O olhar de confusão de Nikolas Lacor não passou despercebido para a jovem assim que ele entrou no quarto, uma hora depois de Rico ter saído. Laura já conseguia movimentar-se com letargia pelo quarto sempre aos olhos atentos da mulher, a qual não falara nada. No momento em que a jovem percebeu a presença do homem, arregalou os olhos assustada.
— Piccolo – Nikolas sorriu ao arregaçar as mangas de sua camisa social – Como está?
— Eu fui sequestrada. Como espera que eu esteja? – Gritou frustrada ao gesticular suas mãos.
— Rapito. E 'uno scherzo? – Nikolas gargalhou – Não deve entender italiano - Comentou com um forte sotaque – Não foi sequestrada. Rico Domeni é o seu tutor legal. Seu tio lhe deu a guarda para ele.
— Tio? Eu não tenho um tio.
— Tem sim – Disse confuso – Seu pai nunca mencionou? De qualquer forma tenho todos os documentos para comprovar.
— Eu não estou entendendo – Murmurou.
— è l'effetto del farmaco? – Nikolas indagou a mulher surpreso com a extrema confusão que Laura demonstrava. Ele já vira casos anteriores em que as pessoas demonstravam confusão horas depois de tomar sedativos, assim como acontecera com Laura. Aquela havia sido a forma que Rico encontrou de viajar evitando perguntas da jovem.
— Nossignore – A mulher respondeu ao dar de ombros. - Forse non è intelligente. – Nikolas gargalhou ao escutar a enfermeira chamar Laura de burra em sua frente.
— Seu pai tem um irmão que mora na Itália. Este homem, Alfredo Guimarães, deixou a sua guarda para Rico Domeni. E foi por este motivo que foi ao seu encontro e que agora está aqui.
— Posso ver esses documentos? – Nikolas assentiu calmo – E meu tio... Posso vê-lo?
— Não – Negou sério. – Isso quem deve decidir é Rico.
— Qual o motivo que leva esse homem a decidir sobre a minha vida? – Perguntou ao encarar Nikolas. – Não sei onde estou ou quem são vocês.
— Ele irá lhe explicar tudo quando assim desejar.
— E o que eu devo fazer enquanto isso? – Sua frustração era evidente assim como sua raiva.
– Trarei os documentos e um dicionário. – Ele olhou a confusão em seu olhar – Está tudo em italiano – Esclareceu antes de sair.
***
O silêncio no quarto de Rico Domeni conseguia ser assustador. Todo o cômodo possuía algum detalhe escuro dando um ar sombrio ao ambiente.Rico permanecia com os olhos fechados ao apreciar a solidão e o silêncio. Encontrava-se em uma poltrona que se localizava em frente a uma grande janela que lhe dava a visão do jardim.
— Deveria falar com ela – Rico não se assustou ao escutar a voz de Nikolas por estar acostumado com as constantes invasões do mesmo. – Ela me parece estar bem confusa e a qualquer momento vai lhe acusar de sequestro – Sorriu divertido diante da situação – O que irá fazer? Estou realmente curioso para descobrir o que o manipulador Domeni fará.
Rico se limitou a fechar os olhos, enquanto sua mente trabalhava com rapidez. Ele tinha pouco tempo para deixar tudo pronto.
— Esteja atento aos movimentos da polícia espanhola – Rico o advertiu – Logo devem estar entrando com algum recurso. Ela não pode sair daqui.
— Não se preocupe, tenho alguns olhos por ai – Piscou travesso – Posso ir para casa ou precisa de mim para algo mais?
— Pode ir – O dispensou sem abrir os olhos. A cabeça de Rico começava a latejar ao pensar nos problemas que teria a partir daquele momento. - Un debito deve essere pagato. – Disse a si mesmo.
***
A enfermeira permanecia sentada próxima a porta impedindo Laura de sair do quarto que agora lhe afligia. Ela já olhara todo o cômodo a procura de algum telefone, mas percebeu não possuir nada para entrar em contato com a polícia.— Sequestro de menor é um crime grave – Laura falou pausadamente ao olhar para a mulher com cuidado – Posso falar que me ajudou, e com certeza eles vão atenuar a sua pena. O que acha? Só preciso de um celular.
A enfermeira a olhou por alguns segundos para em seguida sorrir e começar a folhear o livro que havia levado consigo.
A jovem começou a se desesperar ao escutar passos próximos a porta. Logo que Rico abriu a porta avistou a jovem.
— Ragazza. Quais são suas dúvidas? Está é a única chance de esclarece-las – Avisou com o olhar frio ao cruzar os braços em frente ao seu corpo.
Laura sentiu sua respiração parar ao ser encarada de forma fria. O olhar de Rico Domeni expressava apenas desprezo pela jovem parada a sua frente. Laura o olhou com cautela.
— Estou esperando – A voz de Rico soava autoritária e ameaçadora para a jovem – Caso não tenha perguntas, não a incomodarei mais – Rico estava prestes a lhe dar as costas quando escutou Laura pedindo para esperar.
— O que é tudo isso? – Perguntou inquieta – O outro homem me falou que tenho um tio, mas jamais soube de algo assim. E como posso estar na Itália se não tenho um passaporte? O que está acontecendo realmente?
Rico não suportava as pessoas que dependiam das outras, e olhar para Laura, sentia-se enojado. Ele sentia repulsa pela jovem pelo simples fato dela ser indefesa e chorar a qualquer momento.
— Se o seu pai jamais falou sobre o seu tio, não tenho relação com isso. Seus problemas familiares não me importa – Respondeu duramente – O seu passaporte foi feito dentro da lei, e todas as informações foram fornecidas pelo seu pai e o seu tio anos atrás. Como havia dito, o único motivo que me fez ir atrás de alguém com você foi a promessa que fiz anos atrás.
— Promessa?
— De que cuidaria de você, caso algo acontecesse.
Laura tentou enxergar algo nos olhos de Rico, todavia viu apenas frieza. Ela enxergou a escuridão.
— Isso não é desculpa para me sequestrar. Preciso voltar para resolver o enterro – Murmurou com a voz baixa e visivelmente abalada.
— Não sairá daqui.
— Sou uma prisioneira?
— Se assim desejar pensar – Deu de ombros ao olhar para a enfermeira – Se ela ficar exaltada, pode lhe aplicar um sedativo. – Laura estava prestes a lhe dizer que a enfermeira não entendia o seu idioma quando a mesma respondeu claramente ao sorrir – Ela tem ordens para não conversar com você – Esclareceu com frieza – Mais alguma dúvida?
— Não vou poder ir embora, não é?
— Está aqui como proteção – Lhe disse sério – Nikolas providenciará todos os documentos para que perceba a verdade e o que mais desejar enquanto estiver aqui.
— Isso significa que vou poder ir embora?
— Se os policiais da Espanha forem competentes logo poderá ir, se não até fazer dezoito anos permanecerá ao meu lado. Eu espero que tenha sorte e os policiais sejam bons.
— O que acontecerá se eles não forem?
— Será morta.
Laura empalideceu. O homem a sua frente não demonstrava emoção ou compaixão.
— Que tipo de pessoa é para não conseguir demonstrar nada ao dizer que alguém será morta? – Perguntou aflita.
— Pode chamar de psicopata, sociopata ou alguém racional. Eu não me importo. Permaneça ao meu lado e sobreviva ou fuja e seja morta. São suas únicas opções.
— Eu o odeio – Falou raivosa e em resposta Rico sorriu.
— Me odeie o máximo que conseguir, Ragazza – E em seguida saiu do quarto.
Continua....
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A Herdeira [EM PAUSA]
Любовные романыO cruel e sanguinário Rico Domeni pagava todas as suas dívidas e no momento em que descobriu a morte dos Guimarães soube que deveria arcar com as consequências auxiliando a única herdeira, Laura Guimarães. Ele não se importava com o olhar entristeci...