XI

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POV Angie

Eu acordei sozinha naquele espaço. Eu só conseguia ouvir o meu próprio batimento cardíaco e isso fazia-me sentir loucamente sozinha. Jeremy já se tinha levantado e tinha saído para algum lugar de que eu não tinha informação. A noite anterior ele tinha sido o meu ombro amigo, aliás, como sempre foi. Ele sei que ele realmente se preocupa comigo e cuida de mim.

Era certo que as nuvens ainda não tinham desaparecido por completo, mas o sol iluminava intensamente o quarto e ofuscava os meus olhos. Eu rapidamente me levantei e depois de trinar o meu cabelo eu desci as calças do pijama e substitui-as pelos jeans. Enfiei também a camisa e os ténis.

Esta tinha sido a pior noite que tinha passado depois de discutir com o meu pai, nem mesmo a primeira noite em que passei em casa do Harry tinha sido tão torturadora, talvez pelo cansaço que sentia nesse dia, não sei. Eu apenas sabia que tinha de voltar e pedir desculpa ao meu pai e perdoá-lo por aquela noite. Nenhum de nós estava num dia bom e as emoções viram-nos á flor da pele.

Com as coisas debaixo do braço entrei no primeiro táxi que vi e dei a minha morada ao taxista. Agora, eu enfrentava o meu orgulho. Engoli em seco e rodei a chave na fechadura.

A minha respiração prendeu com a aflição que senti quando ao entrar na sala de estar, deparando-me com o meu pai deitado no sofá com imensas latas de cerveja envolta e a televisão a falar sozinha. Eu não podia acreditar no que ele tinha feito a si próprio e eu sentia-me profundamente culpada, pois ele estava preocupado e tentou encontrar na bebida o consolo pela tristeza de não me ter por perto.

- Pai.

Eu chamei abanando o seu ombro para que ele acordasse.

- Ruby, és tu?

Ele disse contorcendo-se ainda adormecido. Ele estava a sonhar com a minha mãe, eu sabia-o não só pelo facto de estar a chamar por ela ou pelo sorriso esboçado no seu rosto, mas também pela moldura que abraçava junto ao lado esquerdo do peito.

Eu levantei a imagem levemente e observei a fotografia conservada debaixo do vidro. Eu não conhecia aquela fotografia das prateleiras de casa, mas identifiquei claramente a mulher de vestido rosa pálido, caracóis loiros caídos nos ombros, olhos azuis resplandecentes e um sorriso iluminado de felicidade. Era a minha mãe.

A sua morte sempre foi um assunto muito envolto em tabu na minha família, especialmente da parte do meu pai. Ele, realmente a amava e eu tirei-lhe a vida. Quando recebo suas as frases secas ou os comentários frios sobre as minhas saídas, o facto de nunca parar em casa ou de estar sempre na academia deixa-me a querer morrer. Eu penso que eu nunca deveria de ter nascido, a minha mãe devia ter abortado de mim e ter lutado contra o cancro avassalador. Pelo menos assim os dois seriam mais felizes e mais tarde, quem sabe, teriam um outro filho. Talvez um que o meu pai aceitasse e que se pudesse orgulhar de todos os progressos na sua vida e partilha-los com a mulher da sua vida. Eu sou a culpada da infelicidade do meu pai e mesmo não despropositadamente, eu vejo-a todos os dias nos seus olhos, sempre que olha para mim.

Eu encontrava-me agora sentada na ponta da poltrona da sala e continha as lágrimas com a minha força máxima, mas com estes pensamentos era cada vez mais difícil segurá-las.

- Angie.

Eu ouvi a voz temulenta do meu pai a chamar enquanto rodava no sofá, parando o seu foco ocular em mim. A coragem para enfrentá-lo escapava-me por entre os dedos em conjunto com as palavras certas. Eu realmente não merecia ter alguém preocupado comigo, eu nunca iria mudar a minha personalidade egoísta, irritante e orgulhosa demais.

- Angie, tu estás bem?

Ele quase me surpreendeu com as suas palavras e tom. Eu pensei que iria começar com um sermão de meio-dia onde me iria atirar á cara todos os meus defeitos e vícios. Mas não, e isso espantou-me.

assim assim » h.s. au [status]Onde histórias criam vida. Descubra agora