Capítulo 20

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O dia já estava acabando e eles no meio do mato procurando Melinda, um dos bruxos criou um cachorro de pedras que seguia farejando a concubina. Os outros bruxos transformaram as mãos em cabeças de cães que rosnavam e latiam assim que sentiam o cheiro da fivela do cabelo de Melinda em um dos caminhos que seguiam.
Um lobo de três olhos surgiu no caminho deles, em seguida outros surgiram detrás de árvores tortas, uivavam, rosnavam com os dentes pingando uma gosma amarelada e venenosa enquanto davam lentos e astutos passos para perto dos invasores.
― Não se mexa alteza. Vamos queimá-los. ― disse Eviel, o bruxo mais velho antes de dar a ordem aos outro para queimar os animais, que não foram rápidos o bastante para fugir das labaredas alaranjadas que saiam dos dedos dos bruxos.
Continuaram seu caminho desviando de lobos flamejantes gritando de dor, por fim, Dixon atento ao cachorro de pedra o viu erguer a cabeça e olhar atento para a esquerda, depois correr para lá, Dixon o seguiu sem esperar os outro que ainda olhavam para trás.
Havia uma cabana no meio da floresta, não, cabana não, seria grosseiro com o construtor dessa casa linda e enorme. Tinha três janelas do lado esquerdo, e duas do lado direito, era toda construída com tijolos laranja, e janelas em forma de arco.
Os bruxos se abaixaram atrás da moita que o príncipe estavam, Tron foi o único que se dirigiu ao príncipe:
― É suspeito, não é, alteza? Uma casa dentro da floresta, isso cheira a magia.
― É magia, sinto o cheiro forte. É magia de vários bruxos possuídos pelo mal. ― explicou Eviel se agachando com eles.
Dixon ia perguntar se poderiam ser do bando M quando a porta se abriu, e um velho saiu segurando uma bengala. Ele esticou as costas, esfregou o nariz e como se sentisse que era observado se virou para Dixon. Os olhos profundos e castanhos quase sem cor encaravam o mato cobrindo o príncipe, porém para o Cordial aqueles olhos repulsivos o encaravam com ódio. Como há muitos anos...
Esse rei inútil, o povo está morrendo lá fora, os ladrões tomaram posse de quase toda Darkeng e ele lá em sua biblioteca lendo alguma estupidez, ou seja, lá o que ele faz. E a rainha aquela lenta mulher abatida vive a chorar nos cantos pelos filhos mortos. ― assim diziam os ministros e servos do castelo, tinham medo daquele homem, tinham nojo e ainda mais ódio, matou toda a família apenas para roubar o trono; pobres príncipes que não chegaram se quer, a saber, o que era um rei ou um príncipe, eram crianças ingênuas, irmãos e sobrinhos desse rei abominável. E seus filhos? Matou tantos filhos que não se podia contar nas mãos. Ele olhou nos olhos no último filho, o que por insistência e
lágrimas da mãe ele permitiu que chegasse aos sete anos.
O menino loiro e sorridente só queria receber um elogio ou um abraço do pai, não sabia dos planos dele para com ele. Ele abriu um sorriso ainda com frestas entre os dentes e disse estendendo uma rã desesperada para fugir.
― Papai, olhe! Ela estava na sala de banho, ela ia pular em Ramon que correu como um louco; foi engraçado, ele tem medo de rãs, papai. O senhor tem medo de rãs? ― Mercúrio olhou com escárnio o bicho se contorcendo e deu as costas ao menino, que pensou que sim, seu pai tinha medo de rãs e então correu e a encostou na roupa do rei. Mercúrio se virou possesso e estapeou a mão do garoto que derrubou o animal, em seguida ele a pisoteou e estapeou o rosto de Dixon que já não sorria. Carregava o olhar perplexo e assustado de alguém diante de seu algoz.
― Eu já não te disse? Não me toque criatura imunda. Não me toque, não fale comigo e nem me chame assim. Eu não sou seu pai, eu sou seu inimigo, você nasceu
para morrer. Lembre-se disso. ― ele rosnou sentindo que Gomon estava prestes a tomar seu corpo e se foi antes de matar aquele desgraçado que ousava rir perto dele. Ele odiava risos, sorrisos, odiava crianças mais que qualquer coisa. Elas o lembravam que ele não pode ser criança, não completamente por causa de Gomon, e sim por ter ficado tanto tempo apodrecendo dentro de uma torre sem janelas enquanto Gomon tratava de sugar sua energia interminável e lhe cortar as entranhas a cada bulício de emoções.
Mas isso estaria perto do fim, ele tinha encontrado Miriam, ela a tão inacreditável bruxa iria tirar aquela criatura e colocar no pirralho irritante, e dessa vez ela não falharia como das outras vezes.
No aniversario de sete anos a mãe lhe deu de presente uma flor, pequena e roxa, ele olhou aquela flor e uma lágrima escorreu de seu olho antes de erguer a cabeça e encarar sua mãe que lutava contra as lágrimas.
― M-mamãe... é uma ervilha de cheiro...u-uma flor de despedida.― ela se forçou a sorrir e mentiu secando as lágrimas dele:
― Sim, meu pequeno Cordial, é uma flor de despedida... estamos nos despedindo do seus seis aninhos. Agora meu bebê é um rapazinho grande. ― ele abriu a boca em surpresa e sorriu balançando a cabeça em compreensão:
― Ah! Entendo, eu sou mesmo um rapaz, não rapazinho.
― Sim, isso mesmo. ― Anamélia lutava contra as lágrimas, mordeu o lábio inferior e abraçou seu filho para poder secar as lágrimas sem que ele visse, assim que se soltou dele uma serva entrou no quarto.
― Príncipe Dixon, seu pai o rei o chama. ― o pequeno Cordial abriu o maior sorriso que já abriu em toda a vida e olhou da serva para a mão, se enchendo de alegria.
― Mãe, papai quer falar comigo, ele lembrou-se do meu aniversário... ― ela se limitou a balançar a cabeça e ele correu para fora, sozinha ela caiu no chão soltando gritos de choro de uma vida inteira guardado no peito.
Assim que o garoto entrou na biblioteca antiga e escura, o que recebeu foi um puxão no braço
arrastando-o até o canto da biblioteca onde em seguida foi preso por correntes grossas, as mesmas que eles prendiam os touros na fazenda do conde do sudoeste quando eles estavam possessos e querendo machucar os outros.
― Comece Mirian. ― ordenou o rei no escuro, Dixon fazia força para conseguir ver de quem eram aquelas silhuetas ao redor dele. Então uma se aproximou, era uma mulher descabelada e magra, muito magra. Ela tocou o rosto do menino, suas mãos estavam frias e secas como terra desértica.
― Espero que me perdoe.
― Mirian!― rosnou o rei, ela soltou o garoto e começou seu canto melancólico:Trasformius, transformation... Dê a ele a maldição e de exaustão morrer ao perder o coração. Transferis, tranferions Dê a ele a destruição que pecadores esses de minha outra eu receberam... 

Enquanto ela cantava a fumaça saia de Mercúrio que gritava se contorcendo no chão, algo leve tocou a bochecha rosada de Dixon, depois o beliscou e antes que pudesse se afastar ela já o estava sufocando e tentando entrar em sua boca. O que conseguiu assim que as notas da música se tornaram gritos repetitivos e ensurdecedores. Dixon gritou em meio à dor e o medo. 

Por fim, quando Mercúrio se calou e só os gritos roucos de Dixon permaneceram, Mirian caiu de joelhos, o corpo convulsionando pela força gasta ela olhou os olhos arregalados do menino pela penumbra, seu filho tinha a idade dele e de súbito sentindo pena e culpa, ela completou a maldição...Libertarios, Liverus Se a dor mais forte suportar Quem sabe um dia viverá E o terrível monstro para Jhosef voltará... 

― LIBERTARIOS... ― gritou para fortalecer ainda mais a chance dele se libertar, todavia foi silenciada por um guarda que lhe cortou a cabeça com a espada. 

Dixon tapou a boca, o peito parecia entupido, o ar não queria sair. Aqueles olhos, os olhos de Mercúrio estavam olhando para ele. 

O Cordial caiu, o barulho alertou Mercúrio que assoviou e em menos de segundos todos eles estavam cercados por bruxos possuídos. E andando com um sorriso vertiginoso na direção do príncipe estava o rei, seu monstruoso pai.
                                                                                              ♦♦♦
Elisie passou novamente o pano molhado na testa febril de Alex, estava atordoada, ele não tinha acordado ainda, e Dixon já estava fora a seis horas. Não podia perder ninguém, era certo que ela não gostava de Melinda, e muito menos queria que seu marido fosse atrás dela na floresta de Florkya, apesar disso não desejava a morte dela.
Alex abriu os olhos, e sorriu estranhamente antes de puxar Elisie pelo cotovelo e a jogar na cama e se deitar por cima dela.
― Sabia que é errado uma jovem sozinha com um homem em um quarto? Ainda mais ele não sendo seu marido, e pior ainda você sendo uma mulher casada olhando o peito nu de um inocente homem solteiro? Você sabe os perigos, não sabe? Sabe como eu sou selvagem? Posso ficar ainda mais selvagem quando perco meu controle... ― disse ele apertando os pulsos dela ao redor do corpo e aproximando o rosto do dela que virou para o lado.
― Alex, solte-me. Você não é assim. ― ele deixou seu sorriso morrer e recobrou a consciência, ele jamais agarraria Elisie daquela forma, apesar de que em seu íntimo desejava loucamente.
― D-desculpe, eu não sei o que aconteceu comigo, agi por impulso ao te ver tão deliciosa com esse vestido. ― disse ele se levantado, corou ao notar o que tinha dito e virou o rosto antes de se corrigir:
― Oh! Pelos deuses, não, não foi isso o que eu quis dizer. ― ela saiu da cama, engoliu a vergonha, arrumou o vestido e disse tranquila:
― Não se preocupe, não é você mesmo, na verdade agora é você mesmo, você se tornou um libertino vulgar, temo dizer isso.
― Não estou te entendendo.
― Você sabia que tinha sido arranhado por aquele Mermyos? ― ele abaixou a cabeça como se não quisesse que ela soubesse disso, ela continuou:
― Presumi, eu fiquei algumas horas sofrendo com o veneno dele e quase morri e você ficou assim durante dias e não nos contou, agora terá que viver com essa personalidade promiscua para sempre e essa mecha de cabelo branco.
― Eu não tive a minha personalidade mudada, ainda sou eu. Se ela tivesse mudado eu não teria muitas lembranças, eu seria uma pessoa totalmente diferente. E eu devo ter ficado muito irresistível com uma mecha de cabelo branca,
algumas damas acham cabelos grisalhos algo sedutor.
― Você é forte, Alex, por isso continuou com as lembranças de quem você é, e você não está com os cabelos grisalhos, está com uma mecha branca no canto da testa, isso é estranho. Agora volte para cama, você ainda não está recuperado. ― ele demorou algum tempo para obedecer, estava olhando para ela com o olhar mais promiscuo que Elisie já receberá. Ela engoliu em seco, repetindo mentalmente que ele não estava normal, e com a coragem de uma deusa ela encarou com rigidez o olhar sedutor e disse fria:
― Se deite agora ou te mandarei para a prisão de ossos por incitar o adultério.
― Você fica tão irresistível furiosa... ― disse abrindo um sorriso destruidor de corações, e segundos depois fechou o sorriso e a olhou se sentindo culpado, ela ergueu a mão o impedindo de se desculpar.
― Não se desculpe, isso vai acontecer frequentemente, você é assim agora, só tente não fazer isso comigo, se meu marido ouvir poderá fazer pior do que fez na torre.
― Sim, senhora.

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