Elisie cobriu a boca com as mãos feridas, os olhos engessados de horror, não havia uma explicação e nem se procurasse no mundo inteiro encontraria uma resposta para tal insanidade. O belo homem loiro se fora dando lugar a uma forma horrenda e diabólica se contorcendo como se seus ossos estivessem soltos, ele se jogou bruscamente no chão, os ossos saindo pelos ombros, às roupas sendo rasgadas pelas garras negras. Os gritos agonizantes do que ainda era a voz de seu marido a deixou petrificada no chão, assustada e preocupada.
Por fim, quando os gritos cessaram, e uma grossa fumaça negra rodopiava por todo o corpo, ele se levantou contorcendo os braços e a encarou.
Deu um passo rápido ficando a um palmo de distância dela, e sorriu debilmente exibindo os dentes pontudos.
― Seu coração está retumbando em meus ouvidos... Que delícia. ― revelou passando a língua roxa entre os lábios secos, e entortando a cabeça como um pássaro confuso ergueu a mão.
― Estranho... Fascinante... você não é como as outras. ― os olhos dela permaneciam encarando o monstro, enquanto silenciosas lágrimas desciam por suas bochechas.
― Por que não grita? ― soprou próximo ao ouvido dela, e finalmente tocou-lhe o rosto, a mão era áspera, seca e a fumaça negra acariciou sua bochecha.
Gomon arregalou os olhos ao sentir a pele quente, uma sensação familiar, ele piscou algumas vezes, suas correntes se apertaram no coração de Dixon, ele a segurou pelo pescoço, a sensação de reconhecimento foi mais forte. Os olhos piscaram involuntariamente; soltando um urro de dor ele se aproximou até tocar a sua testa na dela. Ela parecia uma fogueira em brasas o queimando.
As íris surgiram lentamente adquirindo um tom azulado até se transformar em lindos olhos azuis. Parecia um animal selvagem sendo domado.
―L-Laura... ― desse o monstro, a voz falhando. As mãos que a segurava sangravam. Ela lhe queimava a pele. ― cu-cure-nos... ― conseguiu dizer aquilo que durante cinquenta anos lutava para conseguir dizer.
― Q-quem é você?― perguntou em um fio de voz, a fera tentou sorrir, mas às pressas cortaram-lhe os lábios.
― Ele... precisa...você ― disse fechando os olhos, gotas de sangue escorriam por sua testa colada na dela.
― N-não sou Laura― ele abriu os olhos e se afastou um pouco para encarar profundamente o rosto aterrorizado dela que via emoção nos dele, o que em nenhum instante Elisie tinha visto no olhar do Cordial. Esse olhar recheado de azul tinha tanta emoção contida dentro dele que por um momento ela quis abraçá-lo, conter o sofrimento que vazava como lágrimas.
― Não mais... ― disse por fim afrouxando o aperto e escorregando até cair aos pés dela.
Sem força nas pernas ela caiu também, abraçou o próprio corpo enquanto via a fumaça cobri-lo inteiro, como se ele fosse uma lagarta em seu casulo. Ela desejou fugir, mas algo em seu coração bondoso dizia para não ir, não deixá-lo sozinho.
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Príncipe Cordial
FantasyEle surgiu quando o nome podre de seu hospedeiro foi dito em lábios ingênuos e puros. Era uma fera, um monstro que necessitava roubar a pureza de vidas jovens e belas. Buscou a cura em todos os cantos, mas essa parecia mais e mais inexistente, exaus...