Vinte e Quatro

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            Percy Potter

      Encarei Elisabeth, que me olhou pelo mais breve dos segundos, quase como se eu não estivesse ali.
     Ver Erick ali, sorridente e segurando sua mão, encarando a teia de destruição à sua volta, me fez odiá-lo até as suas tripas.
        Andei em direção a eles, mas fui detido por duas bruxas. Meu ódio me deixou cego, e foi apenas uma questão de torcer seus pescoços com uma única mão, e bater suas cabeças para esmagá-las.
         Bati em outro bruxo, que respingou sangue em meu rosto e roupas, me deixando ainda mais sombrio e enfurecido.
— Maldito! Maldito!
         Pulei sobre Erick, e ambos realizamos pela grama, lutando para dominar o outro. No fim, ele conseguiu se forçar, e ficou sobre mim, dando-me socos no rosto diversas vezes.
        Senti gosto de sangue, meu próprio sangue. Prendi sua cintura e girei, ficando sobre ele. Dei-lhe alguns golpes também, antes de rolar. E essa ação fez toda a diferença, pois a estaca que era endereçada a mim, entrou nas costas de Erick de uma só vez, fazendo o sangue escorrer.
        A bruxa atrás dele pareceu horrorizada, com a mão na boca. Sorri para ela, e falei.
— Obrigado pela ajuda.
        Joguei ele para o lado, e quando a mulher avançou sobre mim, desviei e peguei-a pelos cabelos, mordendo seu pescoço. Eu não estava com muita fome, mas aquele era um banquete cheio e o melhor de tudo, sem remorsos a se sentir mais tarde.
        Fui jogado no chão de novo, e demorei alguns segundos para perceber o cheiro famíliar. Uma cascata de cabelos castanhos atingiu meu rosto, ao mesmo tempo que mãos macias procuravam minha garganta.
— Olá, meu amor — sorri para Lisa, como se não estivéssemos naquela situação ridícula.
— Não me chame de seu amor, idiota — ela grunhiu.
        Uma faca prateada lampejou em sua mão, e lutamos por um breve segundo, antes que eu pudesse bater em sua mão e jogar a faca cerca de cinco metros de nós.
— Imbecil, eu vou matar você. Não preciso de uma faca para isso.
— Mate-me então, mas antes quero saber, por quê? O que foi que eu lhe fiz? Onde eu errei? Você não é assim, Lisa. Você é bem melhor, amorosa e gentil e....
— Cale a boca, seu bastardo!
         Ela me deu um soco realmente bem forte, e saiu de cima de mim, engatinhando atrás da faca.
        Pulei sobre ela, e rolamos na grama, enquanto Lisa esperneava e tentava se livrar de mim. Ela acertou mais alguns socos em mim, mas não a soltei.
— Me larga! Me deixe, seu sanguessuga maldito! Hayna! Alguém!
— Sanguessuga maldito? Essa é nova — bufei em descrença para ela.
         Levei mais alguns socos, e então ela se encolheu e acertou uma joelhada bem forte nas minhas partes. Gritei e larguei-a, segurando com força minhas bolas eternamente danificadas.
— Sua infeliz, como vamos fazer filhos agora? — berrei.
        Olhei em volta e vi Lisa se arrastando até uma faca caída próximo de onde estávamos.
       Assim que segurei ela, sua mão girou, acertando uma facada em meu ombro. Gritei novamente de dor, e caí para trás, segurando o ferimento. Olhei a faca: prata.
       Elisabeth veio novamente, e empurrei ela com a perna, fazendo a pobre coitada cair para trás sobre seu delicioso traseiro.
— Desculpe, não quis ser rude, mas precisei.
        Montei sobre ela, e tentei tomar-lhe a faca. Rolamos, e ela voltou a dominar novamente.
— Você me deve um pedido de desculpas, antes de me matar — falei segurando a mão que tentava empurrar a estaca. — Minhas bolas ainda estão ofendidas com aquela joelhada.
— To me lixando para suas bolas, daqui a alguns segundos, elas serão apenas um monte de pele murcha, acredite — Lisa fungou.
        Fiz uma cara de decepcionado.
— Ora, Lisa. Não vai atender meu último pedido antes que eu morra?
         Ela negou, e intensificou a pressão no braço, buscando certeira meu coração. A ponta da estaca encostou em meu peito, e furou um pouco.
           A dor se propagou pelo meu corpo, e logo eu perderia minhas forças e seria apenas um corpo murcho no chão.
— Diga suas últimas palavras, Percy Potter.
        Seu sorriso era cruel, desprovido de alegria ou qualquer emoção boa. Procurei minha Elisabeth em seus olhos, mas parecia que a escuridão já tinha ganhado essa guerra.
— Eu te amo, sempre e para sempre, Elisabeth Stone.
         A pressão da estaca aumentou, e soltei seu braço, fechando os olhos para a luz que acabei de abandonar.
        Agora eu podia morrer em paz, sabendo que ela saberia que sempre a amei. Mesmo que uma última vez.

Alma SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora