Após levar a tripulação da Enir-7 para um breve passeio de reconhecimento pela rede subterrânea de túneis, que agora passara a ser a casa de milhares de pessoas, o velho chamou Zahra, Jad e Paki para uma reunião mais reservada. Além dele próprio e da Filha, Zétka, prima de Adeel, Ien também chamou os irmãos Oli e Stin, seus aprendizes. Na sala de paredes brancas, iluminada por lâmpadas incandescentes, livres de circuitos, arrumou cuidadosamente a mesa de jantar para que pudessem comer e se colocarem a par dos últimos acontecimentos.
— Essa é a coisa mais legal que já me disseram — disse Oli ao ouvir Paki contar toda a história que viveram até ali. — Vocês deram um salto quântico pra outro universo, viajaram no tempo e viram um buraco negro. Minha nossa!
— Não é tão legal assim — Paki respondeu ao garoto barbudo, que ainda refazia todas as contas nos dedos.
— Então você tem 52 anos — o menino apontou para Adeel —, e você tem 99 — apontou para Jad. — Isso é incrível.
Todos sorriam com a empolgação do rapaz, que realmente parecia entender o que foi dito. Seu irmão gêmeo, Stin, apesar dos mesmos genes e corte de cabelo, não parecia ter compreendido muito bem o que o imediato acabara de falar.
— Então — Adeel interrompeu as gargalhadas, seu rosto era sério —, contamos como chegamos aqui, meu tio. Como vocês conseguiram resistir à invasão?
— Nós? — balançou a cabeça. — Não teve nós nessa história. A nave chegou aqui como em todos os outros lugares. Primeiro o pulso, que apagou tudo, e depois a tempestade de raios vermelhos. Na hora, todos só pensavam em descer para o obrigo, mas o seu pai não. Seu pai foi para a Usina de Raios e ativou um dispositivo que ele mesmo havia inventado. Parecia que ele sabia que isso aconteceria.
— E onde ele está agora? Onde está a minha mãe?
— Ninguém soube direito o que aconteceu — continuou o velho —, mas muitos de nós viram um feixe de luz violeta atingir a parte de baixo da nave. Foi no momento em que aquele calor começou — olhou para os gêmeos e eles confirmaram com a cabeça. — Acho que eles estavam se preparando pra nos atacar. Eu ouvi uma explosão forte e de repente a nave foi embora.
— E o meu pai? Por que ele não está aqui?
— Encontramos o seu pai caído na Usina de Raios após os eventos daquela noite — o homem pôs-se a chorar. — Ele estava morto. Não suportou a radiação. Morreu pra nos salvar.
O Major não podia acreditar naquilo. Seu pai morreu. A pessoa que mais admirava no mundo morreu. Fechou os olhos e deixou a dor no peito e o bolo na garganta tomarem conta de seu corpo. Queria chorar, mas não o faria ali na frente de todos.
— E a minha mãe?
— Ela tinha a saúde frágil. Faleceu há dois meses de causa natural — Zétka respondeu pelo pai, que ainda chorava em silêncio. — Ela não sentiu dor, nem estava mais consciente.
A vontade de chorar aumentou. Olhou ao redor e viu os rostos sérios e pesarosos em sua direção. Ninguém diria nada se chorasse. Todos entenderiam a sua dor. Mas não conseguia. Não podia ser fraco agora. Todos perderam alguém e ele não era diferente. Engoliu a saliva que havia se acumulado na boca e continuou:
— Está bem — secou os olhos úmidos. — O que mais vocês sabem? — todos permaneceram em silêncio. Não era essa reação que esperavam. — Vamos lá, gente. O que mais nós não sabemos? — o silêncio permaneceu. — Vamos lá! — quase gritou.
— Bem... — Stin começou a falar — O pulso vem do norte quase que diariamente, antes dos cruzadores virem. Nós sempre os atacamos, mas são as naves mais rápidas que já vimos. Achamos que a nave gigante que o professor Denk acertou pousou no País 4 ou no 2.
— Mandamos alguns batedores pra lá, mas nunca retornaram — explicou Oli.
— E vocês descobriram a natureza do pulso? Sabem como proteger os equipamentos?
— Não — os gêmeos responderam juntos.
Todos ainda olhavam para Adeel com curiosidade. Como ele não se abalou com a morte do pai?
— Então acho que amanhã de manhã não teremos mais uma nave, né? — concluiu, pensativo.
— No que você está pensando? — Zahra perguntou ao ex-noivo.
— Acho que devemos ir pro norte agora.
— Você enlouqueceu? Não ouviu o que eles disseram? As naves deles são poderosas. Nós morreremos se formos pra lá.
— Eu sei. E essa é a melhor chance que temos de pegar uma nave dessas e descobrirmos pra onde foi o resto dos cidadãos de Sion.
— Você não está pensando direito, precisa descansar.
— Não. Precisamos atacar quando acham que estamos acuados. Voamos bem baixo até os sensores lerem algo. Seguimos por terra e roubamos uma daquelas naves. Elas devem ter um sistema de orientação parecido com o que vimos naquele planeta. Essa é a chave pra encontrar o nosso povo.
— Não acho que seja uma boa ideia, Adeel — sussurrou Jad em seu ouvido.
— Não. É uma péssima ideia, e é por isso que eu acho que pode dar certo. Eles não esperam algo tão estúpido.
***
Os gêmeos acoplaram o canhão à combustão na Enir-7 exatamente onde ficaria a arma de prótons, caso houvesse uma. Adeel convenceu Zahra a deixá-lo pilotar a nave, e todos partiram para o norte numa missão suicida que decidiria os seus destinos. Eles – Zétka, os gêmeos, Zahra, Jad, Paki e Adeel – eram a melhor esperança de Sion.
Voaram muito baixo, a ponto de Zahra querer pegar o manche algumas vezes. Adeel não pilotava uma nave há meses, mas parecia bem confortável no comando. Todos permaneceram na ponte durante a viagem. Paki recontava as histórias para Oli, que parecia se surpreender sempre com as mesmas coisas. Stin permaneceu sentado, observando as curvas de Zétka e imaginando obscenidades.
— Temos três armas, mas não pretendemos usá-las — explicou Adeel para todos mais uma vez. — O plano é pegar a nave. Zahra, você já pilotou tudo quanto é tipo de cruzador. O deles não deve ser tão diferente. Se tiverem dificuldades, sequestrem um deles.
— E se tudo der errado? — perguntou Stin sem muito interesse.
— As chances são grandes, mas eu estarei aqui se precisarem de ajuda. Desativem o pulso e poderemos revidar.
— Eu já disse que essa é a pior ideia do mundo? — comentou Oli.
Todos na ponte riram, exceto Jad, que aparentava estar com medo.
Voaram por quarenta minutos, até que os leitores indicaram a posição da nave invasora.
— Está no País 4 mesmo — Paki conferiu no computador. — A localização está no painel, Major.
— Muito bem. Vou pousar a duas milhas do ponto. Vocês seguem a pé até as naves. Qualquer coisa, me avisem.
Adeel assistiu aos seus companheiros sumindo no horizonte. Agora poderia colocar o seu plano real em ação.
— Agora é com vocês.
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VIA MATREA: Lua de Sangue
Science Fiction"Recomendo demais gente, seríssimo, esse foi um dos melhores livros de autor nacional que li, e com certeza entrou para os meus favoritos do ano" Blog KnowneWorlds Sinopse: Zahra está destruída por dentro desde qu...