Concordância

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Laura descobriu da pior forma possível o quanto o dia poderia se arrastar ao não ter o que fazer. Ela permanecia no quarto inquieta enquanto a enfermeira lhe vigiava. O único motivo por não estar chorando pelos seus pais era para permanecer viva o máximo que conseguia. Seu olhar buscou algo que pudesse manter em mãos para fugir, e se viu frustrada ao descobrir que não havia nada.

Sua paciência começava a lhe cansar quando viu a enfermeira se levantar, abrir a porta e sair sem olhar para ela. Como por um passe de mágica seus olhos se focaram no pequeno objeto reluzente em sua frente.

Seus passos hesitantes a levaram até ele, e assim que o pegou, sorriu. Ela havia encontrado uma tesoura de cortar unha. Olhou para a porta tentada, e assim que segurou na maçaneta percebeu que a sorte estava ao seu lado.

Com extremo cuidado olhou para os lados antes de sair do quarto e se aventurar pela casa. Apertou a tesoura em suas mãos ao ir em direção as escadas. O andar em que estava possuía inúmeras portas e seus passos mantinham-se silenciosos devido ao carpete. Assim que segurou no corrimão da madeira seu olhar focou-se no ultimo lance de escadas e seus ouvidos mantinham-se atentos a qualquer ruído.

Cuidadosamente desceu as escadas sentindo o medo por todo o seu corpo. Ela temia ser pega antes que tivesse uma chance de escapar. No momento em que parou no último degrau percebeu não haver ninguém. Olhou animada para a porta a sua frente, e sem pensar foi ate ela.

Assim que abriu a porta, sorriu ao ver que ela permanecia destrancada, mas antes que pudesse sair sentiu o seu corpo ser agarrado com força e logo se viu indo de encontro a um corpo forte. Sua respiração ofegou ao sentir o aroma inebriante do homem a sua frente.

O olhar de Laura se ergueu em direção ao dono dos braços fortes e ao avistar o gélido olhar de Rico, engoliu em seco. Ela estava perdida.

Com toda a sua força tentou se desvencilhar dele, sem sucesso, pois quanto mais se debatia mais sentia o seu corpo próximo ao dele.

— Ragazza – A voz de Rico a fez vacilar. Ela o temia – Tentando fugir como um rato – O forte sotaque não conseguiu apaziguar a raiva em sua voz. O que mais fazia Rico perder a cabeça era ter pessoas que não o escutava, como a jovem a sua frente.

— Isso é um sequestro – Murmurou inquieta – Se for para me matar ou me vender, faça de uma vez. Não suporto essas mentiras.

Rico piscou confuso antes de aproximar o seu rosto do ouvido dela.

— Se eu quisesse fazer algo assim, já teria feito na Espanha – Se afastou em seguida ficando contente com a palidez de sua face – Já lhe disse que estou lhe protegendo, mas se assim desejar pode retornar para a Espanha.

— Verdade?

— Sim, caso não se importe em ser morta.

Laura tinha consciência de aquela frase havia sido intencional, e infelizmente surtira o efeito esperado. Ela sentia o braço dele em sua cintura e o seu corpo. Logo a vergonha tomou conta de si.

— Está corando, ragazza – Rico sorriu diante do comportamento tolo da jovem antes de soltá-la – Retorne ao seu quarto.

— Aquele não é o meu quarto – Disse ao erguer a pequena tesoura na direção do homem – Exijo que me diga o que está acontecendo.

— Já lhe disse – Deu de ombros tentando aparentar calma. Rico sabia as probabilidades de uma tesoura daquele tamanho ser fatal, e elas eram mínimas. A chance da jovem lhe causar algum ferimento sério dependeria do quanto ela havia prestado atenção nas aulas de biologia no colégio. Dado a sua altura imaginara que o último lugar que ela tentaria seria o pescoço, e a probabilidade maior seria ser atingido nos braços ou tronco. – Caso não esteja confiando em minhas palavras pode ligar para a policial que lhe ajudou.

A Herdeira [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora