Vinte e Dois

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            Percy Potter

       A sala estava cheia e agitada. Em um canto, Albrey tomava lentamente um copo de whisky puro.
      Penny estava do outro lado da sala, conversando com Ashley.
— A noite não foi boa?
       Albrey olhou para cima, quando perguntei isso em voz alta para ele. Havia muita conversa, e ninguém estava prestando atenção. Mas mesmo assim, Albrey correu os olhos pela sala.
— Me sinto como se tivesse violentado a pobre moça, pelo jeito que ela me tratou ao acordar — ele sorriu sem alegria para mim.
— As mulheres são mesmo muito confusas — eu concordei desanimado.
— Luma não vai voltar mais, não é? — Albrey perguntou.
        Olhei para Amy, que brincava animada com os primos em um canto.
— Temo por Amy. Ela pergunta pela mãe todos os dias — confessei. — Não sei se sou a melhor escolha para cuidar dela. Sou um vampiro, você sabe disso.
— Mantenha-se longe das professoras gostosas e das mães das futuras amiguinhas de escola, e você se dará bem como pai.
         Tive que rir do comentário sarcástico de Albrey, e olhei em volta.
— Ela e você... Vocês...?
— Sim. Nós passamos a noite juntos — ele respondeu depois de hesitar um momento. — Mas aí ela acordou, disse que foi um erro, blablabla. Quem deveria dizer isso era eu,mas parece que os papéis estão invertidos agora.
— Irmão, se ela não te quer, não vale a pena se flagelar por isso. Siga em frente, procure alguém que aceite seu amor. Tantas vampiras no mundo, precisa mesmo ser uma bruxa complicada?
        Ele me olhou.
— Você diria o mesmo se Lisa voltasse e dissesse não para você?
       Gelei por um segundo, olhando em seus olhos cristalinos.
— Eu lutaria por um tempo, mas depois, quando ela me desse a certeza de que acabou, eu partiria.
       Albrey olhou para Penny por um segundo.
— Acho que me dizer que dormir comigo foi um erro é prova suficiente de que ela não me quer mais....
       Concordei com um aceno. Albrey olhou para ela uma ultima vez, antes de assentir.
— Seguir em frente... Seguir.
        Melinda levantou e foi para o meio da sala naquele momento, interrompendo o que eu ia dizer a ele.
— Fomos convocados. A guerra começou de verdade, não existe saída — Melinda falou alto e claro. — Um bilhete foi deixado, para nós.
         Ela desdobrou uma folha de papel e leu:
— "À meia-noite, nos encontre nesse campo endereçado aqui. A guerra começa agora, dentinhos de porcelana..."
       Houve um silêncio profundo, causando arrepios em muitos ali. Havia algo de ameaçador e sombrio naquelas palavras, que superava o carma "vampiros que bebem sangue humano".
        Logo depois a sala explodiu em exclamações e gritos apavorados.
— Estamos mortos!
— Droga, como vamos nos livrar delas?
— As Darks vão acabar conosco!
— Já chega!
        O último comando veio de Penny, que subiu na plataforma montada por Melinda, a expressão séria e fria, calma.
— É exatamente isso o que elas querem! Assustar, amedrontar, fazer com que fiquemos todos malucos antes da hora. Está na hora de verdadeiramente unir nossas raças e lutar por aquilo que achamos certo, por nossas famílias, ou por algo que valha a pena!
        Murmúrios de concordância subiu da massa.
— Aqueles que quiserem fugir, partir enquanto é tempo, o faça agora. Não iremos obrigar ninguém a lutar, não é certo. Os que quiserem ficar, esqueçam que somos bruxos e vampiros, pois nessa batalha seremos todos um só.
— Se cairmos...?
— Não vamos cair — Penny falou com ferocidade. — O que nós temos é bem maior e mais forte do que o que elas tem.
— E o que temos?
— Amor de verdade. Amizades que superam preconceito. E respeito mútuos, que fazem de nós melhores do que fomos.
        Mais um silêncio profundo preencheu a sala, e o primeiro a levantar foi Albrey.
— Eu vou lutar, pelo meu filho, e pelo futuro que desejo ter.
       Me levantei também.
— Vou lutar pela minha filha, e o futuro que desejo a todos nós...
       Logo todos na grande sala estavam de pé, prestando seu apoio à rainha. Por um minúsculo segundo ela olhou para Albrey e sorriu, ao passo que ele retribuiu prontamente.
        Aqueles dois podiam negar o quanto quisessem, mas a verdade estava em seus olhos, e o amor quase transbordava deles a cada troca de olhar entre os dois.
         Mas longe de mim interferir.
         Afinal, eu tinha uma guerra para vencer...

Alma SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora