CAPÍTULO 12

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 — Eu preciso de um curso intensivo sobre o que aconteceu em Sion na minha ausência — Adeel olhava sério para o primeiro imediato da Enir-7.

Jad chegou à ponte a tempo de ouvir a explicação. Permaneceu calado enquanto o homem de pele morena falava:

— Há vinte anos, como o senhor bem sabe, essas cinco naves entraram no nosso sistema. As bases de Zandrar chegaram a identificar os objetos na altura de Kind, mas a comunicação com Éo foi totalmente suspensa. Depois descobrimos que eles enviaram uma espécie de pulso, que cortou as comunicações.

— Sim, o mesmo pulso eletromagnético que inutilizou os geradores, né? — completou o Major.

— Exatamente. Lefter também sofreu esse tipo de dano. Sion enviou reforços imediatamente, mas tudo já estava destruído quando chegaram, dois dias depois. Milhares de mortos e outras centenas de desaparecidos. Meu pai foi um deles... —levou a mão aos olhos, tentando impedir o choro. — Eu tinha dez anos na época.

— Eu sinto muito — Adeel colocou a mão na coxa de Paki em sinal de empatia. Era estranho pensar nos anos de sofrimento que aquele evento causou, visto que, para ele, só havia acontecido há alguns dias.

— Me desculpe, senhor — o imediato secou as lágrimas dos olhos.

— Não precisa continuar, se não quiser.

— Eu posso — movimentou a cabeça positivamente e rápido, como se quisesse se convencer também. — As colônias foram totalmente destruídas e o Conselho votou por suspender o Programa de Exploração Espacial. O projeto de Colonização de Éo foi suspenso e Satiris voltou a ser explorada para fornecer metal para construir as Sentinelas.

— Sentinelas?

— São naves autômatas, sem tripulantes, que vagam pelo sistema solar em busca de anomalias físicas ou objetos não identificados. São os patrulheiros da nossa galáxia. Foram gastos muitos recursos para implementar o sistema. Sion se preparou para uma guerra, mas os nossos inimigos nunca se apresentaram para o combate, até agora.

Jad se aproximou e sentou na cadeira ao lado de Adeel. Sua testa franzida trazia um misto de raiva e dúvida.

— Vocês colocaram robôs em todo o sistema solar e nunca perceberam um portal pra outro universo bem no nosso quintal?

— Na verdade, Tenente Jad — explicou Paki —, a área de Luctéria era negligenciada desde os acidentes. A Força Aérea perdeu muito do seu prestígio com a população após o desaparecimento da Daid-2, sua nave, e da Sentur-4. Missões à Seúra eram cada vez mais escassas. Depois de um tempo, e isso o próprio Major pode confirmar, já não se falava mais em nenhum investimento além do Cinturão de Kind. O programa de Sentinelas, por conveniência, talvez, seguiu o mesmo preceito.

— Então, o que você está dizendo é que Sion está preparada para um ataque externo — perguntou Adeel bem devagar.

— Não, absolutamente.

O Major olhou para Jad e depois para Paki. Sua expressão era de quem não entendia nada.

— Mas você acabou de falar...

— Que Sion investiu muitos recursos? — interrompeu, com uma risada irônica. — Sim, mas a Guerra não aconteceu. A Força Aérea perdeu ainda mais prestígio depois de todo alarde que fez. As novas armas foram desativadas, o programa de Sentinelas sofreu cortes e as bases avançadas foram reduzidas a pequenos postos de observação, como a de Zandrar, por exemplo. A maior parte dos recursos atuais da Força Aérea são para transporte turístico e comercial. Era isso que estávamos fazendo quando recebemos o seu pedido de ajuda.

Os três permaneceram em silêncio. Era muita coisa para digerir em tão pouco tempo. O mundo de cada um havia acabado de se transformar completamente, e ninguém tinha sequer ideia de como fazer para ajudar.

— Existe alguma linha de comunicação segura que possamos usar para falar com Sion? — perguntou o Major sem muita esperança.

— Nossa criptografia melhorou bastante nesses últimos vinte anos — respondeu o imediato. — Até acho que conseguiríamos enviar uma mensagem segura, mas teríamos que fazê-lo do outro lado, e nossa melhor piloto está trancada na cabine, provavelmente bêbada.

O visor da nave mostrava a fissura magna da Lua de Sangue alienígena, exatamente igual ao corpo celeste que dançava com Seúra. Esta, no entanto, não orbitava nenhum planeta. Ao que parecia, respondia fracamente à gravidade do buraco negro, mas não chegava a estabelecer uma interação orbital propriamente dita. Era um verdadeiro milagre perdido no espaço e, talvez um dia, também acabaria esmagado pelo monstro negro que insiste em seduzir-lhe aos poucos.

— Então chame seu segundo melhor piloto — ordenou Adeel. — Vamos voltar pro nosso mundo.


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