Lá estava ela na ponta do precipício fitando o vale e o rio Tristeza, de costas para a lápide do seu mais amado.
Estava a tanto tempo parada ali que a neve que caia preguiçosa se prendia em seus cabelos, e o frio lhe beijava dando-lhe calafrios ao se chocarem com as lágrimas congeladas que escorregavam doloridas em torno de seu magro rosto pálido.
Tentava lembrar-se do rosto do seu primeiro amor, depois de sete meses seu rosto começava a sumir; virar um quadro embaçado, uma pintura incompleta. Ela gostaria de saber o que ele iria pensar ao vê-la agindo como ele, o povo, ah! O povo, esse passara a chamá-la de a princesa feroz, todos os dias quando o sol estava se pondo ela entrava na carruagem e percorria toda a cidade, o sino gritando seu percurso, os plebeus incrédulos e temerosos se fechavam em suas casas.
Ela não fez mal algum a eles, todavia desejava tornar a vida deles tão rígida quando o Cordial era o regente. Ela deu os títulos reais a todos os bruxos e aos guardas que a ajudaram em Florkya, principalmente para Jair, ela deu o título de preceptor do príncipe herdeiro, o mais alto dos títulos, pois foi ele que fugiu para buscar ajuda, lutou com Mermyos, perdeu uma perna ao ser mordido por uma cobra negra, mas mesmo estando quase morto não desistiu até encontrar Bartram, que se encontrava a ponto de voltar para Vrisan, e ele bravamente o levou até a casa no meio da floresta de Mercúrio A velha feiticeira permanecia escondida nos cantos do castelo, Elisie até lhe concedera um quarto, não entendia o que aquela mulher pretendia, mas seguindo a opinião de Alex que afirmava que ela não era má, deixou-a quieta em seus cantos escuros e sinistros.
—Vamos entrar, Elisie. — disse Alex atrás dela, parecia preocupado, na verdade ele vivia preocupado com suas crises de choro, sua tristeza inesgotável. Ela suspirou, e cruzou os braços para espantar o frio. Ela observou as árvores sem folhas serem cobertas pela neve branca, e disse pensativa, mais para si do que para ele:
— Quando o inverno chegar ele vai apagar as memórias daquele que se foi, cobrirá as marcas que ele deixou, a neve cobrirá o mundo como um lençol. Quando o inverno chegar seu jardim murchara de tristeza. Quando o inverno chegar eu vou... eu vou esquecê-lo também, vou ser capaz de sorrir, de ser forte, de ser quem ele deixou. Mas quando a primavera voltar e a primeira ervilha de cheiro nascer... — Elisie engasgou com um soluço, limpou o rosto, e continuou:
— Eu vou me sentar naquele jardim sem flores e sussurrar contendo as lágrimas para aquele que se foi voltar, assim como aquela flor de despedida que nasceu novamente. — Alex fechou as mãos em punhos, ela parecia tão devastada, aquilo o devastou também, pois a amada dele não havia partido, mas era como se tivesse.
Ele abriu a boca, as palavras eu amo você quase saíram, contudo, ele conseguiu se controlar e pediu mais uma vez:
— Vamos, Jeremy precisa de você. — Ela ignorou a tentativa do rei de tentar fazê-la voltar, e continuou com a voz sussurrante e embargada:
—A última lembrança que tenho dele é como um sonho... A imagem é vaga e embaçada, as palavras soltas e confusas. A única coisa que consigo me lembrar das últimas palavras dele foram eu sou a primavera que sumiu no inverno...
— Elisie, por favor, vamos voltar para o castelo, você vem quase todos os dias aqui. Está na hora de esquecer, é melhor esquecer. Você disse que iria esquecer no inverno... —Ela soltou uma gargalhada sem humor, continuou encarando o vale lá em baixo.
— Alex, vá. Eu já vou voltar. — Relutante ele se foi, mas passado alguns minutos os sapatos pisando na neve misturada com as folhas quase decompostas da cerejeira, alertou Elisie de que ele tinha voltado. —Alex, eu vou voltar mais tarde.
—Você precisa ser feliz, não me parece feliz. — disse à voz que ela sonhará por várias noites, a voz que ela ansiava ouvir. A voz do Cordial. As lágrimas inundaram seus olhos, e tomando toda a coragem restante, ela se virou para encara-lo.
—Dixon?
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Príncipe Cordial
FantasyEle surgiu quando o nome podre de seu hospedeiro foi dito em lábios ingênuos e puros. Era uma fera, um monstro que necessitava roubar a pureza de vidas jovens e belas. Buscou a cura em todos os cantos, mas essa parecia mais e mais inexistente, exaus...