Wendy se sentia invadida, sua bolha de contato humano foi estourada por a menina de cabelo negros que a seguia e não parava de falar. Wendy queria correr daquele lugar, se esconder e ficar apenas em paz.
ㅡ Você está me escutando? - Kim olhava indignada para Wendy, ela murmurou um sim. - Você não está me escutando.
Kim não parava de falar, seguia as ruas acompanhada de Wendy. Sua mão estava machucada ainda pingava o sangue vermelho, que fazia um caminho por onde passavam. Wendy não suportava quem falava demais, seus ouvidos pareciam sangrar.
ㅡ Aqui é sua casa então. - Kim falava admirada pela cor amarelo claro e os detalhes em branco. Ela se colocou na ponta dos pés. - Wow, parece ser grande por dentro.
Wendy não entendia o porquê de uma "desconhecida" a seguir por todos os lados. Ela iria expulsar a menina dali, mas percebe a mão machucada pelos cravos da flor que ela ainda segurava.
ㅡ Quer entrar? - Wendy perguntava abrindo o portão, sem olhar para a garota que se animava ainda mais com a proposta.
Kim continua seguindo Wendy, mas desta vez estava encantada com o pequeno jardim e as flores presentes ali, infelizmente sem vida, mas as cores que elas expressavam era magnífico aos olhos da menor.
Wendy deixou a garota de lado, a busca de esparadrapos para o machucado de Kim. Sem perceber, ela havia se distraído e esquecido de o que procurava, mesmo que tentasse lembrar era impossível.
ㅡ Wendy, vou deixar as flores aqui - Kim gritava da sala, sua voz chegou aos ouvidos de Wendy como um canto suave, fazendo-a lembrar dos esparadrapos.
Os esparadrapos estavam no alto da prateleira, foi necessário subir em uma cadeira para alcança-los. Fazia tempo que Wendy não os usava, não lembrava quando foi a última vez que os usou.
ㅡ Me dê sua mão - Wendy dizia baixo para Kim, que estava comportada sentada no sofá bege da casa.
ㅡ Me senti um pouco ofendida, parece que está chamando um cachorro - Kim fazia um biquinho, mas ao ver que Wendy não estava brincando ela estende a mão.
Wendy senta no chão e cuidadosamente passa um pano com algo que parecia ser para quem estivesse machucado, não sabia direito. Ouvia as vezes Kim reclamar que doía, mas ignorava e continuava a tratar da mão da menina. Por fim, enrola um pano fino na mão de Kim.
ㅡ Obrigada - A menina sorria olhando para a mão machucada.
Começa a guardar as coisas e, novamente, é seguida por Kim que queria conhecer o seu quarto, o seu espaço especial da casa.
ㅡ Você não acha que para uma desconhecida você não quer conhecer coisas demais? - Wendy diz olhando para a garota, que o sorriso no rosto foi desfeito ao ouvir "desconhecida" sair da boca da moça em sua frente. - Tudo bem, me segue.
O rosto choroso quebrou o coração de Wendy, não resistiu e subiu as escadas. Não demorou muito para Kim se encantar com as pinturas do local, ela passava a mão pelos traços feitos por Wendy. Só havia um porém, todos os quadros eram feitos com cores chapadas, sem vida, sem detalhes.
ㅡ Wendy, por que você pinta? - Kim deslizava os dedos em sua última pintura, não estava terminada.
ㅡ Para não me esquecer. - Wendy disse baixo, quase como um sussurro. Mesmo com dificuldades Kim ouve e se cala ao lembrar da infância. - Por que você se importa?
O olhar de Kim se desvia da pintura, um sorriso sincero é esboçado em seu rosto, um sorriso que fez a garota de cabelos curtos não entender o motivo, mas não arriscou perguntar o porquê.
O Sol já estava se pondo, as horas haviam passado muito rápido. As duas meninas não tinham o que falar, apenas se olhavam as vezes sem dizer nada. Kim olha para seu relógio de pulso, já era tarde.ㅡ Você pode vir comigo em um lugar? - Kim olhava os ponteiros se moverem, a cada segundo que passava aumentava sua animação pela a reposta de Wendy.
A maior iria ficar sozinha até de madrugada, por causa do serviço de sua mãe, e não teria nada para fazer. Por mais que Kim fosse apenas uma estranha, Wendy se sentia confortável na companhia da garota.
Ela aceitou o convite. Subiu para seu quarto e buscou uma blusa no meio da confusão de seu guarda-roupa, aquela noite seria fria.
As duas vagavam pelas ruas, Kim surpreendentemente quieta enquanto andavam, poucas palavras dizia e apenas apontava a direção que era para seguir.
ㅡ Chegamos, aqui é minha casa. - Kim abre o portão branco. Era o mesmo local de quando as duas eram crianças, as mudanças que ocorrem eram poucas - Por aqui.
Wendy pensou que elas iam entrar na casa, mas o caminho foi desviado para um canto vazio do quintal. Ali passavam algumas formigas e também dava para ver claramente o céu escurecendo.
ㅡ Você realmente não se lembra? - Kim estava agachada perto das formigas, que levavam os alimentos e terra para o grande formigueiro do local - O trabalho delas gerou resultado, demorou mas valeu a pena.
ㅡ Me desculpe - A voz de Wendy saiu firme, o que fez a menina se levantar e a encarar por alguns segundos, pegou no pulso de Wendy e começou a puxar.Os lugares que passavam traziam uma estranha nostalgia em Wendy, ela não entendia e não se lembrava. Era como se estivesse em um mar sufocante, um mar escuro e sombrio, por mais que ela pense, mais ela é puxada para o fundo desse mar.
ㅡ Aqui - Kim soltava o pulso da garota, sua respiração alterada e cansada - Não se lembra?
ㅡ Kim, eu.. - Wendy ia falar, mas é interrompida pela garota de cabelos negros, seus olhos estavam cheios de lágrima.
ㅡ Você me perguntou o por quê de eu me importar, eu te respondo. Eu fique esperando por você por sete anos, ninguém acreditava que poderia existir uma criança que pensasse nos detalhes das coisas e me deixaram de lado, então fui isolada e mandada para outro país para estudar, eu fiz o meu melhor para que pudesse te encontrar - Kim tentava se manter calma, soluços podiam ser ouvidos e lagrimas a escorrer podiam ser vistas. - Quando eu te reencontrei, pensei que era a Wendy que conhecia, mas você mudou.
ㅡ Kim, me desculpe - Wendy se sentou no chão gelado, soltou um suspiro e deixou o silencio reinar por alguns minutos - Eu não me lembro de quase nada, ou até mesmo nada, da minha infância. Pessoas, lugares, comidas, até de mim mesma eu esqueci. Eu sei que não foi do nada, mas coisas que queria esquecer eu não consigo.
Kim limpa seu rosto e coloca sua respiração no lugar, não sentia ódio de Wendy, mas ser esquecida por alguém era a última coisa que queria sentir novamente. Se senta ao lado de Wendy, que dá uns tapas em seu ombro para a consolar.
ㅡ Kim - Wendy olhava para as estrelas no céu, os brilhos que elas produziam era incrível. Uma dor estranha veio ao seu peito ao lembrar de algumas falas, e aquela sala branca.
ㅡ O que foi, Wendy? - Com o olhar curioso e meio avermelhado, por causa do choro, Kim observava a garota ao seu lado.
ㅡ Me esqueça, quando eu sair daqui, apenas me esqueça.
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Sorry, I forgot
RandomEu vivo em um mar de pessoas, onde constantemente sou puxada para o fundo e lá fico. Nesse fundo do mar tudo que vejo é escuridão, não consigo me lembrar de nada.