Lisa Stone
Hayna claramente não esperava a minha volta, pois estava em meu trono, usando minha coroa.
— Ora, ora, ora. Não imaginei que você deixaria sua maravilhosa família para voltar ao antro de maldade, como eles nos chamam.
— Posso bem ver isso, já que se apossou do meu lugar tão logo te dei as costas. Você é como todos eles, uma traidorazinha imbecil.
Hayna rosnou, os olhos inflamados de ódio.
— Nunca mais fale assim comigo, garotinha. Não se esqueça de que fui eu quem te salvou naquela ilha!
— Está querendo falar de gratidão comigo, titia?
Minha risada divertida ecoou como um tapa pela sala, deixando Hayna ainda mais indignada.
— Se eu fosse você, teria um pouco mais de cuidado, sobrinha querida. Eles não estão se lixando para se você está bem ou mal, e eu posso te mandar para o inferno com uma mão nas costas.
Ergui minha sobrancelha com um meio sorriso perverso, que aprendi com ela, por sinal.
— Tente, eu adoraria ver.
Ela ergueu a mão, mas fui mais rápida do que ela. Hayna voou no ar, batendo contra uma parede, e caindo em um monte desgovernado no canto.
A coroa caiu, girando até eu a parar com o pé. Hayna me olhou furiosa.
— Agora você me paga!
Todas as facas naquela sala se ergueram, e foram lançadas em minha direção. Não me apavorei, não usei magia, apenas esperei.
Quando elas estavam perto o suficiente, pulei no ar, girando meu corpo com os braços achatados ao longo da cintura. As facas passaram por mim, mal e mal tocando minha pele, para se fincarem na parede oposta.
— Agora eu acredito que te subestimei, Elisabeth.
Dei um sorriso torto, erguendo no ar apenas uma faca, que girou e ondulou, vibrando com o poder.
— Eu poderia matar você — eu falei, contemplativa. — E acabaria com isso muito rápido, por sinal.
Hayna deu um passo para trás. Seus olhos se alternavam, entre mim e a faca que girava no ar.
— Imagino que não tenha tanta graça assim, matar de uma vez. A tortura parece-me algo mais justo, para alguém que já causou tantos males por aí, você não concorda comigo?
— É isso, não é? — Hayna me olhou surpresa. — Você não é má por que foi a escolhida da profecia como a Stone que daria lugar à escuridão. Você está se vingando de todos que já te feriram.
Engoli em seco, sentindo o ódio percorrer minhas veias. Meus olhos ganharam novo foco, me dizendo que estavam tão prateados quanto a faca no ar.
— Isso é pior do que a escuridão. Vingança irá te consumir para sempre, eternamente, sem nunca findar esse desejo de sangue que você...
— O QUÊ VOCÊ SABE SOBRE ISSO? ME DIGA O QUE VOCÊ ENTENDE? — gritei, avançando até estar dois passos dela.
Hayna deu dois passos para trás, olhos arregalados e pulso alterado.
— Eu também agi para me vingar um dia, Elisabeth. E isso me deixou como sou hoje, fria e sem coração.
Parei, piscando tolamente.
— Você pode estar mentindo para mim — acusei.
— Não, não estou. E na verdade, nem sei porque estou contando isso para você agora. Não te interessa, nem a mim mais.
Olhei para ela, com outros olhos agora. Olhei para ela e vi não uma bruxa que nasceu malvada, cruel. Mas sim alguém que foi muito magoada, e que por fim se deixou consumir pela escuridão que lhe foi imposta no caminho.
— Eu sinto muito — falei em voz baixa. — Sei o que você sentiu, pois estou nesse mesmo caminho agora.
— Esse é o destino, não? Uma irmã tem que se magoar até o final, para que possa entregar sua alma às trevas e cumprir a maldita profecia imposta por nossos antepassados.
O tom de Hayna foi amargo, e por um momento me perguntei se era isso que ela sonhou para ela um dia.
— Talvez... Talvez essa escuridão possa ser vencida, se deixarmos essa vida e tentarmos de novo em algum outro lugar.
Ela me olhou.
— Ir embora? Para sempre?
Neguei.
— Para sempre é muito tempo. Só até conseguirmos deixar nossas identidades para trás. Viver outra vida, outros sonhos.
— E as Darks?
— Esqueça as Darks — eu sorri. — Elas não existiriam se nós não fôssemos nós, não é? Mudar de vida, quer dizer que teremos que deixar tudo para trás. Tudo mesmo.
Hayna pensou um minuto, olhando em meus olhos.
— Eu sempre quis ter uma filha, antes de me tornar uma Darks — ela por fim sorriu animada.
— Bem, vamos morar bem longe daqui. Onde eles serão incapazes de nos atormentar.
Ela concordou, e fomos arrumar nossas malas.
Afinal, tínhamos o direito de escolher como viver nossa escuridão. E decidimos assim...
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Alma Sombria
RandomAs coisas mudaram. Elisabeth Stone não pode mais ser uma mercenária e amar abertamente seu vampiro Percy Potter. Junto com sua linhagem bruxa vem também uma importante missão: a coroa de rainha das Fusion. E como rainha, Lisa deve ser o exe...