Proposta

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Laura não fazia ideia de que Rico cumpriria a sua palavra sobre terminar o colégio, mas ao acordar no domingo encontrara um uniforme próximo a cama. O uniforme consistia em uma calça azul folgada e uma blusa branca. Um emblema identificava o colégio, o que a fez estranhar.

Deu de ombros ao se levantar e segurar o uniforme próximo ao seu corpo. Inevitavelmente as lembranças de sua mãe sorrindo para ela a preencheu, não demorando para chorar sem perceber. Suas mãos tentavam enxugar as lagrimas, sem sucesso. Logo os soluços poderiam ser escutados por quem passasse próximo a porta do quarto.

— Me perdoe, mamãe e papai – Murmurou em meio as lagrimas que teimavam em cair pela sua face. Laura não se recordava do tempo em que passara chorando e parou ao sentir que todas suas lagrimas haviam acabado. Seus olhos se encontravam vermelhos. Olhou de relance para o despertador ao lado da cama, sorrindo sem jeito. Sete horas e trinta minutos.

Ergueu-se, colocou o uniforme em cima da cama e seguiu em direção ao banheiro, onde lavou o seu rosto amenizando o máximo que conseguiu. Escovou os dentes e passou a mão pelos cabelos antes de sair do quarto e seguir para a sala de jantar, imaginando a encontrar vazia.

Parou confusa ao olhar Rico sozinho na sala, a sua espera. Não havia empregados como da última vez. Tudo havia sido colocado na mesa.

— Seus olhos ainda estão vermelhos – Rico disse ao encará-la. Não se sentiu constrangido ao vê-la abaixar a cabeça – Sente-se para comer. – Quando a viu continuar parada, suspirou – Não tenho o dia todo, sente-se.

—Por que me esperou? – Questionou com a voz ligeiramente anasalada, ocasionando uma careta no homem a sua frente.

—Não importa – Deu de ombros ao beber o seu café desviando o olhar dela. Ele a esperou sentar-se em seu lugar e somente então fez a pergunta que passava pela sua mente desde que escutara o choro anteriormente – Viu o uniforme? – Ela o olhou antes de assentir. Ele evitara o assunto de propósito. Lagrimas sempre o deixava desconfortável – A partir de amanhã estará em um colégio que ensina em inglês, é um problema? – Ela negou – É difícil encontrar escolas espanholas aqui. Seu histórico deve chegar amanhã. Faltava muito para terminar o colégio?

— Precisava finalizar três matérias. – Laura se lembrou do quanto seus pais se sentiam orgulhosos ao saber de suas notas – Não precisará gastar muito – Apesar de sua voz baixa, Rico a escutou com clareza.

—Não sabe quem eu sou?

— Rico Domeni, meu tutor.

— Além disso – Impaciente respondeu ao lhe observar. Suas reações eram exageradamente simplórias. Ela negou.

— Che cosa insegnano nelle scuole?- Apesar de Laura não o compreender percebeu o seu tom, no qual era nítido o desprezo. – As escolas espanholas não ensinam nada. Sou um investidor e dono de alguns investimentos lucrativos. Possuo uma empresa de tecnologia, então dinheiro não é problema para mim.

Ela assimilou o máximo que conseguiu e nada comentou ao começar a comer.

***
A secretária de Rico o olhou mais uma vez curiosa. Aquela havia sido a segunda vez em que ele chegava cedo ao escritório. Levantou-se da cadeira e seguiu em direção a sala dele com o tablet em mãos contendo todos os seus horários. Em todos os anos em que trabalhavam juntos, nunca o viu ligar para ela solicitando a sua presença na empresa em um final de semana. Sabia que seria recompensada por isso, mas ainda assim estranhou. Abriu a porta sem bater, como fora instruída a fazer quando contratada.

— Senhor Domeni não há nada agendado pela manhã para essa semana, mas posso remarcar algumas reuniões – Soraia Garcia sorriu eficiente ao olhar para o homem carrancudo a sua frente. Todos o temiam, e ela conseguia compreende-los. – Algum problema? – Indagou ao ver o olhar dele fixo em si, algo que jamais acontecera nos quatro anos em que trabalhava para ele.

A Herdeira [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora