Right Where We Are

Hadley

Olhei no espelho novamente,me certificando de que estava apropriadamente arrumada. Ok,que a editora era um tanto despojada, mas era meu primeiro dia no trabalho. Eu deveria estar apresentável.
Passei mais uma camada de batom nos lábios, um rosa bem suave e opaco. Uma última olhada, e fui pegar minha bolsa.
Robbie estava diante do notebook, como sempre.
-Amor, eu estou saindo. – eu disse, abrindo os armários em busca de algum biscoito que eu pudesse comer no caminho. Achei uns cookies de chocolate.
-Ah, já? – Rob perguntou, um tanto distraído. Como sempre.
-São oito da manhã. Você não devia estar saindo também?
-Eu vou mais tarde, tenho que terminar esse projeto.
-Ok. Nos vemos no almoço?
-Talvez, vai depender da aprovação do projeto.
-Me liga, então.
-Certo.
Ele falava comigo sem tirar os olhos da tela.
-Robert? – eu chamei, quase sussurrando.
-O que foi?
-Eu te amo.
Ele ergueu o rosto, e piscou. Os raios de sol atingindo seu rosto deixavam seus enormes cílios ruivos quase invisíveis. Ele suspirou, e levantou da cadeira, vindo na minha direção. Segurou meu rosto em sua mão enorme e me beijou, de um jeito terno.
-Me desculpe por isso. Assim que essa coisa acabar eu prometo que vamos fazer algo juntos, ok? – ele disse, baixinho.
-Promessa é dívida.
Ele sorriu e me deu mais um selinho.
-Agora vai, não se atrase no seu primeiro dia de trabalho. Boa sorte.
Eu sorri em agradecimento e saí de casa. O “boa sorte” de Robbie deu certo, já que assim que eu saí passou um ônibus indo exatamente para onde eu trabalhava. Fiz sinal, ele parou e eu embarquei.
Eu enfim, ia trabalhar com o que eu mais amava no mundo: livros. Iria para uma editora,uma “jovem” editora. Além do pouco tempo de fundação, eles eram especiais por dar oportunidades para jovens escritores. Sabe as “fanfics”? Então. Ali talvez elas se tornariam um livro.
Isso dependeria da minha aprovação. Eu estava um tanto ansiosa, por que era muita responsabilidade pra assumir. O futuro de vários jovenzinhos estava em minhas mãos.
Não só das minhas, porque eram eu e mais duas pessoas nesse serviço, mas enfim. Me dava um friozinho na barriga pensar nos talentos que eu descobriria – e nas pérolas que eu leria.
Em todo esse meu momento de reflexão, eu cheguei ao meu destino. Desembarquei do ônibus, atravessei a rua e lá estava eu diante do enorme prédio onde ficava a editora.
Respirei fundo e entrei pela porta giratória,vendo dezenas de pessoas entrando e saindo,agitadas, enfiados em ternos, com a cara no celular, comendo apressadamente e me lembrando dos meus biscoitos ficaram na bolsa.
Me encaminhei para o elevador,e haviam duas pessoas aguardando ele chegar ao térreo. 10 segundos depois e ele abria suas portas, e entramos. Eram um senhor por volta de uns 50 anos, olhando no relógio mais do que deveria e uma moça, com mais ou menos a mesma idade que eu.
-Você tá indo pra Editora Youth? – ela me perguntou, assim que apertei o botão do sexto andar.
-Sim, estou.
-Hadley Jones?
-Exatamente. – como ela me conhecia?
-Ah,eu sou Ellie...uma das “leitoras” . – ela estendeu a mão e eu a apertei, ainda um pouco tímida. – Vamos trabalhar juntas,isso é ótimo! Nina escolheu muito bem.
-Meu Deus, é cedo pra dizer.
-Eu gostei de você, logo de cara. Vamos nos dar bem!
Era bizarro como eu não sabia me comportar perto de pessoas que eu acabava de conhecer, então tudo que eu conseguia fazer era sorrir e acenar com a cabeça. A porta do elevador abriu,e ela foi saindo. Me dei conta de que era o sexto andar e aí também, passando por um pequeno corredor até que estivesse diante das paredes de vidro da Youth.
-Venha, eu vou te apresentar ao pessoal.
Quem havia feito minha entrevista de emprego foi essa Nina,uma das donas da editora. Era ela e um rapaz do qual eu não conseguia me lembrar do nome de jeito nenhum...tinha algo a ver com uma banda de rock. Comecei a repassar mentalmente todas as bandas de rock que eu conhecia, tentando achar o nome do rapaz nisso tudo. Seria bem difícil, já que eu nem fui apresentada a ele, Nina apenas mencionou a sociedade deles.
Enquanto passava um show do Metallica na minha mente, Ellie me cutucou,enquanto acenava para Nina, que logo veio em nossa direção.
-Parece que Ellie está bem empolgada com sua companhia,Hadley! – Nina disse, e começou a rir, e eu me peguei hipnotizada pelo seu sorriso. Nina era uma negra lindíssima,com seus cachos indomados e dona de um sorriso estonteante. Facilmente entraria pra uma agência de modelos.
-Estou tão feliz quanto ela, só não sei demonstrar muito. – eu disse,um pouco sem graça.
-Eu também não saberia demonstrar...mas enfim,vamos conhecer melhor a editora, certo? Ellie, receio que você tenha alguns textos te esperando.
Eu acenei positivamente,enquanto Ellie forçou um beicinho e saiu.
-Me perdoe pelo entusiasmo, mas ela é uma funcionária um tanto valiosa. – Nina disse, e começamos a caminhar. O lugar era como qualquer escritório: divisórias, os escritórios separados por enormes paredes de vidro...mas o clima ali era um tanto informal. Acho que ninguém ali passava dos 35 anos.
O nome fazia jus à empresa.
-Bom, Hadley, como você pode ver, aqui é tudo extremamente natural e despojado, mas apesar disso, tudo é feito com muita seriedade e compromisso. A proposta da Youth é mudar a vida de centenas de adolescentes e jovens que tem o sonho de ter seu trabalho reconhecido. Publicamos livros digitais em sua maioria, mas dependendo das histórias que nos são enviadas, publicamos alguns livros físicos também. Você, Ellie e Posey são responsáveis em nos apresentar essas grandes histórias. Está pronta para assumir esse compromisso?
-Mais do que pronta.
-Ótimo! Antes de ir para sua sala,tem mais alguém que você precisa conhecer.
Nina me pegou pela mão e andamos até quase o fim do espaço que era a editora. Uma das últimas paredes de vidro. Chegamos no que parecia ser uma “área comum”. Uma pequena cozinha,mesinhas e pufes. Ali havia um rapaz sentado num enorme pufe cinza-claro, com fones de ouvido no último e os olhos fechados.
-Ele sempre faz isso... – Nina disse isso tão baixo que duvidei que ela estivesse falando comigo. Ela deu uns três passos e cutucou o rapaz com o salto enorme.
-Ei...ei!
O rapaz abriu os olhos,pousou seu olhar em mim, e abriu um enorme sorriso.
-Agora toda vez que eu escutar “Animals” eu vou me lembrar de você. – ele disse,antes de se levantar do pufe e vir apertar minha mão. – Madden Stafford. Metade disso aqui é meu.
-Hadley Jones. Fico feliz que associe Muse à mim.
-Eu adoro meus funcionários...Nina, você é genial. Se não fosse Riley eu te tascava um beijo aqui e agora.
Nina começou a rir.
-Eu fico feliz pelo respeito que você tem por Riley. Bom, Hadley,essa criatura também é seu chefe. – ela disse, apontando pra ele como um mágico aponta para seu grande truque.
-Espero que se lembre disso,Haddie...a maioria das pessoas por aqui esquecem.
-Se você não ficasse nesse estado de “imersão musical” as pessoas certamente se lembrariam. – Nina disse.
-Dane-se. Ninguém nesse mundo atrapalha meu momento diário de ouvir umas obras de arte. Agora,se me dão licença,eu preciso checar meus e-mails. Bem vinda,Srta. Jones. – ele se virou pra mim, e sorriu.
E eu por um minuto, perdi a fala.
-Obrigada. – eu disse uns minutos depois, como quem recupera o fôlego depois de se afogar.
Madden abriu passagem entre nós e saiu.
Uma música do Iron Maiden tocou o dia inteiro na minha cabeça desde então.