CAPÍTULO 18

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 Era difícil descrever os rostos da tripulação quando a Enir-7 aproximou-se de Zat. Um misto de esperança e terror se traduzia em seus olhares cansados. Zahra, por precaução, preferiu pousar em espaço aberto, próximo aos jardins do prédio do Conselho, em vez de seguir em direção à Base Aérea, o ponto de pouso oficial, além das montanhas. Tinha medo de alguma armadilha tardia. A pirâmide, outrora imponente, estava totalmente carbonizada, com suas armações de metal retorcidas pelo calor intenso. Parecia ter sido incendiada pelos invasores. O resto da cidade estava exatamente como haviam deixado, exceto pela ausência de pessoas. Nenhum sinal dos cidadãos, nem dos visitantes.

Paki, sempre cuidadoso, fez a leitura atmosférica antes de saírem da nave. Era para garantir que não acabariam envenenados, explicou para Adeel. Era exagerado, mas a imagem do principal símbolo do planeta destruído à sua frente fez com que todos relevassem a extrema cautela do imediato.

— Acho melhor o senhor permanecer na nave — falou Paki ao Major, que já ajeitava a cadeira de rodas na rampa de saída.

— Nada me impediria de pisar em Sion novamente — ajeitou as pernas e destravou as rodas com força. — Nem esses desgraçados.

Adeel deixou a cadeira deslizar suavemente, descendo a rampa principal de saída da Enir-7, passando por alguns tripulantes que também começavam a deixar a nave. A visão que teve ao passar pela porta foi desconcertante. O esqueleto do que um dia foi o prédio mais importante do mundo era a primeira coisa que podia ser vista. Não conseguia imaginar uma arma capaz de causar aquele estrago todo.

— Major — chamou uma voz no comunicador —, nenhuma assinatura de calor na cidade.

— Devem ter ido pros tais abrigos que o Paki comentou — respondeu Adeel ao operador que estava na nave. — Continue tentando captar alguma coisa.

— Sim, senhor.

Zahra caminhou para longe de onde Adeel estava. Não queria ter outra conversa desagradável com o homem que só a lembrava das escolhas ruins que fizera na vida, que só a fazia pensar nos sentimentos horrorosos que tivera desde que ele desapareceu. Percebeu que, apesar de saberem que as naves dos invasores não estavam mais em Zat, todos os olhares fitavam o céu com certa frequência. Era a tensão e o medo que tomavam conta do ar.

O grupo liderado por Paki, assim como o de Adeel, não encontrou sinais de vida em nenhuma das moradias da região central da cidade. Ao que parecia, a única construção atacada foi o prédio do conselho. O resto de Zat, casas, prédios e parques, continuava intacto. Era uma cidade fantasma. A eletricidade não funcionava, bem como qualquer aparelho eletrônico encontrado. Como não nos protegemos de um segundo pulso? Era a pergunta que o Major mais escutava.

— Talvez tenhamos mais sorte nos abrigos — Adeel ouviu uma tripulante dizer à amiga. Ele concordou em parte. Depois de um ataque daqueles, ninguém sairia tão cedo de um lugar seguro. Porém, já havia passado mais de um ano desde o primeiro contato. Esperava encontrar sinais de reconstrução ou até mesmo de um movimento de resistência.

Fitou Jad ao longe, quieto, sentado num banco de pedra e observando as casas com cuidado. Achou melhor deixá-lo sozinho. Tudo era novo para ele. Em sua fisiologia, fazia menos de dois meses que havia saído de Sion para uma missão espacial. Ser sequestrado, descobrir que perdeu todos com quem se importava e ainda por cima encontrar uma pessoa morta na enfermaria da nave que o resgatou certamente não estava no roteiro de viagem daquele jovem senhor de inacreditáveis 99 anos.

Seguiu pela avenida que circulava a pirâmide em direção às torres trigêmeas, onde ficavam os departamentos de Justiça, do Comércio e das Ciências. Um prédio para cada. Nem percebeu o imediato se aproximar.

VIA MATREA: Lua de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora