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VI

Fiz questão de ficar com Angie, á espera da sua boleia. Não tínhamos assunto de conversa, era constrangedor. De repente o vibrar do seu telemóvel rompe o silêncio das nossas cordas vocais.

- A minha boleia chegou.

Ela disse olhando para um jipe preto de vidros fumados parado no outro lado da larga estrada. Um rapaz de corpo bem constituído, de altura aparentemente próxima da minha, cabelo castanho-claro fazendo um relevo na frente com o apoio de gel, olhos negros e maxilar saliente sai e encosta-se á porta olhando para nós enquanto puxa as mangas da camisola de lã até aos cotovelos. 

- Amanhã, às nove, não me vou esquecer! Adeus.

 Ela relembrou-me do nosso combinado, um sorriso na minha mente se formou ao imaginar que amanhã por esta hora a Angie vai estar em minha casa, a jantar e a ver um filme comigo. Mas um sentimento ciumento inundou-me imediatamente quando ela depois de correr pelo alcatrão e chegar perto do rapaz abraça-o, abraça-o com força. O rapaz antes de abrir a porta e se esticar para lhe pôr o cinto, encosta ligeiramente os lábios ao topo da sua cabeça nu beijo cuidadoso. Invejava-o profundamente por poder tomar aquela atitude, entanto eu ainda sonho com esse dia, mas essencialmente inveja-lhe toda aquela cumplicidade, charme e aspeto bem cuidado que não se podia comparar com as minhas vans rotas. Roo-me por dentro de preocupação em pensar que ela talvez trate todos os seus amigos como me trata a mim…

-

Enquanto preparava café na cozinha a porta abre-se bruscamente. Gabe corre até mim e antes de começar a falar debruça-se na bancada da cozinha de uma forma interessantíssima.

- Então, como e que vai isso com ela? Já conseguiste que ela dormisse contigo? Ela masturbou-te? Tu masturba…

Todas as sugestões de prazer sexual que Gabe me ia dar foram eliminadas completamente do ambiente com a presença súbita de Angie na cozinha.

- Ouviste alguma coisa ou…

A expressão de confusão de Angie relaxou-me um pouco. Aparentemente ela não se tinha apercebido do assunto anteriormente tratado. Posso concluir que Angie não é muito observadora, distrai-se facilmente com coisas mínimas, como a arrumação improvisada da minha casa, os pósteres de bandas de rock, as coleções de objetos incomuns ou com a vista sobre a varanda do prédio desabitado em frente.

- Olá, Angie.

Gabe acenou com um sorriso nos lábios.

- Olá.

Ela respondeu simpaticamente. A sua visão continuou a explorar a desorganização d minha casa, a sua distração ajudou-me a fazer com que o Gabe se fosse embora. Fechei a porta mesmo depois da sua saída. Encostei á porta e respirei fundo. Nada nos iria incomodar mais.

-

Já há uns longos minutos via o rabo-de-cavalo de Angie balouçar de um lado para outro enquanto se mostrava interessada nos meus livros, CD’s e filmes. O top inocentemente revelador, mostrava as suas costas de pele branca e pura. As suas escápulas salientes não passavam despercebidas enquanto ela se esticava a uma prateleira mais alta.

- Acho que nunca conheci ninguém com tantos CD’s dos Eagles.

Disse enquanto olhava para a playlist de “Hell Freezers Over”. O meu favorito.

- Sim, eu adoro-os.

Ela sorriu. Voltou-se de novo para a estante atolada. Ela esticou-se a uma prateleira ligeiramente mais alta que ela, de seguida virou-se para mim com um caderno nas mãos que folheava atentamente.