Dezessete

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        Melinda Watson

    A porta estava apenas encostada. Droga, algo não cheirava bem.
— Quem você acha que esteve aqui? — Vlad perguntou calmo.
— De uma coisa eu sei, não foi um vampiro.
— Darks?
— Talvez.
— Posso pedir a Penny para vir dar uma checada se você quiser — ele falou.
       Olhei em volta. Nada fora do lugar, nada quebrado.
— Vieram procurando alguma coisa...
— O que seria?
        Olhei para Vladimir, que me encarava confuso. Dei de ombros, incapaz de responder.
       Subi as escadas, seguindo a direção do cheiro, e assim que percebi o caminho, corri. Se tivesse um coração, con certeza ele estaria me moendo as costelas nesse momento.
— Merda!
       O assoalho estava arrancado, e havia um bilhete na porta do baú. Que estava vazio.
— O que houve?
— Levaram...
— Levaram? Levaram o quê?
        Solucei em seco, não acreditando naquilo.
— As cartas que Manfred e eu trocamos. Os diários, e o quadro dele. Levaram tudo! Mas por quê? Por quê?
        Vladimir ficou em silêncio por um momento, antes de se abaixar ao meu lado.
— O que elas poderiam estar querendo com isso?
— Eu não sei! Eu realmente não sei! Aquelas cadelas! Estou ferrada, é isso. Se elas mandarem isso para os Imperius, estou frita. Vão me condenar por adultério, vou morrer, estou frita!
— Calma, Mel. Ei, não podem condenar você por uma coisa de quase três séculos!
        Fiquei ali encarando aquela caixa vazia, enquanto imaginava o que foi feito com os papéis.
— Vamos para casa.
— O que quiser.
         Dei uma ultima olhada no bilhete, antes de deixá-lo sobre o baú.

  "A vingança, um prato frio, minha doce Mel..."

     
        Albrey estava esperando por nós, brincando com Vick enquanto ela ria sem parar.
— Albrey? — Vladimir chamou. — Aconteceu alguma coisa com Penny ou os outros?
— Não — Albrey negou. — Ela está bem, todos estão. Preciso conversar com vocês em particular.
— É claro, vamos ao escritório, por favor.
       Vladimir liderou, com Albrey logo atrás e eu fechando a fila.
       Albrey não quis se sentar. Vladimir e eu tampouco quisemos. A tensão revestia os ombros de Albrey, e mesmo inconsciente eu já imaginava o motivo daquilo.
— Você esconderia isso de mim a vida toda?
       Ele olhou em cheio para mim, e pisquei. Vladimir me olhou, confuso ainda.
— Eu ia contar... Talvez um dia distante — falei. — E não dessa forma.
— Um dia, talvez. Incrível, eu diria — Albrey sorriu ironicamente. — E enquanto isso, eu seria o grande idiota da história, certo?
— Ninguém te acha um idiota, Albrey — neguei com calma. — Por que ninguém sabe a verdadeira história, a não ser seu pai, Vladimir e eu, juro.
       Vladimir finalmente compreendeu, enquanto Albrey cruzava os braços sobre o peito.
— Fico realmente aliviado que ninguém saiba, veja como me sinto feliz por isso. Qual é essa verdadeira historia que só vocês três sabem? Não me diga que na verdade não sou seu filho.
         Engoli em seco.
— Você é meu filho sim. Herdeiro de sangue de Manfred Potter. Você só foi criado por Eliette Potter, pois o verdadeiro filho dela morreu assim que nasceu, e você nasceu logo em seguida. Seu pai implorou para que eu fizesse a troca. Eu não tinha nada para te dar, já ela... Você seria um Potter legítimo, veja bem. Fui afastada do reino, e Vladimir me deu a chance de viver ao seu lado, e de te dar a imortalidade. Fim.
       Ele me encarou, parecendo não acreditar no que ouvia.
— Você matou ela?
— Não! Claro que não! Como pode pensar isso?
— Por que não fez dela uma vampira também?
— Pois eu não quis — Vladimir falou. — Eu proibi Melinda de transformar qualquer um sem minha autorização. No fim, isso não funcionou bem, já que ela trouxe Percy para o nosso lado. Você foi o único consentimento que concedi à ela naquela época,
— Por quê?
— Eu não queria ter que lidar com vampiros novatos assassinando por aí. Você e Percy já causaram danos quase inexplicáveis.
         Albrey sacudiu a cabeça, visivelmente desapontado.
— Acho que isso pertence a você ...
        Ele me jogou um envelope pardo, antes de se dirigir para a saída.
— Onde você vai?
— Algum lugar. De preferência onde me tratem com transparência.
         Observei ele sair, antes de rasgar o envelope e pegar os papéis que me foram roubados.
         Albrey estava magoado. Ferido e sentindo-se enganado. Não era algo muito bom, em se tratando de um vampiro de menos de duzentos anos.

Alma SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora