Alma Sombria

Doze

         

       A casa estava vazia. O cheiro de abandono se impregnava nas paredes e nos móveis de forma parasitária.
— Vou olhar lá em cima.
— Fique à vontade.
        Arrastei os dedos sobre o sofá, encarando as pinturas nas paredes. O vestido cinza farfalhava no chão, e um pequeno sorriso me escapou.
         O piano estava a um canto, onde me sentei delicadamente. Abri-o e acariciei as teclas. A música suave fluiu pela casa, enquanto eu sentia algo escorrer por meus ouvidos, invadir minha mente.
         Mudei para algo mais agressivo, mais sombrio, mais perverso. Podia sentir a maldade escorrendo em meus dedos. Cheguei até ali, até o antro de bondade que um dia foi a casa daqueles idiotas.
— Venha ver isso aqui.
        Segui-a pela casa, subindo os degraus silenciosamente. Entramos em um quarto que ignorei completamente, a não ser pelo baú arrancado do assoalho.
         Ela me estendeu alguns papéis, que li devagar. Um largo sorriso se espalhou pelo meu rosto. Sim, ali estava algo para desestruturar as bases de alguns vampiros inocentes.
— Guarde isso. Vamos levar.
        Desci as escadas de novo, indo dessa vez para a esquerda. Havia um escritório ali, com uma janela que apontava para o jardim da frente.
        Parei ali, olhando o sol pintado contra o azul claro. Um dos poucos dias de sol que tínhamos. Com certeza algo para se aproveitar, mas não para mim. Eu queria a escuridão. Queria sentir o desespero de todos, o medo.
        E já estava conseguindo isso. Afinal, apenas motivos urgentes fariam as Fusion concordarem em fazer alianças com vampiros.
         Peguei um bloco de notas e uma caneta e deixei um pequeno recado para os donos da casa. Claro, se eles receberam eu não poderia dizer, mas seria divertido vê-los quebrando a cabeça para desvendar quem estava por trás daquilo tudo.
— Vamos embora, pessoal. Já achei o suficiente para acabar com dois coelhos em uma cartolada só.
       E me retirei dali, deixando a nota pregada no baú vazio.
       Eles iriam encontrar...