Ao longe já era possível ver os restos do que sobrará do muro de entrada da cidade do reino caído, Alex desceu do cavalo, ajudou Melinda a descer e em seguida tomou um pouco de água, depois se aproximou de Elisie, mas antes de alcançá-la, Dixon se aproximou e a envolveu pela cintura a descendo do cavalo. ― Vamos passar a noite, ao amanhecer continuamos. ― disse ele disfarçando sem constrangimento. ― Não seria mais seguro passar a noite na cidade? Do que ao redor da floresta? ― Alteza, de fato, é o certo a se fazer, estamos com duas mulheres, é perigoso, nem tanto pelos bichos dos bruxos, e sim pelos ladrões noturnos. ― disse um guarda concordando com as palavras de Melinda. Soltando uma lufada de ar, o príncipe olhou a noite se aproximando, depois olhou a floresta ao redor, eles teriam que dormir no canto da estrada, ladrões noturnos fugindo da cidade ou entrando na cidade os veriam. A contra gosto concordou. Exaustos pararam na primeira estalagem, jogaram cinco dakios de prata para o dono que os levou para um enorme quarto com duas camas de casal velhas, em seguida uma senhora com o vestido desbotado e sujo de gordura bateu na porta carregando uma bandeja com o jantar. Dixon não tocou na comida, havia carne em tudo, se duvidasse ela estaria escondida até na água amarelada que veio acompanhada da comida. Alex sumiu pela janela assim que terminou, Melinda se acomodou em uma das camas, os guardas sentaram ao lado da porta com as mãos nas espadas e adormeceram logo em seguida, e Elisie e Dixon ficaram lá sentados sem saber o que fazer, sem palavras para dissipar o silêncio. ― Meu marido, você não está com fome? ― Não, estou bem... hum... vá dormir, amanhã será uma longa viagem. ― O que aconteceu naquela noite eu... ― começou ela se levantando, ele fez o mesmo a interrompendo: ― Foi minha culpa, me perdoe eu não... ― Não, foi minha culpa também... foi eu quem disse para sermos amigos, e amigos não fazem isso... ou fazem? ― ela se aproximou, os olhos castanhos brilhando de desejo. ― N-não, eles não fazem aquilo... mas acho que nos dois podemos, não é? ― Podemos?― ele se aproximou; o desejo ficando mais forte, os olhos presos um no outro, hipnotizados, ela deu mais um passo, a respiração dele lhe acariciou a bochecha. Alex estava certo, ela estava começando a ter sentimentos por ele, seu marido. Ele ergueu a mão para puxá-la para si e lhe roubar os lábios que o enlouqueciam, todavia, Alex pulou para dentro do quarto, olhou os dois parados a caminho de um beijo, engoliu em seco, cerrou o maxilar e abaixou a cabeça como envergonhado demais para saber o que eles estavam fazendo. Elisie se afastou, Dixon engoliu em seco. E naquele silêncio espasmódico em que nenhum deles queria ser o primeiro a falar, foram dormir cada um em um canto. ♦♦♦ Assim que saíram da cidade Melinda desmaiou e quase caia do cavalo se não fosse por Tron estar próximo e a segurar. Pararam em uma pequena casa no meio do nada, ignorando os perigos daquele lugar sinistro. Uma senhora gorducha e seu marido, um bruxo os ajudaram. Levaram Melinda até o minúsculo quarto que tinha uma porta para o quintal. Ela despertou por volta das cinco da tarde, seu rosto estava pálido, e encharcado de suor frio. Melinda se levantou atordoada olhando em volta, Elisie tocou em seu braço na tentativa de acalmála, mas ela se afastou e correu para o quintal onde Dixon e Alex tinham uma conversa hostil. Assim que o Cordial viu a concubina ao seu lado a segurou pela cintura de modo protetor, Elisie fechou os punhos seguindo até eles. ― Deve ser o calor, ela veste esses vestidos cheios e inchados no verão. ― sugeriu Elisie próxima de Alex, Melinda choramingou. O Cordial a ergueu e a levou novamente até o quarto. ― Há um médico curandeiro na cidade. Eu o chamarei. ― disse a esposa do bruxo vestindo a sua capa, Melinda gritou um não engasgado se contorcendo de dor. ― Fique quieta criança, você não está bem, precisa de um médico. Quando o médico chegou, Melinda tinha desmaiado novamente, ele a examinou, trocou algumas palavras com o Cordial que sussurrava algumas coisas e então se levantou, lançou um olhar sem significado para os outros três que o observava e então disse: ― Ela está bem, só precisa descansar da longa viagem. E trocar esse vestido quente por um mais leve e com menos panos. ― e passou por eles seguindo até a saída, no entanto se virou antes de sumir porta a fora e disse gentilmente: ― Espero que ela não dê a luz à criança em Florkya. Para o bem dela. ― e se foi deixando uma Elisie perplexa se apoiando em Alex. ♦♦♦ ― Cretino! ― gritou pela quarta vez erguendo a mão sem realmente a atingir contra a face do homem calmo a sua frente. Ele esperou que ela continuasse, todavia ela abaixou o olhar e com as mãos na cintura girou algumas vezes em um circulo grande, lembrando quando Lerya cortou metade dos panos do vestido deixando apenas dois, revelando assim uma barriga enorme que de alguma forma Melinda conseguiu manter escondida por tanto tempo. ― Continue, eu tenho quase certeza que você não me arrastou para dentro dessa floresta somente para me chamar de cretino. ― Elisie bufou como um urso enraivecido e o lançou um de seus olhares ferozes. ― Cale a boca! Eu não te dei permissão para falar. ― Ok. ― Você é um cretino, eu pedi, eu pedi para não engravidá-la. E agora? Eu sou a rainha infértil? A que não deu o herdeiro legítimo ao temido Cordial? Você sabe o quanto eu fui desprezada? Primeiro foi por ser filha de uma plebéia, segundo por ser mulher. Agora terei que sofrer por não ser a mãe do príncipe herdeiro? Você acha que eu aguento ainda mais desprezo? ― perguntou por fim quase em prantos. ― Elisie... ― Se cale! ― A verdade é que... ― Não diga! Eu não me importo mais. ― ele bufou impaciente e cruzou os braços pela pontada no peito antes de dizer quase em um grito histérico: ― Por que está incomodada? Eu não toquei em você. Você não queria ser tocada por não me amar. Ok, Eu não a toquei, mas eu precisava de um herdeiro para que os ministros não lhe dessem pressão. Agora você está livre do trabalho de me dar um herdeiro, ele já existe. ― ela o lançou um olhar carregado de ódio e magoa e fazendo uma careta de dor ergueu as saias e correu para longe. Ele gritou, pediu que voltasse, mas a humilhação lhe tapou os ouvidos, só queria desaparecer. ♦♦♦ Por que foi correr para o lado errado? Por que fez tal loucura? Como voltaria para onde os demais? E se um Faminto a encontrasse? Ela conseguiria correr de olhos fechados floresta a fora? Ou se um pássaro de espinhos se assustasse com o medo que ela estava exalando? E disparasse seus espinhos enormes contra ela do céu? Pensava ela tentando encontrar o caminho de volta, tremia mais do que já tremera em toda vida, e as pernas estavam ao ponto de lhe deixar pela fraqueza. Um corvo novamente berrou no alto de um galho, como se estive a seguindo há algum tempo, e ela não tinha dúvidas de que sim, ele a estava seguindo, ela não serei ingênua ao pensar que não. O vento cantava uma música fúnebre junto com as árvores que pareciam soltar gritinhos agonizantes entre si. Elisie parou, olhou para cima aterrorizada demais para continuar. Respirou pesadamente, abraçou o próprio corpo, se mais coisas estranhas acontecessem, ela cairia em prantos, ou melhor, teria um ataque e morreria antes de ser morta. Escutou estalos atrás dela, se virou na esperança de que fosse Dixon ou Alex. Não eram eles, as lágrimas caíram como chuva inesperada. Ele se aproximou, as unhas tortas e escurecidas coçavam a cicatriz grotesca no meio do rosto e os olhos observavam Elisie como se ela fosse um fantasma, mas isso era o que ele desejava. Que ela fosse um fantasma e não a viva esposa do Cordial. ― Meu amor, que bom vê-la de novo... viva. Ela soltou um grito involuntário espantando vários pássaros e animais estranhos que correram para dentro das árvores ou fugiram para o céu. Ele abriu um sorriso, fazendo a cicatriz se esticar. ― Você me magoa em todos os nossos encontros, Oh! Elisie, minha cheirosa Elisie, por que tem que ser tão histérica? Seja minha caladinha. Está bem? Não foi para isso que veio até a minha área? ― Não f-foi você que me seguiu? ― Eu jurava que você estava morta, eu chorei a viagem inteira de volta para casa, não na verdade eu mandei um capanga chorar em meu lugar, entende, para fazer valer o meu luto. Mas agora estou feliz, minha alma gêmea está viva, eu ainda tenho um par. Venha, deixe-me possuí-la. Quanto mais rápido fizermos isso, mais rápido você me dará um filho que eu com prazer devorarei na caverna das poções. Se quiser eu lhe dou os dedos, os dedos da mão é claro, os dos pés tem o poder de me fazer imortal, enfim, venha, façamos a floresta nossa testemunha. ― Não chegue perto! Eu não sou sua, e nunca serei sua. Seu monstro repugnante. ― cuspiu Elisie enojada. Em um passo ele já estava a um palmo de distância dela, agarrado ao seu pescoço sufocando-a, ela tossiu. ― Repita. Você o quê? Não é minha? Poupe-me. ― ele tinha um sorriso débil, ela endureceu o olhar. ― Não sou sua. Escórias como você não podem amar. ― ele lhe soltou a empurrando para longe, ela caiu girando no chão até bater com a cabeça contra uma pedra. ― Você é minha, verá isso depois que eu a possuir, você será tão minha que me pedirá para ser seu. ― ele rasgou a camisa longa e se aproximou, Elisie estava zonza, a imagem dele se distorcia e se formava dois, três, cinco dele. Ele lhe rasgou a primeira camada do vestido, depois a segunda, Elisie afastava as mãos dele, mas a força de suas mãos já tinha se esvaído, e em um sussurro desesperado ela chamou por ele, seu marido, com uma centelha de esperança quase morta em seu coração apavorado.
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Príncipe Cordial
FantastikEle surgiu quando o nome podre de seu hospedeiro foi dito em lábios ingênuos e puros. Era uma fera, um monstro que necessitava roubar a pureza de vidas jovens e belas. Buscou a cura em todos os cantos, mas essa parecia mais e mais inexistente, exaus...