Após o acidente de seu pai, Wendy, começou a se comportar diferente com tudo a sua volta. Mesmo sendo apenas uma criança, seu psicológico havia sido abalado de uma forma inexplicável.
Ela havia ficado ainda mais avoada e acabava se esquecendo de tudo facilmente, mas não gostava de demonstrar, pois sabia que sua mãe estava sofrendo ainda mais pela morte e contar aquilo seria como colocar mais água em um copo cheio.
O tempo passou, Wendy foi crescendo e os sintomas ficando cada vez piores. As dores de cabeça por forçar sua memória aumentavam, o que deixava a garota febril alguma das vezes. As vezes se encontrava zonza, apenas por alguém lhe contar o que ela passou e não se lembrava.
Tentará fazer um diário, mas a partir do terceiro dia havia esquecido de escrever nele. Tudo em sua volta não fazia sentido, já que ela iria esquecer achava melhor não se envolver.
ㅡ Filha? - Perguntava Anastácia entrando no quarto e acendendo a luz do abajur. Colocou a mão na testa da garota e ela queimava de febre - Vamos para o médico.
Anastácia ouve um resmungo, Wendy não tinha forças nem para falar. Ela não queria ir para o médico, iria deixar sua mãe preocupada e gastaria com remédios. Wendy tentara lutar, mas foi inútil.
Quando percebeu já estava naquele lugar horrível. O cheiro de hospital e pessoas doentes fez ela se sentir ainda mais doente, seus olhos sonolentos encaravam os casos de emergência que passavam por ali e a correria do hospital para salvar uma vida.
ㅡ Wendy Miller - A moça de jaleco se aproximava da porta, observava os papéis e continua a chamar os outros pacientes do local. - Se sentem aqui, o médico já vai atendê-los.
Assim as pessoas fizeram, se sentaram nas cadeiras brancas do local. Não era confortável e o grande corredor não lhe trazia confiança, era escuro e não dava para ver o fim.
As pessoas do local começaram a falar seus problemas de saúde, como fosse uma competição para ver quem estava pior. Era uma cena deprimente.
ㅡ Vem, filha. - Anastácia tirava a garota de seus pensamentos, o médico estava a chamando.
A sala branca e seu ar gélido davam arrepios por todo o corpo, por mais que tentasse se sentir confortável era impossível. O olhar do médico penetra na menina que se encolhe por trás da mãe, estava com medo do que poderia acontecer. O médico começa as típicas perguntas e examina a garota, era para ser uma simples febre, mas a pergunta que a criança fez mudou o rumo de tudo.
ㅡ Mãe - A garota diz assustada, mais que o comum. - Onde estamos? Por que estou aqui? Por que minha cabeça dói?
A mãe olha assustada, Wendy já tinha seus onze anos e conseguia guardar muitas coisas, era o que Anastácia acreditava. Mesmo sendo óbvio o lugar onde estavam, e mesmo a mãe falado várias vezes sobre o hospital, Wendy havia se esquecido.
ㅡ Isso é estranho, doutor. - Anastácia tremia, Wendy não conseguia entender o que sua mãe falava com o doutor. A mulher sussurava para o homem e olhava as vezes para a criança - Eu havia falado onde ela estava, mas ela se esqueceu muito rapidamente e isso não é comum vindo dela.
ㅡ Isso é realmente estranho, muito difícil ser alzheimer, pois ela não tem nenhuma evidencia disso. - O médico brincava com a caneta em suas mãos, estava pensativo, até que chega em uma conclusão assustadora. - Isso é novo, mande ela para uma consulta ao psiquiatra.
Psiquiatra, Wendy nunca mais queria ouvir falar sobre essa profissão, por mais que tenha a ajudado por alguns meses. Era seu trauma.
No fim do corredor havia a sala da psiquiatra, uma jovem moça com seus cabelos louros entra na sala. A mãe foi expulsa, pois uma conversa a sós seria mais desenvolvedora com a paciente, assim ela poderia contar mais.
O quarto simples era aconchegante no começo das consultas, havia uma janela que dava para ver o fundo do quintal do hospital, a cama estava sempre desarrumada e próxima a mesa da psiquiatra. Havia também umas flores azuis por ali, porém, murchas.
ㅡ Vamos começar a consulta mocinha - Dizia a psiquiatra pegando seu caderno, talvez para anotar os sintomas - Você tem se esquecido das coisas facilmente? Como se sente em relação a isso?
ㅡ É estranho. Não consigo me lembrar principalmente da minha infância, de coisas que aconteceram recentemente e as vezes esqueço até de mim mesma - Embaraçada a garota brincava com os dedos - Antes eu conseguia me lembrar, se me esforçasse, mas agora...
ㅡ Entendo, mas tem algum motivo para isso? - A psiquiatra desviava o olha da folha para o rosto de Wendy - Você não se lembra de nada mesmo?
ㅡ Existe uma coisa - hesitou para falar, as lagrimas surgem nos olhos dela - A morte de meu pai, eu me lembro apenas disso da minha infância, sendo que a única coisa que queria esquecer.
ㅡ Um trauma. - A moça de jaleco passa a mãos no ombro de Wendy, para acalma-la. - Fique aqui, tudo bem.
Ela se retira da sala, deixa a garota encolhida dentre os lençóis da cama do hospital, ela chorava baixo ao lembrar de como gentil era seu pai e se culpava pela morte dele.
A psiquiatra procura por Anastácia, conseguira encontrar a causa de tudo, o problema seria a solução para o caso.
ㅡ Anastácia? - A moça chama a mulher nervosa, ela estava impaciente e apavorada andando pelo corredor - Tenho duas notícias. Eu consegui achar o problema de tudo, mas é um caso raro e muito difícil de ser tratado, pois não existe cura. Tudo que podemos fazer é tardar o problema para que não chegue no estágio avançado rapidamente.
As mãos da mãe tremiam, seus olhos escorriam lágrimas e o desespero toma conta da mulher que não sabia o que fazer, ela chorava desesperadamente.
ㅡ Sua filha não vai morrer, mas com o tempo as memórias serão apagadas, como uma lousa que pode ser apagada facilmente - Tentava explicar de uma forma fácil para entender - Mas memórias como você e coisas que ela gosta, não serão apagadas facilmente. Vamos trabalhar com coisas que ela gosta, para que ela use isso para não se esquecer. Tudo bem?
A partir daquele dia as consultas eram semanais. A sala que era confortável se tornou um pesadelo sem fim, uma prisão que mesmo tendo a porta aberta não poderia fugir, Wendy estava cansada de tudo aquilo.
ㅡ Doutora, posso fazer uma pergunta? - Wendy olhava para a janela ignorando as perguntar feitas pela psiquiatra. A mulher acena a cabeça aceitando a questão de Wendy - Por que nunca me falou o motivo das consultas?
A psiquiatra se levanta e solta um longo suspiro, deixando obvio que seria um assunto difícil de tratar naquele momento.
ㅡ Acho que essa será sua última consulta, Wendy - Ela olha para a janela do local - Vou te falar a verdade, você vai se esquecer de tudo um dia. Tudo que viveu, suas lembranças, das pessoas a sua volta. Se quer um conselho, para não magoar as pessoas, não se deixe criar lembranças.
" Não se deixe criar lembranças " No começo parecia loucura e sem sentido, mas depois de ver Kim chorar, ela lembrou de algo bem distante e que estava guardado em algum lugar de sua cabeça. Era realmente o que a doutora havia falado quando ela era uma criança, ela iria magoar os outros se criassem lembranças.
ㅡ Me esqueça, quando eu sair daqui, apenas me esqueça - Para Wendy seria melhor Kim se magoar naquele momento, do que a menina se esquecer novamente dela. Sua voz saiu sem arrependimentos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sorry, I forgot
RandomEu vivo em um mar de pessoas, onde constantemente sou puxada para o fundo e lá fico. Nesse fundo do mar tudo que vejo é escuridão, não consigo me lembrar de nada.