CAPÍTULO 19: O primeiro campeonato que ela viu ele perder.

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O silêncio é um barulho assustador. Nada passava pelos ouvidos de Evelin, além de um vazio. Ela olhava para cima e para os lados, e todos com a camisa branca tinham a mesma reação. Em alguns pontos, ela podia ver algumas camisas azuis pulando, se abraçando... Gritando.

As pessoas gritavam e ela não conseguia ouvir. Ao seu lado, sentada na cadeira, Ana estava com uma mão na boca, sem saber o que estava acontecendo. Em pé, com as mãos na cabeça, ela tentava focar no campo à sua frente, mas seus olhos estavam embaçados. Não era a falta de seus óculos corretivos. Era excesso de lágrimas.

Assim como quatro anos antes, ela também chorava em um momento como aquele, mas ali, no Estádio Olímpico de Moscou, as lágrimas eram de tristeza.

Alemanha e Argentina haviam acabado de repetir a final da Copa do Mundo do Brasil. As mesmas seleções. O mesmo resultado. Porém, o vencedor havia sido outro. A Argentina teve a revanche que tanto desejava.

Os jogadores em campo tinham a mesma reação que ela. A maioria estava vagando pelo campo com a mão na cabeça, tentando entender o que havia acontecido. Outros estavam ajoelhados chorando. O sonho de ser pentacampeão foi embora com um gol.

Um gol de Lionel Messi. O gol que ele estava ansioso para fazer havia quatro anos.

Aos poucos a ficha foi caindo para Evelin e o seu ouvido foi recebendo algum tipo de som. Era como se finalmente ela havia se situado onde estava. E era péssimo.

— Eve, o André! — ela sentiu a melhor amiga tocar em seu braço e apontar.

Seu namorado passava no campo, próximo de onde ela estava, de cabeça baixa, mordendo o próprio lábio. Ela desceu alguns degraus e correu na direção dele, o segurando pelo braço. Ele no campo, e ela ainda na arquibancada.

— Liebe.

Ele levantou o rosto e Evelin pôde ver que as lágrimas escorriam pelo rosto dele. Com uma placa de propaganda entre os dois, Eve puxou o namorado e o abraçou. André escondeu o rosto no peito da namorada e deixou as lágrimas caírem. André chorava em silêncio e a namorada passava a mão no cabelo dele.

— Calma... Calma, Dré.

— A culpa é minha — ele comentou e sem que pudesse ver, Evelin negou com a cabeça — Eve... — ele se levantou para olhar a ela — Se eu tivesse feito aquele gol, tínhamos ido para a prorrogação, ou para os pênaltis — ele balançou a cabeça — Eu nunca vou me perdoar por isso.

— Ei! — ela chamou a atenção do namorado — Não faça assim. Você fez o que você pôde. O goleiro deles pegou a bola. Tinha mais nove que podiam ter feito outro gol e não fizeram. A culpa não é sua.

André não respondeu a namorada, ele continuava a chorar e parecia que nada iria fazê-lo mudar de ideia em relação a culpa. Evelin se sentiu enfraquecida e o pior, ela não podia fazer nada para mudar aquela situação.

— Eu queria ter feito um gol e dedicado para você — ele comentou, colocando uma mão ao lado do corpo, e a outra passava no rosto — Me desculpa se eu te decepcionei, se eu não vou ter uma medalha para te dar.

— Não fala isso, André. Eu não preciso de medalha, ou taça, ou ser mais uma vez campeã do mundo.

— Eu estou vendo a decepção nos seus olhos, Evelin. Você está triste.

— Claro que eu estou triste, liebe. Eu estou triste, a Ana está triste, a Alemanha inteira está triste — ela virou ele de frente e passou a mão pelo rosto dele, onde algumas lágrimas ainda caíam — Mas a minha dor maior, não é ver a Argentina ganhar a Copa do Mundo. E daí? No Brasil eram eles nessa situação. Meu problema está em te ver triste, decepcionado e pior, se sentindo culpado por algo que não é culpa sua.

Erstes MalOnde histórias criam vida. Descubra agora