IX

1K 115 22
                                    

Eu não queria acordar, eu estava a sonhar que alguém me tinha amado na noite passada, mas sopros fracos e quente nas minhas bochechas obrigavam-me a fazê-lo.

Senti algo ser pressionado no meu pescoço. Algo quente, macio e sedutor que sugou delicadamente a minha pele. Trilhos de beijos foram deixados no meu pescoço seguido para a minha orelha, o seu nariz afastava os meus caracóis da frente do ouvido e isso fazia-me sentir nas nuvens, cada toque parecia-se com o céu ou alguma coisa do género.

- Bom dia, honey…

Ela murmurou em tom de veludo contra no meu ouvido. A sua voz rouca fez borbulhar algo em mim. Alguma coisa que florescia, como uma flor na Primavera e isso fazia-me sentir tão bem.

Levemente, abri os olhos, imediatamente, fui cegado pela luz forte vinda do exterior daquelas quatro paredes. O sol brilhava como nunca no mês de Abril. Assim que voltei a tentar abrir os olhos fui celestialmente confrontado com uns olhos cinzentos que me exploravam atentamente, só mais um pouco. As bochechas borrifadas do leve encarnado, lábios cor-de-rosa baço e o cabelo harmoniosamente entrelaçado entre ondas.

- Bom dia.

Sussurrei sem deixar que aquele ambiente lunar quebrasse. Uma gargalhada doce foi deixada no ar. Não conseguia imaginar melhor forma de acordar se não como aquela.

- Dormiste bem?

Eu perguntei. O sorriso desenhado no seu rosto fez-me ganhar assas e voar livremente por terras desconhecidas. Foi ai que percebi que eu não tinha sonhado, ela tinha-me amado a noite passada.

A sua cara descansou no meu peito, eu transformei o meu braço numa almofada e apoiei a minha nuca nele. Ambos olhamos para um ponto indefinido no teto. Um ponto que nos metia a pensar. Um ponto pensante, – acho que lhe posso chamar assim. Eu refleti sobre o que me estava a acontecer e cheguei á conclusão que há algum tempo que não estava assim com uma rapariga. Nu, separados por finos lençóis, com a cabeça dela no meu peito, o sol radiante a cegar-me e as roupas espalhadas pelo chão do quarto.

Eu sentia o meu corpo inundado de uma energia lavada de preocupações ou maus estares com o Mundo, eu sentia-me bem.

- Eu sinto-me tão bem.

Acabei por admitir. Eu vi os olhos de Angie se virarem para mim, eles não estavam brilhantes como eu sentia os meus.

- Por favor, Harry…

Ela pediu-me para que não dissesse que me ia na cabeça. Palavras que desde o princípio ela me tinha pedido para esquecer.

Eu vi-a levantar-se do conforto do meu corpo e esticar-se às suas cuecas enroladas no chão, vesti-las e sentar-se no colchão de costas para mim. As suas mãos apertavam o colchão com força como se prendesse algo dentro de si. Eu rastejei pela cama e aproximei-me dela. Os meus lábios traçaram um caminho pela sua coluna desviando-se para o seu ombro e depois pescoço. Ela afastou-se fingindo estar incomodada com a sua falta de roupa no troco e esticou-se para alcançar a t-shirt branca que ficara presa no abajur do candeeiro, mas eu tinha percebido que o lhe estava verdadeiramente a causar incomodo era os sentimentos que ela conseguia ler nos meus olhos. Ela acabou por vestir a t-shirt terminando com o meu prazer de ver as suas costas despidas do sutiã.

- Desculpa.

Eu sussurrei-lhe ao ouvido. Ela virou a cabeça e olhou-me, eu aparentemente estava desculpado. Ela voltou a deitar o seu corpo por total no colchão voltando a fixar o teto.

- Por favor, tu sabes que não é nada disso que eu quero, não é?

Eu, realmente não percebia o sentido daquelas afirmações disfarçadas de perguntas depois de uma noite sexo divinal, mas ela fazia sempre questão de mas acordar na memória. Eu apenas ajustei o lençol à minha cintura e voltei a partilhar a cama com ela, ela virou a cabeça na almofada e esperou por uma resposta. Ela optou por aceitar o sorriso fraco vindo dos meus lábios e ignorar o brilho óbvio dos meus olhos.

assim assim » h.s. au [status]Onde histórias criam vida. Descubra agora