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As minhas mãos tremiam, eu estava nervoso. Dedilhei as cordas da minha viola suspensa sobre o meu tronco, na tentativa de me aclamar. Respirei fundo e ouvi o meu nome ser chamado no palco. Bella pousou a mão no meu ombro em forma de me encorajar e acalmar.

Enquanto subia as escadas até ao pequeno palco iluminado eu procurei a cara mais bonita que alguma vez vira, aquela que ilumina o meu dia e que me inspira a cada nota cantada. O meu sorriso nervoso desapareceu quando apenas encontrei uma sala cheia de desconhecidos.

- Harry.

A Bella chamou-me sorrateiramente com uma cara preocupada. Ela e toda a gente no bar, parecia ter percebido a minha desilusão ao não encontrar o rosto e Angie no meio do público. Ela tinha falhado como seu compromisso. Eu, definitivamente não era uma prioridade para ela. Mas eu não podia simplesmente descer o palco e desistir, não agora que estava a fazer o que sempre sonhei fazer. Cantar. Tocar. Escrever. Ter público que gostasse de mim.

Encostei-me levemente á ponta a cadeira de três pernas, que se centrava na pequena plataforma. Repousei a viola no meu joelho direto e ajustei o microfone para mais perto da minha boca. Com a palheta segura na ponta dos meus dedos compridos, eu percorri as cordas calmamente e um silencio incrivelmente inaudível se instalou na sala. Eu ergui o meu rosto para encarar todo aquele ambiente focado em mim, a única pessoa sob luz. Eu continuava desapontado com Angie, mas todas aquelas pessoas á espera de ver a minha atuação dava-me força para continuar. Voltei a dedilhar as cordas da minha velha viola e ao som leve juntei a minha voz.

“Eu fico louco, pois não é aqui onde eu quero estar
E satisfação parece uma memória tão distante
E eu não consigo evitar
Tudo que eu quero ouvi-la dizer é: "És meu?"
Bem, tu és minha?
És minha?
És minha, certo?”

Eu acariciei palavras escritas por mim. Na verdade apesar dos rostos contentes e expansivos do público, eu não estava a dar o meu melhor. Eu senti que a pessoa a quem me dirigia na letra da música não estava lá para ouvir, por isso, não vala a pena esforçar-me. A Angie era única que me poderia fazer ter vontade sorrir para a vida.

A sala ficou silenciosa por escassos momentos e logo a seguir todas as cadeiras ficaram livres e as mãos enalteceram o meu momento. Toda aquela gente desconhecida, Bella, Charlie, Gabe e Yasmin aplaudiram-me de pé. Eu nunca me tinha sentido assim, era reconfortante sentir que aquele som aplaudido era para mim. Eu sentia-me feliz, como se estivesse a vive um sonho. E eu estava, eu estava a viver um sonho acordado…

Eu abandonei o palco depois de deixar um pequeno agradecimento que foi amplificado pelo microfone.

- Foste ótimo, Harry.

Eu atirei a viola para trás das minhas costas e aceitei o abraço da minha irmã.

- Sim, foi realmente bom.

Yasmin apoiou enquanto se abraçava ao tronco de Gabe. Eu queria tanto que a Angie me fizesse aquilo, mas ela preferiu quebrar a sua promessa e ficar onde quer que seja que ela está.

- Foste tu que escreves-te aquilo, Haz?

O Charlie perguntou. Eu acenei com a cabeça, todos sabia que eu cantava e que escrevia algumas músicas, pois eu às vezes cantava naqueles jantares de verão com amigos no alpendre do meu prédio, mas nunca me tinham ouvido com muita atenção. Esta tinha sido a minha maior atuação.

- Nós vamos beber alguma coisa, também queres?

Eu acenei com a cabeça negando querer uma bebida. Gabe, Yasmin e Charlie saíram na direção do balcão principal, eu esperava Bela ir com eles, mas ela ficou.

- Tu estás bem? Estás muito calado.

Ela enrugou a testa em preocupação. Eu sabia que mesmo que dissesse que estava todo bem, Bella lerei nos meus olhos que não.

assim assim » h.s. au [status]Onde histórias criam vida. Descubra agora