Quatorze

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           Penny Stone

     Alisei o vestido preto simples, liso e longo que me foi arranjado. Olhei no espelho e decididamente eu não parecia nem um pouco da realeza.
         Mas isso não importava. Nada importava. Aaron estava lá embaixo, em um caixão, enquanto meus filhos estavam chorando sobre ele.
         Nem reparei na cerimônia, não olhei para ninguém quando desci. Apenas sentei em meu trono e esperei. Por fim, todos nos levantamos e caminhamos ao lugar da lápide onde meu marido seria enterrado.
       Um por um do Conselho disse algumas palavras, ate chegar a minha vez. Olhei meus filhos, e engoli em seco.
— Aaron Goldsky foi um dos melhores homens que conheci. Eu não o amava no início, mas depois de conhecer muitas de suas qualidades, fica impossível resistir. Ele merecia mais, mas o destino é estranho muitas vezes. Espero que me perdoe por tudo, eu te amo.
       Joguei a rosa sobre o caixão, enquanto Elizabeth e Alec vinham me abraçar. Os doía estavam chorando como nunca, em suas roupas escuras e tristes.
        Quando tudo acabou, Elizabeth se trancou em seu quarto para dormir. Alec já havia adormecido em meu colo, então eu subi para colocar os dois na cama.
— Ashley, cancele toda a minha agenda pelos próximos três dias. Não quero mexer com nada por enquanto — suspirei.
— Sim, Majestade.
       Fui para meu quarto, tomei um longo banho, e quando voltei para o quarto, Albrey estava sentado na beira da cama, alisando a coberta de seda.
— O que faz aqui?
— Sei que você está mal, vim ajudar — ele me olhou. — A ficar melhor.
— Não sei se vou ficar melhor algum dia — neguei.
        Albrey se levantou, caminhando até mim. Sua mão acariciou meu rosto, enquanto lágrimas nadavam em meus olhos.
— Você está dando pulos de alegria, não é? — sussurrei.
       Albrey me encarou.
— Claro que não! Como pode pensar uma coisa dessas? Eu não suporto ver sua dor, e você acha que seria capaz de festejar enquanto sua alma está quebrada?
      Solucei.
— Eu... Eu não sei... Ah, Albrey! Estou tão cansada de viver cercada de aparências, de pessoas mentirosas e oportunistas...
— Shhhh, eu estou aqui agora. Eu estou aqui por você e pelas crianças, sempre que precisar de mim. Eu prometo.
        Deixei que ele me guiasse para a cama. Puxando-me para seu peito, Albrey começou a cantarolar algo, enquanto meus soluços secos ecoavam. Seus dedos acariciaram meus cabelos ritmadamente, até o sono pontar.
— Durma, minha amada. Durma, pois eu a protegerei, sempre.
       Não sei se imaginei isso, mas não tive tempo para perguntar, pois o sono me venceu e adormeci.
        Quando acordei, no dia seguinte, Albrey não estava ali. No travesseiro ao lado havia uma rosa vermelha e um bilhete, que peguei.

        Desculpe, Ashley disse que não ficaria bem para a rainha ter um vampiro saindo de seus aposentos de manhã, ainda mais se essa deveria estar de luto. Alem disso, você dormia tão bem que não tive coragem de acordar você. Amigos?

       Amigos. Amigos. Aquela palavra ecoou em minha cabeça durante todo o meu banho.
      Agora poderíamos ser amigos. Não havia tanta rivalidade entre nossas raças, não enquanto existisse a aliança. Nossos sentimentos para com o outro eram singelos, não mais aquela paixão desenfreada. Sim, amigos.
       Parei na metade da escada. No hall, Albrey, Bethy e Alec brincavam. Albrey estava agachado, enquanto as crianças montavam suas costas.
— Mamãe!
        Bethy gritou e correu para mim, pulando em meus braços. Alec também correu até mim, e abaixei para receber o beijo que ele plantou em minha bochecha.
— Mamãe, esse é Albrey, um amigo da senhora — Bethy apresentou. — A senhora se importa se ele passar o dia aqui, com a gente?
        Olhei para Albrey, que baixou os olhos.
— Claro, minha querida. Como você mesma disse, Albrey é um grande amigo da mamãe.
        Ele ergueu os olhos, me encarando maravilhado. Devolvi o sorriso, apontando para a cozinha.
— Quem quer me ajudar a preparar as panquecas hoje?
— Eu!
— Eu!
          Olhei para Albrey.
— Você também está convidado a vir, se quiser.
         Ele me olhou de volta com um sorriso.
— Eu não perderia isso por nada nessa vida.

Alma SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora