CAPÍTULO 15

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 A análise física durou cerca de duas horas. Paki era ótimo piloto, mas não arriscaria a vida de todos num mergulho cego na Fissura Magna. Adeel concordou que a tarefa devia ser bem estudada, mas já estava ficando sem paciência, assim como o resto da tripulação. A Enir-7 circulou a rocha vermelha pelo menos duas vezes antes que o imediato tomasse coragem para realizar a incursão.

— Se você quiser, eu piloto — propôs o Major em um sussurro discreto.

— Não, não. Eu só estava me preparando — agarrou o manche com força e suspirou fundo. Checou o visor para garantir que todos estavam devidamente acoplados. Uma gota de suor escorreu pela sua testa molhada. É agora ou nunca. Seu coração palpitava tanto que chegou a achar que teria um infarto. Digitou uma sequência no painel e iniciou a contagem regressiva.

As turbinas da nave se reposicionaram e ela assumiu posição vertical em relação ao cânion. Pelos cálculos de Paki, seria mais seguro ultrapassar a fissura em alta velocidade para que os efeitos da radiação fossem minimizados. Não podiam se dar ao luxo de apagar sem saber o quê, ou quem, os esperava do outro lado.

— 3... 2... 1... — O barulho grave das turbinas a toda potência precedeu o choque causado pela inércia. Todos foram jogados para trás devido à força da aceleração. Paki quase soltou o leme no primeiro susto, mas conseguiu manter-se firme. Logo a escuridão tomou conta do visor da nave e não era possível ver absolutamente nada do lado de fora. O painel mostrava a velocidade de 5 CR, o que correspondia a 5% da velocidade da luz. De repente, uma luz branca, ofuscante e quente, tomou conta de tudo. Adeel reconheceu aquela sensação. Havia sentido algo semelhante há cerca de quinze dias.

A nave seguiu acelerando rapidamente. 8, 9, 10 CR. Não existiam cruzadores capazes de chegar a velocidades maiores. Nenhum ônibus espacial siônico havia viajado tão rápido. 12, 14, 16 CR. Paki sentiu necessidade de puxar o manche e tentar barrá-los de alguma forma, mas eles estavam vendo a história acontecer. Era o primeiro grupo de siones a viajar àquela velocidade. 20 CR? Não acredito! Foi a última coisa que o imediato pensou antes de apagar.

A névoa branca que parecia cobrir os olhos de Adeel de repente se dissipou, revelando o interior de uma espécie de sala de experimentos. Paredes claras, cinzas, talvez, traziam instrumentos e monitores com diversos símbolos, que ele já havia visto em algum lugar, só não sabia onde. Mais ninguém estava ali dentro. Pôde ver uma parede espelhada. Ou melhor, quase espelhada. Ela estava à sua esquerda. Havia gente observando. Conseguia ver parte de suas silhuetas. Escutou passos se aproximando e achou melhor fingir que estava desacordado. Ou seria melhor observar o quanto fosse possível? Levantou o pescoço o máximo que conseguiu; o suficiente para enxergar a criatura que se aproximava. Roupa branca e traços sionóides. A acuidade visual não era das melhores, mas ele quase podia reconhecer aquele rosto.

Adeel acordou de seu pesadelo com os gritos de Jad entrando correndo na Ponte de Comando. Não entendia bem o que estava acontecendo. O visor da nave mostrava Seúra distante. Todos já estavam de pé e a cadeira do piloto agora era ocupada por Zahra, com seus cabelos trançados e bagunçados. Ela, de alguma forma, assumiu o controle depois que Paki desmaiou. Isso era bom, mas o Major precisava se concentrar no tumulto.

— Ajudem, por favor — Jad trazia Adamma, a jovem médica, desacordada em seus braços. — Acho que ela não se acoplou direito. — Muitas lágrimas caíam de seus olhos azuis.

— Saiam da frente! — Zahra se aproximou, enquanto o Tenente deitava Adamma no chão da nave. Encostou os dois dedos na pele gelada da mulher de cabelos azuis. — Sem pulso — meneou a cabeça negativamente. — Sem pulso! — soltou alguns risos chorosos, talvez loucos, e emendou um choro silencioso de joelhos.

Há dois metros dali, Adeel observava, atônito, todo o drama. Aproximou-se de Paki, que agora estava sentado no chão, balançando para frente e para trás ao lado da cadeira do piloto, e sussurrou em seu ouvido:

— Você não checou se todos estavam acoplados?

— Tenho certeza que sim — seus olhos miravam a colega morta. — Tenho certeza... Tenho certeza... — ele estava surtando.

Antes que o Major pudesse fazer alguma coisa no meio daquele caos, uma voz fina, quase adolescente, surgiu num instante de silêncio:

— Major, captamos uma enxurrada de mensagens criptografadas. Todas enviadas por Sion após a nossa saída há... — o jovem careca que mexia nos computadores calou-se, assustado.



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VIA MATREA: Lua de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora