1765
O dia estava bonito, amanhecendo com uma luz dourada que banhava os campos e fazia os pássaros cantarem alegres.
Peguei a vassoura e comecei a retirar as folhas do meu quintal, assoviando calmamente uma música que aprendi com minha amada mãe.
— Não é saudável que fique fazendo serviços pesados, ainda mais agora.
Manfred apareceu com um sorriso, seu perfume incomum e os olhos cheios de segredo.
— Tenho que fazer algo, não consigo ficar parada olhando para o nada — reclamei.
— Pode fazer crochê, ou algo do tipo. Suas criadas são pagas para fazer os serviços pesados.
Coloquei a mão nas costas, e outra sobre a barriga de oito meses.
— Se eu cansar-me, me recolherei, juro.
— Venha, quero passear contigo pelo jardim.
Larguei mais do que contente a vassoura, e segurei seu braço. Manfred me guiou para o corredor lateral que levava ao jardim dos fundos.
Caminhamos em silêncio, e ele se sentou no chão, acariciando a grama verde. Como minha barriga já estava muito grande, me sentei no banco.
— Você terá que ir embora daqui em breve — Manfred disse sem hesitar.
— Como... Como assim?
— Os bárbaros atravessaram a fronteira sul, e estão chegando ao povoado. Eles não hesitarão em matar todos que puder para me atingir, querida.
— Mas... Mas você ficará longe do nosso pequeno?
Ele se mexeu desconfortável sob meu olhar triste.
— Você vai embora sozinha, meu amor.
— Acho que ainda não...
As palavras dele começaram a se encaixar no silêncio do jardim. Me levantei com um pouco de dificuldade por causa do vestido e da barriga.
— De jeito nenhum! — quase berrei. — Não vou abandonar meu filho!
— Entenda! Você não vai poder dar a ele o que eu posso dar!
— Então eu vou ficar!
— Melinda... Não posso levar você para minha casa e dizer à minha esposa que tenho uma segunda esposa e um futuro filho. Ela pode perder o bebê que traz no ventre.
Enfiei o rosto entre as mãos, chorando convulsivamente.
— Shhhh, não chore. Eu a amo, meu amor. Eu a amo. Mas não posso descontrariar as leis. Elas são bem claras.
— Não posso deixar meu filho para trás. Não posso.
— Eu sei que não. Mas não há saída. Comigo ele terá um nome de peso, herança e boas recomendações. Se você o levar, ele poderá até morrer de fome.
Ergui meu rosto.
— Isso significa que eu morrerei?
— Não posso garantir-lhe o contrário. Apenas eu e um amigo sabemos sobre você. Se eu morrer na guerra, não haverá mais como ajudar-te.
Sacudi a cabeça com desgosto. Aquilo era demais para mim.
— Melinda, se quiser o bem de seu filho, entregue-o a mim, e eu prometo que darei a ele tudo o que é seu por direito. Eu juro.
Olhei em seus grandes olhos azuis, confusa.Cinco meses depois, o mesmo homem que buscou meu filho, veio me dar a notícia de que Manfred havia morrido em campo de batalha.
Chorei desconsoladamente, por horas a fio. Até o homem me dizer que poderia me levar para morar na casa de Manfred, com uma condição.
— E qual seria? — perguntei olhando-o.
— Que você se torne uma de minha raça — ele falou.
— E qual a sua raça?
O homem sorriu misteriosamente, e presas estranhas cresceram em suas gengivas.
— Vampiros.
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Alma Sombria
RandomAs coisas mudaram. Elisabeth Stone não pode mais ser uma mercenária e amar abertamente seu vampiro Percy Potter. Junto com sua linhagem bruxa vem também uma importante missão: a coroa de rainha das Fusion. E como rainha, Lisa deve ser o exe...