Oli, um rapaz com cabelos castanhos longos e pelos demais no rosto para quem tinha apenas dezenove anos, olhou o painel do sonar mais uma vez antes de ir ao banheiro. Estava tudo bem. Desde a segunda grande invasão, os habitantes de Ohm haviam se organizado para evitar novos ataques. A nave principal desaparecera desde que fora alvejada pelo raio do professor Denk, mas agora os invasores enviavam pequenos cruzadores triangulares, que realizavam ataques furtivos a qualquer hora do dia. Havia também os pulsos, ondas de origem desconhecida que atingiam Ohm frequentemente e inviabilizavam o uso de qualquer componente eletrônico. Os cientistas tiveram de encontrar um jeito de fazer a cidade funcionar sem essa tecnologia. A solução foi reciclar. As armas de prótons foram substituídas por canhões de combustão e os sensores de movimento deram lugar aos antigos sonares. Tudo funcionando apenas com corrente contínua, ligada diretamente ao numerílio, carregado a partir de raios e painéis solares modificados. Um sistema simples que, por incrível que pareça, não sofria interferência alguma com os pulsos.
— Oli — alguém chamou do lado de fora da porta —, você deixou o sonar sozinho de novo?
— Eu precisava urinar, e o imbecil que deveria me render está 45 minutos atrasado — respondeu enfurecidamente, enquanto abria a porta de correr para enxergar melhor o rosto do seu irmão gêmeo.
— Calma — levantou as duas mãos. — Eu estava fazendo um chá pra você, irmãozinho — pegou o copo que estava em cima da mesa e o ergueu.
— Stin, você sabe muito bem que eu odeio chá. Custa chegar na hora pelo menos uma vez na vida?
— Não foi minha culpa — sentou-se na cadeira alta, de costas para o painel do sonar —, mas eu te devo uma explicação plausível. Lembra daquela garota morena que você estava afim?
— A do Setor 9? — mudou imediatamente de expressão.
— Nossa! A do Setor 9 também? — deu uma golada em seu chá. — Eu pensei que fosse a menina do 2. Era pra ser surpresa, mas como você me colocou contra a parede... Arrumei um encontro com ela amanhã à noite pra você — balançou a cabeça. — Eu pensando no seu bem-estar e você me acusando. É isso que ganho por ser um ótimo irmão.
— Que menina é essa? — deitou-se no sofá marrom, que ficava de frente para onde o irmão estava. Seu rosto era de total confusão. — Não lembro de ter te falado nada.
— Não falou mesmo, irmãozinho, mas eu leio nas entrelinhas e arranjei um encontro legal pra nós dois — levantou-se e estendeu a mão, esperando um cumprimento.
— Nós dois? — pensou alto. — Setor 2? Você estava de olho na Fazz, né?
Stin continuava com a mão estendida, mas seu rosto ficou mais sério. Falou besteira, e seu irmão começava a descobrir o seu plano.
— É isso mesmo, Olizinho. Eu vou sair com a Fazz e você com a amiga dela.
O rosto de Oli ficou vermelho, os olhos arregalados. Sua respiração podia ser ouvida, cada vez mais rápida.
— Que isso, Oli? — continuou Stin. — Sei que a menina não é muito bonita, mas tenho certeza de que você já saiu com piores.
O jovem barbudo apontou o indicador na direção do irmão, mas este logo percebeu que não era bem para ele, mas para atrás dele. Stin virou-se para olhar o radar. Uma nave se aproximava. Ohm tinha que se preparar.
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