozinha sentia-me acompanhada, as minhas sapatilhas são as minhas melhores amigas. Bem, mas explicar essa sensação ao meu pai era uma coisa impossível, a sua sensibilidade ainda está por descobrir.

- São duas da manhã! Eu não acredito que estiveste no estúdio até esta hora ou também estiveste com o rapaz das noites passadas?!

A sua voz masculina espalhou-se pela casa rapidamente. Eu rolei os meus olhos para os meus ténis, nesse percurso curto identifiquei um objeto que reconheceria, mesmo a cem metros de mim.

- Espera, isto estava na minha secretária! Andou a mexer nas minhas coisas?!

Eu agarrei bruscamente o meu caderno velho que agora estava em cima da mesa da cozinha depois de uma busca do meu pai, uma invasão de privacidade.

- Eu apenas estava á procura de qualquer informação, já que os meus telefonemas eram sempre desviados para a caixa de mensagens.

Ele desculpou-se. Desta vez nem a sua preocupação, nem a falta de bateria no meu telemóvel o conseguia inibir da responsabilidade de ter mexido no que não é dele.

- Então eu agora sou o quê? Um dos seus suspeitos?

Eu atirei erguendo a voz. A fúria dominava-me.

- Quando te comportas com um, sim! Onde é que estiveste?

Ele quase me fez sentir pequena com a força da sua voz, mas naquele momento a ira dentro de mim era demasiada para me deixar ficar por baixo.

- Então, primeiro invade a minha privacidade, ao mexer nas minhas coisas e depois quer saber onde estive?!

Respondi insolentemente. Ele já não tinha poder sobre ou sobre as minhas ações, com vinte anos já sei escolher entre o bem e o mal!

- Não me fales nesse tom! Sou teu pai!

Ele avisou-me apontando o dedo cheio de fúria.

- Às vezes preferia que não fosse!

Eu desabafei, ele nunca me percebeu, nunca me apoiou no que gosto de fazer. O meu pai é aquele tipo de pessoa que ajuda sempre primeiro os desconhecidos e a depois família. Sempre o foi!

- Estás a tentar dizer-me alguma coisa. Agora és adulta, é?

Ele tentou troçar me mim, mas na verdade era isso que eu era. Uma adulta!

- Talvez já esteja na altura de se acostumar antes que tenha um ataque do coração!

Eu tencionava parar a conversa por ali antes que aquece-se mais. Voltei as costas e deu pequenos passos até às escadas.

- Quem é ele?

Ele baixou o volume, parecia-se ter acalmado, mas eu ainda fervia. Deixei a alça da minha mala de treino deslisar pelo meu braço e atirei-a contra o chão furiosamente. Dirigir-me a ele com passos largos e rápidos.

assim assim » h.s. au [status]Onde histórias criam vida. Descubra agora