Capítulo 14

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Nos instantes seguintes nada aconteceu, ele permanecia desmaiado, os cachorros corriam em meio às flores, Elisie parada na porta sem saber se devia fugir ou enfrentar Gomon. Então sem que a fumaça o envolvesse ou os ossos saíssem do corpo, e nem mesmo as garras medonhas surgissem depois de estalos agonizantes ele se levantou, o cabelo escurecendo até atingir o negro opaco e sem brilho como de um poço profundo. O rosto se tornou ainda mais pálido; o corpo magro atingiu uma desnutrição irreal e então os olhos, olhos azuis no rosto do seu marido, olhos que não devia ser dele, nem de Gomon, de quem é aqueles olhos? Pensou Elisie analisando a fera que não era tão assustadora como Gomon, e mesmo assim lhe causou calafrios. ― Quem é você? ― disse ela, o homem desnutrido e pálido abriu um sorriso que não era dele, era do Cordial, mas que ele quase nunca dava. Era um sorriso que seria bonito se viesse do verdadeiro dono. ― Laura... pensei que nunca mais a veria.― ele se aproximou cambaleante como se estivesse aprendendo a andar, Elisie recuou. ― Eu não sou Laura. ― Sim, você é. Tente lembrar, por favor. Lembrese de mim. ― a voz dele estava esganiçada e carregada de tristeza. ― Quem é Laura? ― Você. ― Não, digo para você, o que ela é para você? ― Minha noiva. ― Como é possível? Você é uma criatura feita por uma bruxa, como pode... ― ele apertou a mão no peito, e fez uma careta de dor antes de interrompê-la: ― Eu... preciso de energia...dói...Ajude-me, Laura.― Elisie olhou duvidosa para ele e após alguns minutos concordou e correu até Ramon que imediatamente mandou um dos guardas levar o bilhete ao vilarejo mais distante. Depois disso, ela não voltou mais ao jardim. ♦♦♦ Ele lhe ajudou a montar no cavalo, depois deu as costas e fez o mesmo com Melinda. Elisie o analisava discretamente por baixo do capuz grosso. Ele não tinha tocado no assunto da noite passada, e ela muito menos, todavia esse era um assunto inevitável. Estava mortalmente envergonhada, tinha o beijado, e nem sabia o motivo de ter o feito. Deveria se desculpar, amigos não faziam esse tipo de coisas, no entanto, mesmo sabendo que não devia, ela tinha gostado e mais intimamente desejava beijá-lo novamente. ― Tudo pronto, precisamos partir antes que todos acordem. ― disse Alex montando em seu cavalo. Ramon desceu as escadas, suado da correria, ainda estava com a touca de dormir e o roupão folgado. ― Alteza, tome cuidado. Florkya não é nada comparado a Vrisan, lá as criaturas feitas pelos bruxos estão em toda parte a espreita para capturar presas fáceis. ― Não se preocupe, estamos acompanhados por um caçador e dois guardas, e eu tenho as garras de Gomon para matar quem ousar atravessar nosso caminho. ― Ramon balançou a cabeça em concordância, Dixon se virou para acompanhar os outros que já se encontravam a meio caminho do portão, então ele se lembrou de algo e virou a cabeça para dizer a Ramon: ― No cofre debaixo do criado mudo do lado direito dos meus aposentos há um documento, caso eu... caso eu não volte, pegue ele e mostre aos ministros. ― dito isso esporeou o cavalo e seguiu até os outros, deixando Ramon inseguro e preocupado. ♦♦♦ Os arbustos dançavam ao som e a força dos ventos, os pássaros voavam por cima das copas das árvores, despreocupados, o único som entre eles era o dos cascos dos cavalos. Elisie suspirou ruidosamente. Queria falar, puxar assunto, dissipar a tensão mórbida que se estendia sobre eles como uma grossa capa apertada que os prendia a respiração. Alex pareceu perceber seu desconforto e diminuiu a distância entre eles. ― Ande mais próxima de nos, ou pode se perder dos outros. ― Não se preocupe, não sou tão lerda assim. ― ele encolheu os ombros, e se corrigiu em um resmungo ofendido: ― Não quis dizer isso, eu só... ― Eu sei Alex, desculpe, eu apenas estou irritada. ― Entendo. A causa da sua irritação talvez seja aquele que vai ali à frente?― Elisie ruborizou virando o rosto para o outro lado. ― Conte-me, somos amigos não somos? ― ela apertou o couro das embocaduras e ponderou por alguns segundos se devia contar ou não, decidiu contar, estava intrigada com tantas coisas e com o que tinha acontecido na noite passada, precisava desesperadamente de alguém para desabafar. Ela soprou e colocou uma mecha atrás da orelha antes de lançar um olhar sério a Alex. ― Você nunca contará isso a ninguém? ― Jamais, se eu o fizer vossa alteza me condene por traição e me mate no pântano de ossos. ― Não seja tão exagerado. ― ela gargalhou alto fazendo Dixon olhar para trás por alguns instantes com o maxilar travado, parecia que iria parar e esperar que ela o alcança-se, no entanto ele virou para frente de novo e pareceu acelerar os passos do cavalo. ― Aconteceu algo na noite passada... enquanto estávamos na estufa, eu... ― ela corou um pouco mais, e terminou em um murmúrio quase inaudível: ― Eu e ele nos beijamos, na verdade eu o beijei... eu quis beijá-lo. ― Alex ficou inexpressivo, o olhar atento na estrada, como se pensando no que dizer. Ela completou: ― É normal... querer beijar alguém? ― ele se voltou para ela, deu um sorriso trêmulo e perguntou com a voz vazia: ― Você quer me beijar? ― Não. ― respondeu no mesmo instante como se o mero pensamento de beijá-lo fosse insano e impossível, ele engoliu em seco parecendo distraído com o caminho. ― Então você está começando a ter sentimentos por ele. Vamos parar na cachoeira. ― gritou para todos, e esporeou o cavalo deixando os demais para trás, e uma Elisie perplexa olhando a nuvem de poeira que ele deixou para trás. Logo os outros chegaram até Alex, que se encontrava com as canelas enfiadas dentro da água fria, enquanto molhava o rosto e os cabelos. A cachoeira não era tão alta, era um baixo escorrega liso que arrastava a água com graciosidade e ao final a derrubava com força fazendo estrondos na rocha perfurada. Elisie tentou conversar com Alex outra vez, pedir que ele explicasse o que tinha dito, todavia ele sempre estava ocupado ou conversando com os guardas que os acompanhavam. Já que a noite se aproximava, decidiram por passar a noite lá. Dixon fez uma fogueira e Alex assou alguns peixes que os guardas pescaram, e as mulheres se sentaram ao redor da fogueira para se aquecer, não conversaram. Elisie ainda não gostava de Melinda, não sabia exatamente o porquê não gostava dela, seria por ela ser a concubina de seu marido? Ou por ela ter humilhado a princesa naquele dia na entrada do castelo? Ou pela forma cínica que ela a olhava? Por mais que tentasse, não sabia o motivo certo. Somente sentia-se incomodada pela presença da mulher. Alex se aproximou trazendo dois pratos bem preparados com arroz, salada e peixe para elas, Melinda se levantou apertando a barriga com uma mão e com a outra a boca. ― O que houve? Está sentindo alguma coisa? ― perguntou Elisie se levantando também. No entanto a resposta veio de seu marido que se aproximou de Melinda contornando a cintura dela com o braço em um gesto carinhoso. ― Ela não gosta de peixe, venha, eu trouxe alguns de meus legumes e frutas. ― foi inevitável que a boca da princesa se abrisse em assombro e desgosto, como ele poderia saber o que ela podia ou não podia comer? Logo ele que não se importava com ninguém além de si próprio e de sua dor inesgotável?Alex percebeu sua raiva e pôs o prato diante dos olhos dela e abriu um largo sorriso antes de cantarolar: ― É tudo nosso... ♦♦♦ ―Esse lago ainda faz parte do rio Tristeza? Eu não fazia ideia do quanto era grande. ― admirou-se encarando o lago agitado pela cachoeira. As curtas ondas brilhavam ao luar, Alex concordou com um balançar de cabeça observando junto com ela. ― Ele é o maior de Vrisan, tem uma parte em cada reino. Menos em Nox eu acho. ― Por que rio Tristeza? ― ele baixou o olhar, antes de murmurar desesperado para mudar de assunto ― Você não vai gostar da história por trás desse nome. ― Elisie apoiou os braços nos joelhos e com as mãos apoiou a cabeça antes de piscar fazendo charme. ― Não sei, eu nunca ouvi, então conte-me professor, e no fim direi se gostei ou não. ― ele gargalhou ao observá-la, ela tapou-lhe a boca, olhando atrás deles, onde Melinda e Dixon dormiam profundamente. Ele se deu conta e assentiu soltando a mão dela. ― Você sempre faz isso, vou lhe morder da próxima vez. ― Conte logo a história. ― balançando a cabeça em negativa ele estralou a língua antes de começar, as palavras eram como espinhos passando por sua garganta: ― Lembrasse dos filhos roubados de Bruxins? Pois bem, essa história envolve o filho mais novo, Dortignis. Ele vivia observando no alto da colina uma linda jovem, que sempre se sentava debaixo de uma cerejeira esperando ansiosamente por alguém. Ele imediatamente se apaixonou e seguiu até ela, ordenando que se casasse com ele, ela negou dizendo que já tinha alguém em seu coração, triste ele voltou para casa, e nos dias seguintes quando passava pela colina ela continuava lá, esperando alguém, até que se passou um ano, e novamente levado pela paixão foi até ela. Implorou para que ela se casasse com ele, dessa vez ela foi rude e o mandou embora. Frustrado o pobre bruxo pediu a seu pai, que na época ele não sabia que era seu tio, para amaldiçoá-la com seu poder, pois era mais forte do que o dele. O deus concordou, pois ninguém podia rejeitar um semideus. Então ele pediu ao garoto para tentar uma última vez, e se a jovem desse a mesma resposta era para ele dizer antes de dar as costas: Você não quis ser minha, agora não será mais de ninguém, não quis meu abraço, agora não vai receber e nem dar abraços a ninguém. ― E o que aconteceu?― perguntou a princesa curiosa, ele fingiu um bocejo. ― Alteza, contarei na próxima oportunidade, vamos dormir, pois manhã o dia será longo e cansativo. ― frustrada ela deu um soco leve no braço dele e fez um biquinho antes de dar as costas e se acomodar na colcha fofa ao lado de Dixon, eles deviam ficar próximos, manter as aparências parecia ser um dos fetiches que o Cordial mais gostava. Alex sorriu, não era de todo mal tê-la como amiga, estava quase se conformando, ou pensava estar. ― Desculpe... você realmente não ia gostar do fim dessa história, Lize. ― murmurou para si mesmo, arrependido, encostando-se a um tronco grosso e cruzando os braços se deixou adormecer. ♦♦♦ O porto era um lugar barulhento, homens grosseiros gritavam de um lado a outro, vendedores ambulantes ofereciam suas mercadorias aos berros, enquanto passageiros corriam apressados para seus navios, ou para suas carruagens; ladrões corriam com sacos cheios de dakios tilintando e mulheres da vida distribuindo sorrisos para os ousados que seguiam pelo beco onde muitas outras entravam tranquilas para dentro de uma construção velha. Guardas usando fardas laranja e preta, as cores do trono de Senlin, circulavam o local fiscalizando as mercadorias. Senlin não permitia armas feitas por bruxos em suas cidades, o que era um trabalho árduo para impedi-las de entrar em seus limites, por causa do alto índice de contrabando. Dixon puxou as rédeas de Elisie que distraída com a movimentação quase foi atropelada por uma carruagem veloz. ― Preste atenção! ― vociferou ele, Alex se aproximou erguendo o capuz do Cordial que havia caído. ―Você também preste atenção. Vamos pela esquerda, um navio de bebidas está partido para Florkya daqui a alguns minutos. ― Não iremos nesse navio. ― revelou o Cordial arrumando a franja, sem a menor vontade de se explicar. ― Por que não, alteza? ― Dixon olhou Alex visivelmente impaciente, e disse como se não fosse nada: ― Eu possuo um navio. ― E por que demônios não nos disse antes? Se tivesse alertado não teríamos cavalgado horas a fio. Duas mulheres estão conosco, você devia ter pelo menos poupado elas do cansaço. ― gritou Alex vermelho de raiva. ― Ora Alex, eu não tenho obrigação de lhe contar nada. Agora vamos. ― Nem eu tenho obrigação de lhe levar até a bruxa. ― Você tem, o prêmio é aquilo que você mais deseja... Então se cale e vamos. ― Alex, não se irrite com ele, sua personalidade é horrível de fato, então apenas ignore. ― sussurrou Elisie tocando no braço do príncipe furioso, que a olhou com olhos bondosos e lhe acariciou a mão tento conhecimento do olhar do Cordial sobre eles. O navio estava distante dos demais, alguns servos saiam com cestos de comida e baldes de água. Eles deixaram os cavalos no ponto de alimentação, onde ficariam até seu retorno sendo cuidados pelos trabalhadores do local, e seguiram para dentro, servos em filas se curvaram antes de guiá-los aos seus devidos quartos. ― Desculpe, teremos que dividir. ― contou Dixon sentado na cama, a gola da camisa aberta revelando a cicatriz enorme. Elisie hesitou na porta, ele completou: ― Não se preocupe, eu não irei exigir nada de você. Nunca. Um pouco mais relaxada ela tirou a capa e se sentou ao lado dele, o coração batia rápido como se estivesse fazendo algo perigoso. Permaneceram em silêncio até que Dixon decidiu se deitar, ela se levantou e seguiu para o outro lado, onde ergueu a coberta e escorregou timidamente para dentro. A respiração de ambos era alta e ruidosa, ela se virou, ele também, se encararam por alguns minutos, desconcertados. ― Você tem medo de mim? Por eu não ser... completamente humano? ― perguntou ele em um sussurro, enquanto seus olhos encaravam inabaláveis os constrangidos olhos castanhos de Elisie, que lutava contra o desejo de desviar, ela fez que não com a cabeça. ― Mas parece que sim, sempre desvia o olhar, afasta as mãos das minhas, me olha como se eu pudesse feri-la. Com Alex você não é assim, você gosta quando ele lhe toca? ― ela engoliu em seco, não era verdade, ela nunca o olhava com medo, era corajosa, sempre repetiu em seu íntimo: era corajosa. ― Eu não tenho medo de você, apenas tenho raiva pela forma como você trata as pessoas. Você é rude, eu sei que você não está acostumado, não precisa repetir, no entanto às vezes é necessário se permitir sentir a humanidade fluir em você. Se deixar tornar humano pelo menos por alguns segundos. ― ele fechou a boca que se abria a cada palavra dela para contrariá-la e entendendo o que ela disse ele rolou para cima dela, as pernas entre as pernas dela e as mãos apoiadas no travesseiro prendendo-a. Ela soltou um grito baixo de espanto e com os olhos arregalados perguntou o que ele estava fazendo. ― Estou tentando sentir, tentando me tornar humano por alguns segundos. Não vou exigir nada além dos seus limites, apenas me deixe ser humano por alguns minutos. ― explicou aproximando-se, a respiração difícil e Gomon lhe sugando a força como uma sanguessuga faminta, ele ignorou o máximo que pode e tocou brevemente os lábios nos dela que virou o rosto, indecisa, ela somente precisava dizer pare e ele pararia. Todavia, quando ela virou o rosto para ele novamente, coragem emanava deles como fogo saindo do vulcão de Saranta. E com uma voz sombria ela disse: ― Se isso te faz se sentir humano, então me beije. Nossa amizade na... ― ele não deu tempo para que ela conclui-se e a beijou até a dor e os gritos do monstro lhe fazer tombar para o outro lado. De olhos fechados e com a respiração como espinhos atravessando o peito ele adormeceu, sem ver quando uma Elisie rígida saiu do quarto. As longas noites seguintes se tornaram tensas e silenciosas, ela fingia dormir quando ele entrava no quarto e parado na soleira da porta observava ela respirar lentamente e só quando tinha certeza de que ela dormia, entrava e se deitava de costas para ela, e quando ele estava no quarto e ela entrava, o mesmo falava sozinho sobre ter se esquecido de fazer isso e aquilo e saia falando sozinho como um velho confuso. Isso durou por dois meses e meio, pois como o navio não estava transportando mercadorias para as ilhas no meio do caminho, não fez pausas, apenas seguiu reto até Florkya. Assim que puseram os pés naquela terra um vento seco e quente lhes estapeou o rosto, como se os alertando de que aquela terra era má e cheia de perversão. Compraram novos cavalos e começaram a penetrar a cidade dos bruxos. Assim que atravessaram a cidade portuária, e entraram na estrada entre a floresta, tinham a estranha sensação de que algo os observava. Como se as árvores tão cheias da perversão dos bruxos possuídos pelo mal lançavam olhares sobre eles, desejando contaminá-los também. Dixon ergueu a mão para que parassem, Elisie começou a tremer, sabia das coisas que existiam em Florkya, e não estava nem um pouco curiosa para vê-los. Um grito soou de dentro da floresta. ― Vocês ouviram? ― desse ele virando-se para os demais. Alex puxou uma espada longa, em alerta, os outros fizeram o mesmo. ― Deve ser uma criatura dos bruxos. Fiquem juntos, eu vou ver o que é. ― disse Dixon pulando do cavalo e se dirigindo para dentro da floresta, Elisie pulou esquecendo o clima estranho entre eles e o segurou pelo braço. ― É perigoso. ― Eu não morrerei, Elisie. Não se preocupe. ― Ah! Por favor, vamos apenas continuar, por que precisa ver o que é? ― Eu irei com você. ― disse Elisie ignorando Melinda, assim como os outros dois. ― Não, deixe-o ir, você é uma mulher indefesa. O que quer que esteja lá dentro é muito perigoso. ― alertou Alex, o coração batia descompassado só de imaginá-la correndo perigo, no entanto para seu desgosto Dixon lhe lançou um sorriso cínico e puxando a adaga em forma de lua crescente a estendeu para ela que sorrindo a pegou. ― Elisie... ― suplicou Alex, ela o lançou um sorriso tranquilizador e seguiu Dixon para dentro da floresta. As árvores tinham formatos estranhos, como velhos secos contorcidos por causa de uma morte agonizante pelo sol fervente. As raízes tinham espinhos grandes que se não vistos podia atravessar os pés dos desatentos. Um corvo gritou no alto de um galho, Elisie recuou um passo assustada, tinha se arrependido de entrar naquele lugar, na verdade tinha se arrependido de ter ido até Florkya. Se fosse realmente como às histórias, sua vida estava correndo perigo em cada respiração trêmula que soltava. Em meio aos ruídos baixos da floresta, ouviram o mesmo grito afogado. Dixon pegou sua mão apertando-a entre a sua mão quente e áspera, ela olhou as mãos unidas, se perguntando se ele já a tinha segurado dessa forma protetora antes. Ele já tinha segurado em sua mão antes, mas dessa vez era diferente, era um aperto caloroso, como se ele a amasse demais para deixá-la longe de seu toque. Seu coração deu um pulo acelerado. ― Fique do meu lado. ― pediu ele olhando em volta. Ela assentiu, mas não teve tempo de se acalmar, pois assim que entraram mais fundo na floresta um som como de risos engasgados e sofridos trouxe uma nova onde de medo, ergueu bravamente a adaga e caminhou junto ao marido. Ele parou, apertou ainda mais a mão dela e se virou para abraçá-la ― Feche os olhos e não os abra até chegarmos à estrada. ― O que é?― sussurrou com o rosto escondido entre a curva do pescoço dele. ― Um Faminto. ― F-Faminto? Aquela criatura que come olhos? ― ele confirmou com um resmungo e a pegou no colo, vendo que ela não conseguiria correr, estava em pânico. ―Vou correr de volta para a estrada, aja o que houver, não olhe para trás. Apavorada demais para cogitar a ideia de abrir minimamente os olhos ela apoiou a cabeça no peito dele e esperou que chegassem à estrada. Alex gritou assim que os viu: ― O que era? ― Um Faminto, uma dúzia deles. Precisamos nos apressar antes que o almoço deles acabe. ― Eles estavam... ― as palavras morreram ali, ela sabia a resposta.

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