Seis

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            Albrey Potter

      Parei assim que estava longe o suficiente, e encostei o carro.
      Meu peito estava em chamas, e eu aceitaria a morte ali, agora, sem hesitar.
     Penny. Minha Penny. O amor da minha vida. E eu a mandei procurar outro amor para sua vida.
      Tudo pela segurança dela, lembrei das palavras de Vladimir. Ele tinha razão. Agora que ela era a rainha, eu devia me afastar.
        Mas isso não queria dizer muita coisa. Droga, eu a amava. Como iria superar isso? Algum dia? Não. Vampiros não superam. As mudanças e sentimentos são eternos quando se trata de nós.
       Meu telefone tocou.
— Me diga que já saiu!
— Sim, estou fora já.
— Ótimo, então venha logo, sua passagem está comprada e eu quero voce longe do país até o fim do dia.
         Vladimir desligou na minha cara, e senti a raiva me tomar. Claro, ele queria evitar a burrice que ele mesmo cometeu, alguns anos atrás, mas estava cometendo uma maior ainda separando um casal que se ama.
       Encontrei Percy em seu quarto, olhando para o nada, com as cortinas vedadas por causa do sol e as luzes apagadas.
— Ela nunca mais vai voltar...
      O sussurro dele era carregado da minha própria dor, multiplicada por duzentos.
— Eu sinto muito, irmão. Eu realmente sinto muito.
— Como foi com Penny?
        Fiz uma careta, a agonia voltando a consumir meu peito sem piedade.
— Horrível. É inexplicável a dor que senti ao ver a dor em seus olhos. Quase fiquei e lutei por nós. Eu quis ficar. Eu nunca quis ficar por ninguém, mas por ela... Por ela eu enfrentaria o sol.
— Pelo menos você teve chance de se despedir de sua amada — Percy sussurrou sem alegria. — Ao contrário de mim, que imaginava poder ver Elisabeth outra vez antes do fim.
           Elisabeth realmente tinha desaparecido. Sem deixar rastos ou qualquer sinal, seu avião sumiu no ar, e esperar era a única opção.
— Sinto muito, seu vazio é maior que o meu, com certeza — falei.
— Mas não torna o seu inexpressivo — Percy segurou meu ombro. — Eu e você estamos no mesmo barco, apenas em pontas diferentes, Albrey.
— Sim, claro. Preciso fazer minhas malas, antes que Vladimir me coloque naquele avião pelado.
— Você sabe que não precisa realmente ir...
— Eu quero — garanti. — Eu ficarei melhor longe de tudo isso. Longe dela. Será mais fácil superar.
— Fácil para quem?
— Para...
        Parei, olhando em seus olhos.
— Para ninguém.
— Foi o que eu imaginei.
         Subi para o  meu quarto, e arrumei minhas malas com roupas diversas. Peguei meu passaporte, documentos e cartões de crédito e desci para a sala.
       Melinda estava ao lado de Vladimir, olhando para mim com uma expressão chorosa.
— Ah, Albrey... Eu sinto muito, pelos dois.
— Obrigado, Melinda.
— Albrey, preciso...
— Eu entendo seus motivos, Vladimir — garanti. — E eu até aceito-os. Apenas está sendo difícil para mim fazer isso agora.
— Sinto muito.
       Percy me abraçou, dando-me tapinhas nas costas. Melinda me deu um beijo nas duas bochechas. Outros também me abraçaram, e olhei em volta. Esperar por Penny ali seria loucura, mas eu ainda olhava para a porta esperando que ela entrasse.
— Nos vemos por ai.
— Até.
       Percy me levou até o aeroporto junto com Melinda. Esperamos pelo avião, e quando meu vôo foi anunciado, me levantei.
— Eu volto meu irmão, eu volto — prometi a Percy, que concordou. — Cuide bem da Mel e da nossa familia.
— Eu cuidarei, prometo.
        Caminhei rumo ao setor de embarque, e em meu último vislumbre de ambos, os dois estavam abraçados me dando adeus.

Alma SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora